Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
A Organização
As anedotas são realidades contadas com "generalizações", e por isso é-lhes tirada credibilidade. Mas contêm muita verdade.
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Hoje, ao fim de uma hora de trabalho, veio-me uma à memória.
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Dois russos encontram-se no Café, e diz um para o outro:
- Eh pá! Vai-te inscrever no Partido Comunista, que eles estão a dar umas botas às novas inscrições!
Sem querer perder a oportunidade, uma hora depois, o fulano já tinha entrado na sede do partido e fornecido todos os seus dados pessoais.
Finda a inscrição, perguntou pelas botas.
-Ah! As botas!! Já me esquecia! Por favor, dirija-se àquela portinha ali em frente!
... e o homem lá vai, ao encontro de um funcionário diligente que de imediato lhe pergunta:
- Vem cá por causa das botinhas, não é?
- Exactamente!, responde sorridente.
- E quer as botas de cano alto ou de cano curto?
- Se posso escolher, preferia umas de cano alto, que eu nunca tive nenhumas assim!
- Pois é! Aqui é a secção das de cano curto. Mas não tem problema. O Sr. vai à porta aqui ao lado e eles dão-lhe já umas ao seu gosto.
... e o bom homem sai para entrar na porta seguinte, onde um outro funcionário igualmente solícito o recebe, no mais rasgados dos sorrisos.
- Ora cá está mais um novo elemento do partido. Já vejo que vem por causa de umas botas de cano alto, ou estarei errado?
- Sim! responde o nosso homem.
-E vão ser umas castanhas, ou umas pretas?
- Olhe que eu nem tinha pensado nisso, mas se posso escolher, preferia umas pretas!
- Claro que pode escolher. Temos o máximo gosto em o ver satisfeito. Mas a secção das botas pretas é ali em frente. Vá lá que o atendem num instante.
... e o homem lá vai, ainda com ar esperançoso, que aos poucos vai perdendo, quando lhe sugerem uma e outra porta, porque aqui não é a das botas com atacadores, ou com tacão raso, ou com biqueira de aço, até abrir a última porta e se encontrar na rua.
...
No dia seguinte volta ao Café e encontra o "amigo" que lhe pergunta:
-Então, inscreveste-te?
-Inscrevi-me!
-E as botas?
ao que ele, arregalando muito os olhos, lhe replica:
- Não as trouxe! Mas olha que eles têm cá uma organizaçãoooooo!!!!!!
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É também com organização "para Inglês ver", que se conseguem "acreditações" por instituições internacionais.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Redacção: A professora
Eu gostei muito da professora Lúcia ela ensina bém. A professora gosta muito de mim mas algumas vezes deume alguns pogões de orelhas mas eu mercias.
Ela é boa professora alguns meninos foram para a clónia e nós não fomos. Mas a professora arranjou uma camineta das pequenas e nós fomos ao passeio.
Eu se não passar fico muito feliz e se passar também fico feliz.
Eu gosto muito da professora Lúcia.
Eu gosto da minha professora, porque ela encinou coisas novas e até brinca connosco. Eu alvez não estudava e a professora arreliava-se.
Nestes dias eu tenho estudado e tiro boas notas, eu conto passar.
Eu nunca tive uma professora tão boa. Eu se não passa-se queria que ela fosse outra vez minha professora
Eu gostei muito da professora porque ela dáva-nos roupa e calçado. Ela não gostava muito de bater mas o José Manuel mercias.
Ela disse quem tivesse boas notas dava-nos brinquedos e eu não sei se vou tirar boas notas na de matemática. Eu se não tiver satisfaz a professora decerto não me vai passar.
Mas a Paula não tem a ficha melhor que a minha
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Bricolage
Quando nos metemos em áreas fora do nosso âmbito, frequentemente gastamos tempo e mais dinheiro do que se chamassemos um técnico. Mas é em nossa casa e ninguém tem nada com isso.
Outra coisa é o "amadorismo" nas empresas públicas. Por exemplo: sentarem-se três ou quatro médicos, um engenheiro, um desenhador, um ou dois enfermeiros e, se calhar um administrativo e, depois de várias reuniões sem actas (para não se saber quem nem porquê), alterarem os espaços e as funcionalidades de um hospital, criando novos circuitos de doentes, sem o concurso de um arquitecto.
"Bricolages" em espaços públicos são a marca do ignorante voluntarista que pulula nas nossas instituições.
domingo, 6 de janeiro de 2013
Personagem
Ia à missa, cumpria os códigos e evitava pensar. Tudo para ter sucesso. Era uma questão de tempo. O timbre da voz e o gesto desempoeirado de moçoila da aldeia que assumia, quando intuía num afazer uma imperiosidade ditada pelas divindades que escolhera no céu e na terra, davam-lhe o ar de determinação, com que esperava a ascensão na empresa.
As graças, entendia-as como provocação e, caso o alvo roçasse a religião, aprumava-se e tomava-as como ofensa, repetindo: “Graças a Deus muitas, graças com Deus poucas!”
Não sei porquê fez-me lembrar o velho bibliotecário, Jorge de Burgos em “O Nome da Rosa” , que temia que o riso fizesse perder o temor a Deus e o mundo se desmoronasse.
sábado, 5 de janeiro de 2013
Arroz à Valenciana
O nosso Arroz à Valenciana é uma variante da “paella” espanhola, um prato popular, que surgiu nos séculos XV e XVI, na região de Valência, que, muito provavelmente teve a sua origem no arroz de açafrão da culinária árabe (a reconquista terminou em 1492, com a conquista do reino de Granada).
Embora o poder mudasse para a mão dos reis católicos, a população manteve-se maioritariamente muçulmana (poucos se aventuraram a repovoar os territórios conquistados), e com ela, os hábitos alimentares.
O arroz de açafrão com que a elite árabe se deleitava, era um arroz simples, acompanhado, em pratos separados, por outras iguarias, com especial realce para o peixe, os mariscos e o frango.
Agora a parte que me apraz contar, mesmo sem certeza, segundo aquele velho princípio de que "nunca devemos deixar que a verdade estrague uma boa história".
Finda a refeição dos senhores, os restos eram atirados para um grande recipiente e dado aos servos. Tudo misturado. Depois, era só aquecer e ... servir.
Foi-se embora a elite dos árabes e esqueceu-se o prato original. Ficou dele o que o povo conhecia – o delicioso arroz à Valenciana.
Embora o poder mudasse para a mão dos reis católicos, a população manteve-se maioritariamente muçulmana (poucos se aventuraram a repovoar os territórios conquistados), e com ela, os hábitos alimentares.
O arroz de açafrão com que a elite árabe se deleitava, era um arroz simples, acompanhado, em pratos separados, por outras iguarias, com especial realce para o peixe, os mariscos e o frango.
Agora a parte que me apraz contar, mesmo sem certeza, segundo aquele velho princípio de que "nunca devemos deixar que a verdade estrague uma boa história".
Finda a refeição dos senhores, os restos eram atirados para um grande recipiente e dado aos servos. Tudo misturado. Depois, era só aquecer e ... servir.
Foi-se embora a elite dos árabes e esqueceu-se o prato original. Ficou dele o que o povo conhecia – o delicioso arroz à Valenciana.
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
2013
Leio o livro “Joseph Anton” de Salman Rushdie, que relata o modo como viveu a ameaça que durante nove anos pairou sobre ele, quando, em 1989, o aiatola Khomeini declarou uma Fatwa, condenando-o à morte por ter escrito o livro “Versículos Satânicos”.
Na página 251:
Todos os heróis da antiguidade grega, Ulisses, Jasão e Eneias, haviam sido, mais tarde ou mais cedo, obrigados a manobrar os seus navios entre os dois monstros marinhos Cila e Caríbdes cientes de que cair nas garras de um ou outro os conduziria à destruição total. Disse a si próprio firmemente que, escrevesse o que escrevesse, precisava de passar entre os seus Cila e Caríbdes pessoais, os monstros do medo e da vingança. Se escrevesse coisas tímidas, amedrontadas, ou coisas iradas, vingativas, a sua arte seria deturpada para além de qualquer esperança de redenção. Tornar-se-ia uma criatura de fatwa e mais nada. Para sobreviver precisava de rejeitar a raiva e o terror, por mais difícil que essa rejeição fosse, e tentar continuar a ser o escritor que sempre procurara ser, continuar na via que definira como a sua. Fazer isso seria o sucesso. Fazer outra coisa seria um horrível falhanço. Isso sabia ele.
Esqueceu-se de que havia uma terceira armadilha: a de namorar a concordância, de querer, na sua fraqueza, ser amado. Estava demasiado cego para ver que se precipitava de cabeça nesse fosso; e foi essa armadilha que o engodou e quase o destruiu para sempre.
Mitologia: Cila e Caríbdes são escolhos perigosos localizados no Estreito de Messina, que separa a Itália da Sicília, ou seja, dois grandes perigos para a navegação, muito próximos um do outro. Cila é um rochedo e Caríbdis é um redemoinho, um sorvedouro.
Na mitologia grega Cila era um monstro marinho. Tinha sido uma bela ninfa que a feiticeira Circe, por ciúmes, transformara num monstro, enraizado numa rocha, que odiava e destruía tudo o que se aproximasse. Do seu corpo cresciam cabeças de serpentes e de cães ferozes.
Na mitologia grega Cila era um monstro marinho. Tinha sido uma bela ninfa que a feiticeira Circe, por ciúmes, transformara num monstro, enraizado numa rocha, que odiava e destruía tudo o que se aproximasse. Do seu corpo cresciam cabeças de serpentes e de cães ferozes.
Caríbdis, filha da Terra e de Poseidon, fora também uma ninfa. Por ser muito cruel, Zeus fulminou-a com um raio, transformou-a num monstro e lançou-a para o fundo do mar, onde três vezes por dia suga e regurgita a água do estreito, devorando tudo o que consegue.
Ultrapassar Cila e Caríbdis simboliza coragem e capacidade para resolver qualquer grande problema.
Na Odisseia, de Homero, Ulisses só consegue retornar a Ítaca depois de passar Cila e Caríbdis.
Rejeitar a raiva e o terror, e tentar continuar a via que se definiu como sua, sem namorar a concordância, de querer ser amado.