terça-feira, 31 de agosto de 2010

Demência alcoólica


- E porque é que o internaram, se não diagnosticaram mais que uma bebedeira?
- Ele foi encontrado caído na rua e trazido pelos Bombeiros. Estava como uma dorna, e ficou ali a dormir até ao dia seguinte. Como não se identificou nenhum contacto, e não há apoio do Serviço Social aos feriados e fins-de-semana, internaram-no.

- Pois é! Mas vamos no 6º dia de internamento, e ele está a tirar lugar a quem precisa. Antigamente levavam os bêbados para a cadeia até a bebedeira passar, agora, chamam-lhe intoxicação etílica, e metem-nos nos hospitais até ganharem aspecto de gente, para depois voltarem ao mesmo. O que é que disse a assistente social?
- Disse que quem cuida dele é a mãe, que tem oitenta e dois anos; que vive de uma pequena reforma do tempo em que foi pescador; que há uns dez anos que nada mais faz que beber e fumar; e que tem irmãos, mas pouco se importam com ele.
- Apesar de só ter 52 anos, este grau de demência deve dificultar-lhe o acesso ao álcool e facilitar o controle! Pode ter alta hoje?
- Ela já o referenciou à assistente social da sua área de residência, mas disse que precisava de mais um dia, para orientar as coisas!
- Já agora! ...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Apicultor























- Sr. Dr.! Eu não vou deixar as abelhas! Há 6 anos que sou apicultor, e é das coisas que mais gosto!
- Mesmo correndo o risco de morrer de uma reacção anafiláctica?
- Sr. Dr.! Eu descobri que aquela opressão no peito com que ficava, depois de ter sido picado, era … pânico. E o inchaço não era nada que não se suportasse.
- Sr. Duarte! E a comichão nos olhos, o nariz a pingar, a chiadeira no peito também era pânico? Deixe-se de racionalizações! Fique com as abelhas, mas não se engane! Olhe que a Imunoterapia é eficaz em 98% dos casos.

domingo, 29 de agosto de 2010

MPB4

sábado, 28 de agosto de 2010

Vasco Pulido Valente


Vasco Pulido Valente no Público de 28 de Agosto comenta o Eurobarómetro.

Transcrevo o último parágrafo:

"É curioso como 30 anos de democracia conseguiram levar (ou devolver) os portugueses à irresponsabilidade. A sondagem Eurobarómetro não seria diferente no tempo de Marcelo Caetano e até em certas fases de Salazar. Os resultados revelam um cidadão. proibido ou incapaz de se governar (no caso, de mudar de Governo). Um cidadão sem voto e sem voz, reduzido a acreditar num milagre. Não que ele não queira reformas (60%), mas já aprendeu pela experiência que é inútil esperar que elas se façam de dentro e cá dentro, pelos meios normais que a lei estabeleceu e com a "classe dirigente" que se apropriou do Estado. A salvação virá de uma força superior e, principalmente, estranha à mísera realidade portuguesa. Ou virá assim; ou não virá."

Tenho muita pena em ter de concordar.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ciganos

Que fazer com os Ciganos?

O povo dos “Roma” (a etnia prevalente no nosso país, e actualmente constituída por cerca de 40.000 indivíduos), chegou a Portugal na primeira metade do século XV, oriundo do Paquistão.
É um povo orgulhoso das suas tradições e costumes, que tem resistido a múltiplas perseguições (só os Nazis eliminaram cerca de 500.000).
São a comunidade de maior crescimento demográfico em Portugal (5% ao ano).
A sua principal actividade é a venda nas feiras, mas ultimamente têm sido apontados como os principais protagonistas do tráfico de droga, factos relacionáveis com a elevada taxa de analfabetismo, a inserção profissional prematura no contexto da economia informal, e a não participação socio-política.

A Lei Portuguesa concede-lhes direitos e deveres iguais aos demais cidadãos e muitas famílias ciganas estão dependentes do Rendimento Mínimo Garantido e de programas de realojamento.

A sua história, costumes, crenças, dificuldades, sonhos e esperanças continuam a ser mal compreendidos e desrespeitadas."

NOTA: Em 2010, mais de 2.000.000 de portugueses beneficiam de Abono de Família, Rendimento Social de Inserção e de Subsídio Social de Desemprego.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ser pai e ser médico


- "Oh pai, anda depressa que o Dinky apanhou um passarinho no jardim! Vem depressa!" , e aí vou eu a correr atrás do cão que foge a dar ao rabo de felicidade. - "Dinky! DINKY! AQUI! ... Aqui!", para lhe arrancar um melro flácido da dentadura, perante a expectativa atenta de uma filha de doze anos. - “Oh pai! Tu és médico. Faz qualquer coisa!”, suplica, a medir-me as capacidades, e a obrigar-me a uma solução imediata para pôr cobro àquela aflição.

- “Vamos fazer-lhe uma massagem cardíaca e respiração boca a bico, durante um bocadinho!”, proponho, para que a minha credibilidade não caia. Ela assiste expectante, de olhos bem abertos a todos os meus movimentos. - “Então? pai!”, pergunta ao ver a imobilidade do pássaro. - “Parece melhor!” minto, depois de três bufadelas, a sentir-lhe o mau hálito, enquanto com o polegar lhe comprimo o abdómen, numa técnica improvisada de massagem cardíaca, e, num assomo de lucidez solicito-lhe: – “Vai buscar um bocadinho de água, para lhe passar na cabeça”.
Num ápice desaparece a correr em direcção à cozinha, aos gritos: - “Oh mãeeeeee! Arranja um copo de água para o pai! Depreeeeeeessaaaaaaaa!”
- “Uff!”, digo para mim, enquanto cuspo para o chão o sabor a melro morto, e o atiro para a bouça do vizinho.
Eis que chega, munida de uma tigela de água, que a custo mantém cheia. Pára, vê-me a olhar para fora de casa, e pergunta:.
- “O passarinho, pai? Onde está?”
- “Voou! ... Quando soprei pela quarta vez, começou a esbracejar e fugiu-me da mão! Vês ali à frente naquelas silvas? Vês?”
Não viu, mas ficou a pensar na sorte que é ter um pai médico.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A Coruja
























- “Oh pai! Ali naquela árvore está um pássaro grande. Anda ver!”
Era uma coruja que, em pleno dia, se exibia num galho baixo do carvalho mais próximo da casa, como se alguém a tivesse posto ali como decoração, quieta como uma estátua, dois metros acima de um braço esticado.
- “Só pode estar doente!”, concluímos, ao fim de largos minutos em que lentamente nos deixámos de fazer despercebidos, para depois de uma breve conferência ecológica, telefonarmos para o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente.
Meia hora depois parou um Jeep, com dois jovens fardados, a perguntar pelo bicho.
- “Está ali!”, e ficámos todos a olhar para o ar, a medir distâncias.
Feitas a medições diz um dos jovens: “Vamos telefonar aos Bombeiros, que eles chegam cá num instante com uma escada!”, e num ápice o grupo foi engrossado pelo vermelho das fardas de dois bombeiros.
Esticou-se a escada bem por baixo da coruja, e, quando se tentava o segundo degrau, o bicho bateu asas e voou, deixando-nos de braços caídos a balbuciar palavras esdrúxulas.

Dois dias depois, num passeio pela zona, dou com a coruja a dar banho às patas, na bica da fonte pública. Estava cheia de formigas, com o mesmo ar de estátua. Enfiei-lhe um camaroeiro pela cabeça e, em menos de um "ai Jesus", estava a caminho do Centro de Acolhimento e Tratamento de Aves de Esposende, metida num balde.

Uma semana depois telefonei: – “A coruja está melhor? Sobreviveu?”, que não, que tinha morrido nessa mesma noite, e que ignoravam o resultado da autópsia.
Ainda fiz mais duas tentativas, mas como não obtive resposta suficiente, passei-lhe a certidão de óbito com o diagnóstico de ... "morte DE CAUSA INDETERMINADA". Paz à sua alma.

Hipermercados de Medicina

Ainda vivi o tempo em que a maior parte dos que disponibilizavam serviços, tinha nome. Não havia preço único nem certificação pela CE, a garantia era dada pela honra, e o bom-nome construía-se no dia a dia.

Há uns anos visitei Marraqueche, e nas voltas de turista fui levado a um armazém, onde um touareg me confrontou com um chá de menta a adocicar uma longa conversa sobre tapetes e sobre as generalidades da vida. O negócio terminou quando se atingiu o equilíbrio entre as nossas capacidades económicas e a força dos nossos desejos.

Só anos depois me deu para pensar naquele estar como ... a "garantia do tapete", numa região onde todo o homem que se preza é vendedor, e o “negócio” (nec-otium – negação do ócio) é o cimento social.
...

Ultimamente tenho-me confrontado com práticas tipo "hipermercado de saúde", onde o vendedor se faz vagamente representar pela menina asséptica da caixa registadora. E neste pensar, rebobino o passado e identifico-me com o touareg, que dá a cara pelo negócio, mesmo sabendo que posso estar ... "fora de moda"!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Registos



De repente, as compras da mercearia passaram a ter registo digital. Já poucos trazem um papel para anotar um afazer ou uma qualquer particularidade de que se queiram lembrar. Estamos na época do digital, e quem “é”, saca do “smartphone” e digita.

Nas instituições os computadores são reis. É lá que estão os Protocolos e as Normas, com espaços para preenchimento obrigatório, sem o que não se pode passar para a página seguinte, numa sucessão de sim - não, e de muito - pouco - nada para definir em gavetas a nossa vida. E, quando a complexidade não encaixa nesses campos, sentimo-nos na obrigação de nos formatarmos para que possamos continuar o preenchimento.

O melhor modo de definir uma imagem é desenhá-la, pois no desenho acrescentamos a nossa interpretação, o que não é possível na fotografia. De igual modo um pequeno texto define com mais exactidão uma situação, que um conjunto de páginas digitais com pormenores, pois o “filtro” do autor é um benefício para quem vier a seguir.
Claro que é necessário saber desenhar e escrever, mas é para isso que servem as Escolas.

Só se não acreditamos nas capacidades de quem regista, é que lhe pomos à frente um protocolo, dispondo-nos para abdicar do característico das situações.
Ficamos mais esclarecidos com a meia duzia de palavras com que Miguel Torga definiu uma aldeia perdida em Trás-os-Montes, do início do século XX, in "A Ressurreição" - Contos da Montanha:

"Não há em toda a montanha terra tão desgraçada e tão negra como Saudel. Aquilo nem são casas, nem lá mora gente. São tocas com bichos lá dentro.
Apesar disso, Cristo Nosso Senhor, aos domingos, digna-se visitar a aldeia na pessoa do padre Unhão, que vem rezar missa ao nascer do sol."
...
que com dados sobre o rendimento médio, o nº de assoalhadas por habitação, actividades económicas, ... dessa mesma população.

domingo, 22 de agosto de 2010

Curso Superior / Curso Médio


Só entendo que alguém afirme ter nível de “Curso Superior”, se tem capacidade de individualizar soluções em problemas complexos. Se unicamente aplica “protocolos”, mesmo que o faça com eficiência, atribuo-lhe “Curso Médio”.
Não quero com esta frase tirar valor aos protocolos e a quem os aplica. São tão necessários uns como outros. Mas eles atingem o modo de fazer, e não a decisão de quando e como os aplicar, pois não são universais.

Qualquer desenhador médio é capaz de executar um projecto para uma casa, cumprindo protocolos. Mas uma casa de arquitecto é outra coisa. É fruto de outro saber (que não é só técnico) que lhe permite interpretar os espaços e os fins a que se destina, balizando-se pelo dinheiro que se disponibiliza.

É semelhante a profissão de médico. Identificar a doença e aplicar-lhe um plano terapêutico uniforme, tratando os doentes em linhas de produção como actualmente tende a acontecer com as cirurgias a cataratas ou no tratamento cirúrgico de varizes, hemorróides ou hérnias, onde os operadores não conhecem os doentes, e usam protocolos dirigidos ao órgão, não é trabalho médico. Qualquer indivíduo com curso médio seria suficiente.

Exemplos destes são possíveis em qualquer área do saber, pois dependem da postura de cada um. Ou se é capaz de "criar com qualidade" e se tem “um curso superior” ou se desvaloriza a individualização aplicando protocolos, e se funciona como “curso médio”!

sábado, 21 de agosto de 2010

Segunda opinião médica


Não posso ser mais a favor. Acho até que deviam ser obrigatórias em situações que envolvam risco de morte, como cirurgias de alto grau de complexidade ou onde a atitude inicial condiciona o resultado, como são algumas situações oncológicas.
Tal não significa que não haja problemas graves no diagnóstico e tratamento de outras doenças graves, mas naquelas, há tempo, coisa que na doença aguda, nem sempre existe.

Mas essa segunda opinião deve ser presencial porque “há perguntas a fazer e respostas a dar!” pois o acto médico é um acto individualizado, bem descrito na máxima do Prof William Osler (1849-1919): “Às vezes é mais importante saber que doente tem a doença, que a doença que o doente tem!”, e um bom parecer assenta em pequenos pormenores (que nem todos são capazes de valorizar) que fazem a diferença, e que vão a par do conhecimento científico.

Um parecer técnico dado sobre um texto elaborado por um doente, e sobre análises pedidas por outro médico, vale tanto como um parecer de um Jurista português sobre uma quezília em Marrocos.
É por isso que antevejo que este site: segundaopiniaomedica.pt, apesar de integrar médicos que prezo cientificamente e por quem tenho alguma amizade, disponibiliza um serviço que, a maior parte das vezes, irá criar mais confusão que esclarecer.
Custa 60 Euros e diz resposta em 72 horas.
Não tem o aval da Ordem dos Médicos. Mas tem gente de lá!

Adenda: O doente internado tem direito ao parecer de um outro médico da mesma especialidade, para complementar a informação sobre o seu estado de saúde ou sobre o tratamento proposto. O exercício deste direito, no entanto, deve ficar restrito aos casos graves ou aos de cirurgia electiva, para se obter um benefício real.
No caso de não haver recursos nesse estabelecimento, o doente tem o direito de recorrer a um profissional externo à instituição, mas, neste caso, deverá assegurar o pagamento dos respectivos honorários.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Carinhoso

Marisa Monte e Paulinho da Viola

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Festas da Sra. da Agonia


- Sr. Álvaro faça o favor de entrar. Já o ouvi protestar que está à espera, há hora e meia, mas só agora chegou a sua vez!

- Mas eu não consigo ficar à espera, Sr. Dr.! Já no negócio é igual. Quando vem um cliente espaçado do outro, fico nervoso e tenho que pedir a alguém para vir para o meu lugar. Eu sou feirante, tenho uma roulotte onde vendemos bifanas no pão. Estamos cá para as Festas da Sra. da Agonia. Hoje depois do almoço, senti-me mal, e o meu pessoal chamou a ambulância. E chego aqui e fico este tempo todo à espera!
- Está bem! Mas deram-lhe uma pulseira amarela, e não tem prioridade para passar à frente de todos.

- Então agora, com essas festas e feiras por todo o lado, vocês não páram?!
- É como diz. Ainda ontem o pessoal, deitou-se às 5 da manhã. Eu fui mais cedo para a cama. Quem é a alma daquilo é a minha mulher, que é dezassete anos mais velha que eu. Ela é que faz as compras, os temperos e que dá as ordens. Eu estou mais pela caixa registadora. Chego ao fim do dia, meto o dinheiro num saco e entrego-lho. Se ela me falha, acaba o negócio!
Quando acabar a Senhora da Agonia, vamos para a Festa do Avante. Já pagámos quatro mil Euros, por uma frente de seis metros. Vamos em três carros, com tudo de cá. O pão é de Ponte de Lima (que eles lá, não têm pão como o nosso) e as febras, de Famalicão. Vai tudo preparado, em arcas frigoríficas. Lá é só fazer os temperos, cozinhá-las e metê-las no pão. As nossas têm mais sucesso que as de lá, que são cozinhadas na chapa. Temos sempre uma fila de mais de 10 pessoas. É sempre a andar!
- E como é que você, com tanto trabalho, tem essa barriga, Sr. Álvaro?
- Isto não é barriga, Sr. Dr! É o fígado dilatado! Já o tenho assim desde os 30 anos. O meu problema são os ossos. ... Se eu conseguisse a Reforma ... !

- Sr. Álvaro! O seu problema é, aos 58 anos, ter essa barriga e uma hipertensão que recusa tratar! Deixe lá os ossos em paz!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Como o tempo muda!


Com pouco mais de sete anos, apanhava gafanhotos de oito centimetros, embrulhava-os em papel de jornal e puchava-lhes fogo, para ouvir o que me parecia um chorar, e por me custar a acreditar que aqueles olhos grandes fossem capazes de lágrimas, repetia o gesto, sem nada concluir, porque muitos morriam estoicamente calados. Aos dez anos testei dois cães, na caça a um gato das redondezas, e dei-lhes a classificação de “mau”, por me obrigarem a abanar a árvore onde o desgraçado tinha achado refúgio. Com doze anos, ia aos passarinhos para mostrar a minha pontaria. Mais tarde, com a ajuda de um pescador desportivo, tirei kilos de barbos e tainhas do rio que deixámos apodrecer, por se alegar o seu mau sabor.

Só adulto feito, me apercebi da gratuitidade destes gestos, porque, até lá, tudo isto me parecia normal. Tão normal como me é agora, pôr insecticida nas formigas ou herbicida nas silvas do jardim.

... mas o meu neto teve um castigo, no Infantário, por ter morto publicamente um caracol.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Casamentos


O casamento sempre foi, e continua a ser, um contrato que nada tem a ver com laços amorosos, ainda que coincida com eles na história recente do mundo desenvolvido. É por isso que não tem que ser obrigatóriamente realizado entre pessoas de sexos diferentes, nem sequer entre duas pessoas apenas.


o que eu vou lendo ....

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Administração hospitalar
















Administradores hospitalares admitem crescimento descontrolado da dívida às farmacêuticas : "um crescimento de dois milhões de euros por dia em Julho passado!"

... e eu sinto que falta capacidade das direcções para, sem prejuizo dos doentes, implementarem rigor no uso dos medicamentos e meios auxiliares de diagnóstico.

É que aqui o problema não é o "querer"! É preciso "saber"!

Ou será que a ordem é deixar cair o SNS?

domingo, 15 de agosto de 2010

Incendiários


Recuso o conceito de pirómano delinquente como causa do flagelo dos incêndios. O fogo parece-me a arma de quem sente os seus direitos continuamente desrespeitados.

Quando qualquer estrutura (neste caso a floresta) é colocada numa região, sem evidente benefício para quem lá vive, vai surgir quem põe na destruição a sua razão. O pastor pirómano é o protótipo.

Há uns quarenta anos acompanhei, durante uma semana, um geólogo amigo do meu pai, numa visita ao Gerez, para que ele não andasse sozinho pelos campos. Num dos trajectos, parámos num café em Pitões das Júnias onde se discutia a interferência dos Serviços Florestais com a actividade da região.
A certa altura um comentou, com desânimo: “A gente podia matá-los! Mas, vão-se estes e vêm outros!” Já então a floresta não agradava a muitos dos que aí residiam.

Talvez seja a localização da floresta, e a não participação da população na sua exploração, a causa deste fumo que todos os verões nos ensombra.

sábado, 14 de agosto de 2010

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Incêndios


António Serrano, ministro da Agricultura admitiu, esta quarta-feira (11/08/2010), que o Estado poderá vir a tomar conta das propriedades que estejam ao abandono, e que estão a ser estudados «alguns instrumentos» de «agravamento fiscal para quem não utiliza as terras, não as mantém, não as arrenda ou não as vende».

Talvez seja parte da solução para travar o abandono dos campos com a consequente desertificação do interior.
O país tem de rentabilizar a terra, nem que seja necessário desviar o dinheiro que se gasta na prevenção e no combate aos incêndios, para se criarem estruturas agrícolas e florestais que permitam modernizar o sector.
Mas é curioso como de imediato se levantaram vozes importantes para impedir qualquer atitude que vise alterar a situação actual.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Cidadania


- Dona Julieta, eu vou chamar o Delegado de Saúde para indagar se o restaurante cumpriu os procedimentos de higiene no casamento do seu primo. Para já são quatro pessoas com diarreia, e pode haver mais convidados doentes.
- Oh, Sr. Dr! Não me meta em complicações, eu já estou melhor e a minha filha também. Eles foram tão atenciosos.
- Dona Julieta! Entenda isto como um procedimento habitual. Amanhã pode haver outro casamento lá, e acontecer o mesmo ou pior.
- Oh Sr. Dr.! Mas eu não quero confusões com o restaurante!
- Já ouvi, dona Julieta! Mas vai ter que ser!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Alta segura







- Então essas fotografias foram tiradas quando a Segurança Social foi activada e chamou a Delegação de Saúde?
- Sim! Ele tinha tido alta de um hospital do Porto com uma enorme ferida na região sub-mandibular, com intensa exsudação – talvez fosse uma neoplasia da boca - , e foi visto pelos vizinhos que alertaram os Serviços Sociais.
A casa ficava arredada da mais próxima uns cem metros. Ele vivia lá com o irmão que era alcoólico.
Já cá fora se indiciava o que se passava lá dentro, pelo monte de garrafas de vinho e de cerveja vazias, ao lado da porta de entrada, e pelo cheiro já se fazia sentir. Depois o interior era indescritível. Parecia um aterro sanitário onde tinham posto umas paredes e uma cama. Levámo-lo dali, mas ele morreu três dias depois no Centro de Saúde da Vila.
Os médicos do Porto nem sonharam para onde o mandaram, quando lhe deram alta.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Riba de Mouro


- Sr. Dr.! E não me passa o papel para a ambulância?
- Não dona Júlia. A senhora não encaixa na Circular nº 233/PI de 30.12.87 da ex-DGCSP, que regula o transporte em ambulância e, a esta hora, o Serviço Social do Hospital já fechou. Mas olhe que, mesmo que estivesse aberto, duvido que lhe desse solução.

- Mas Sr. Dr.!, eu não posso pagar um Táxi cada vez que trago a minha avó à consulta e aos exames. Como é que eu a trago? Quando ela em Janeiro esteve internada, eu demorava quatro horas a chegar ao Hospital, entre o andar a pé e na camioneta, e outras tantas para voltar. Na casa somos três mulheres. Ela é viúva como eu, que perdi o marido há 3 anos debaixo de um tractor e me deixou com dois filhos. A minha mãe está divorciada há cinco, depois do meu pai ficar tolo com uma vizinha e sair de casa. Se não fossem os Bombeiros, como é que eu a trazia?!
Esses Srs. que fazem essas leis em Lisboa, e que têm todas as disponibilidades, deviam ser obrigados a ir ao médico à Guarda, para saber o que significam as distâncias!

E num repente veio-me à ideia o discurso que o Alçada Baptista , pôs na boca de duas tias solteironas, num dos seus livros: - "Irmã, na nossa idade, a gente vai precisar cada vez mais dos médicos. Já estive a perguntar, e parece que eles são mais baratos em Coimbra. O melhor é vendermos a casa, e irmos viver para lá!"

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ao meu pai!


Tem calma! Podes queixar-te, mas não exageres, que se tivesses nascido noutra época, se calhar tinham-te morto, por causa dessa tua crença de que a verdade vence sempre. Nem parece que viveste lúcido nestas últimas nove décadas.

Há dois anos decidiste dar corpo ao texto, expondo as tuas feridas e as que tentaste evitar neste corpo que somos todos nós e a que chamamos Nação, analisando o apogeu e queda da instituição (Serviço de Fomento Mineiro / Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos) a que te dedicaste, muitas vezes sobrepondo-a à família, para que fosse uma das riquezas do país.

Mas tu, que lidas mal com a incompetência, confiaste nos teus pares e foste surpreendido pela sua fragilidade face às "conveniências e às contas bancárias".
Também tiveste azar com o voluntarismo ignorante misturado com todo o tipo de oportunismo do 25 de Abril, que levou a que quem nada entendia da vida nem do saber, decidisse sobre os teus pareceres técnicos. Só podia dar no que deu.

Mas deixa lá. Fazes hoje 90 anos e manténs boa memória e capacidade intelectual. Alimentas ainda a esperança de que se reescreva a História, e se coloque o teu nome à frente de muitas das minas de Portugal, entre as quais estará necessariamente Neves-Corvo. Mas não contes com isso, que quem se move nos corredores do poder, não vendo nisso qualquer interesse particular, deixará tudo como está.

Dá graças pela saúde que tens e por ter havido peças para os teus pequenos achaques, para que continuemos a levantar as taças e a desejar “Que os nossos filhos tenham pais ricos, e que as nossas mulheres nunca fiquem viúvas!”
Parabéns!

sábado, 7 de agosto de 2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

“Si non è vero, è ben trovato”


A história ter-se-á passado em finais de 1970, numa das aldeias do Minho, onde “alguém” teria consultório para atendimento de doentes. Digo "alguém", porque então, não seria de estranhar que um farmacêutico fosse “entendido em crianças”, ou que qualquer bruxo usasse estetoscópio para se adequar às exigências de uma clientela que iniciara a familiarização com a medicina oficial. Neste contexto, os factos de seguida relatados, podem ter sido obra de gente de fora do ofício. O que parece certo, é que havia um “saber” e uma solução, que o tempo validava.

Da poeira, ficou que, anexo á sala de consulta, existiria outra sala completamente escura, onde se "fariam radiografias", e que, se identificasse alguém suficientemente “crédulo”, o faria entrar, o ajudaria a subir para a porta da frente de um guarda-vestidos de três módulos, o posicionaria contra o seu fundo e bateria com as portas dos lados, num simulacro de disparo eléctrico. Depois disto, enquanto o ajudava a sair, pegava numa radiografia (sempre a mesma) meio húmida, e voltava à sala principal abanando-a para a secar e a colocar no negatoscópio.
Da conversa e das terapêuticas nunca se disse nada!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O Dr. Agulha


Era uma reunião para promoção de um novo medicamento. Uma sessão de uma hora, seguida de jantar, numa Estalagem no alto de um monte. Na sessão ... uns vinte médicos, no jantar … cinquenta pessoas, pois as borlas atraem sempre "esposos e penduras”.
No meio dos copos e dos pratos o Dr. Norton pontuava com as suas histórias de outros tempos, coadjuvado por um coetâneo companheiro, de ácido humor. Falaram de doenças, da vida de antanho, em histórias marcadas pelo insólito ou pela dificuldade superada.
No fim, depois do "até um dia", acerco-me do delegado de informação médica, e pergunto: "Quem é o fulano que estava com o Dr. Norton?". – “Não conhece?” espanta-se. –“É o Dr. Agulha! São inseparáveis!"
-“E ele também é de Clínica Geral?”, completo a pergunta, pois nas pequenas comunidades é mais frequente a hostilidade entre gente do mesmo ofício, que este tipo de amizade.
-“Não!”, responde-me. –“O Dr. Agulha, não é médico. É alfaiate. Como são amigos e estão os dois viúvos, para onde vai um, vai o outro. Foram os seus colegas que decidiram chamar-lhe assim! O nome dele ... não sei!"

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Diáspora - 4


30 anos. É cabeleireira. Nasceu em Paris.
- E veio para uma aldeia de Monção, porque carga de água?
- Eu vivia em Saint Maur, no 94!. Há 8 anos, numa vinda de férias à terra dos meus pais, encontrei marido e fiquei!
- Como foi isso?
- Estava a ajudar uma amiga que tem um Salão. Ele entrou e disse que queria cortar o cabelo. Eu até me espantei, que ele tinha o cabelo curtinho! No fim convidou-me para ir tomar café. Ele tinha 18 anos e eu 22.
- E o resto da família?
- Estão todos lá!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Emancipação feminina


O bikini nasceu em 1946, a pílula em 1951, e esta música em 1960.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Diáspora - 3


















Tem 75 anos. Nasceu por aqui e quis ser serralheiro mecânico. Aos 17 anos concorreu para aprendiz. Deram-lhe como prova de admissão, cortar um pedaço de aço e fazer um cubo com 4cm de aresta. -"Éramos muitos e a maior parte nem sabia montar a serra manual. Eu fiz o trabalho bem feito e não fui admitido, e vi passar à minha frente quem trazia carta do Bispo de Leiria. Ainda me inscrevi na Marinha e até cheguei a prestar provas em Caxias, mas o meu pai, que era anti-Salazar, impediu-me - "Não vais servir o Exército!", disse.
-Fui para o Brasil, onde tinha o meu irmão mais velho. Cheguei a gerente de uma fábrica de material eléctrico no Rio de Janeiro. O meu nome era conhecido em todos os estados. Andava pelas exposições e feiras na Europa e copiava tudo o que via. À noite, no hotel, desenhava aqueles circuitos eléctricos que vira nos certames e nas fábricas dos nossos fornecedores. Os brasileiros são como os chineses. Copiam tudo. Mas em 1990, "uma família passou-me a perna", e eu deixei a firma. Depois a empresa foi-se abaixo. Gente que só pensa em dinheiro!
- Vinha cá muitas vezes de férias, e em 1994, voltei de vez com a minha mulher. Eu lá pagava o equivalente a 450 Euros por mês para um Seguro de Saúde, e não tinha metade do que aqui tenho. É só por isso que eu não volto para o Brasil. A saúde lá, é um problema gravíssimo, Dr.!"

domingo, 1 de agosto de 2010

João























- Oh avô! A minha mãe disse que se eu aprendesse a andar de baloiço, me dava um Gormitis!
...
- Os dias a seguir aos anos e ao Natal, sempre foram os meus favoritos. Tantas coisas novas para brincar...