Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
terça-feira, 29 de outubro de 2019
Cleptocracias
O que deve fazer uma elite para conquistar o apoio popular?
Ao longo do tempo, os cleptocratas recorreram a uma combinação de quatro soluções:
1: Desarmar a população e armar a elite.
2: Satisfazer as massas, redistribuindo de uma forma popular uma parte do tributo recebido.
3: Utilizar o monopólio da força para promover a ordem pública e refrear a violência.
4: Elaborar uma ideologia ou uma religião que justifique a cleptocracia.
In “Armas, Germes e Aço” de Gared Diamond.
quarta-feira, 16 de outubro de 2019
Erik Satie Trois Gymnopedies
Erik Satie (1866 – 1925), nasceu em Honfleur - Normandia - França.
As Gymnopédies, foram escritas de 1888 ..., em Paris
segunda-feira, 14 de outubro de 2019
Gossip
Há coisas sobre os outros que preferíamos não saber, mas quando elas vêm ter connosco, é difícil resistir a descobrir todos os porquês, principalmente quando o que está em causa é a fraqueza das Instituições.
Diz Yuval Harari que o “gossip” (a fofoca, o mexerico) é uma das principais razões para o progresso da humanidade, pois é no “diz que diz” que se fundamenta a sobrevivência da nossa espécie, ajudando na formação de amizades e hierarquias que, por sua vez, contribuem para o estabelecimento de uma ordem social.
Ora era numa dessas conversas de Café, onde uma situação lembra outra, que dois amigos juntavam razões para entender o “mau tempo” que alguém tinha dado àquela comunidade, perguntando-se como é que a incompetência e o mau carácter podem andar por aí à solta, sem travão. Juntavam as “narrativas” que compunham o puzzle da credibilidade.
- Eu sei, de fonte segura que, em 1974, ele era cabo nos GEs, no norte de Moçambique.
- GEs? O que é isso?
- GE- Grupos Especiais. Os Grupos Especiais foram pequenas unidades de assalto, constituídas por voluntários locais, a partir de 1966, pelo Comando-Chefe das Forças Armadas Portuguesas, para actuarem na Guerra do Ultramar. Apesar de serem treinados e de operarem sob comando do Exército Português (e Força Aérea Portuguesa no caso dos GEP – Grupos Especiais Paraquedistas), os GE eram forças paramilitares, irregulares, enquadrados por graduados metropolitanos.
- Eram locais com treino de comandos!?
- Sim! Após o 25 de Abril, os GEs e demais colaboradores do Exército Português, foram perseguidos pelos movimentos de libertação e a maioria acabou fuzilada. Ele safou-se, porque se fez passar por civil e fugiu para o continente, provavelmente, com apoio de alguém da hierarquia militar.
- Mas, se ele era cabo, era suposto ter a quarta classe! Como é que se formou em Medicina?
- Essa é a questão! Se estivéssemos em presença de um indivíduo inteligente e trabalhador, tal deveria ser considerado, mas o panorama não é esse! O que consta são oportunismos e comportamentos marginais, o que torna essa hipótese pouco verosímil. Ele deve ter conseguido integração nas Forças Armadas e ajudas para poder continuar os estudos até ao canudo. E não me espanta que até tenha abichado benefícios fiscais e sociais de Deficiente das Forças Armadas. Estávamos no PREC, com os militares na mó de cima, a mexer os cordelinhos sem contenção. Foi só aproveitar as circunstâncias. Já antes do 25 de Abril, um tropa podia propor-se a exame para obter graus académicos sucessivos e houve quem completasse o Secundário em três anos e, como na Universidade podiam fazer uma cadeira por mês, houve quem se licenciasse em pouco mais de 2 anos! Pretendia-se dar oportunidade a recomeçar os estudos a quem fora obrigado a interrompê-los para ir para guerra nas colónias, mas por essa porta também entrou o “chico-esperto”. Com as Instituições fragilizadas e num clima em que por tudo e por nada se levava com o rótulo de fascista poucos se atreviam a chumbar um tropa, e o resultado foi uma chusma de doutores incompetentes, a tomar decisões irrelevantes ou erradas durante décadas.
Ainda agora muitos dos nossos governantes andam enredados com os números e descuram a qualidade, o que ficou patente quando o Sócrates apareceu com a trafulhice das “Novas Oportunidades” a dar diplomas a quem se chegou à frente, sem contar com o efeito maléfico dos impreparados na ética de qualquer profissão!
Depois, lembraram as histórias dos jogos ilícitos daquele ex-militar a “safar” mancebos da tropa a troco de milhares, as frequentes queixas de assédio sexual sobre doentes e familiares, os cambalachos com receitas falsas e um sem número de pequenas vigarices a raiar o inverosímil. De todas as tramoias, embora chamuscado, havia escapado, coisa que nem sempre acontecera a quem se viu embrulhado nos seus esquemas. Mas era a sua incompetência técnica o que mais os chocava. Vagueara por todo o sítio onde havia carências, sempre a recibo verde, e pelo tempo necessário até se descobrir o espécime que ele era, sem que uma chefia se dispusesse a questionar a sua aptidão para o exercício da função. Preferiram sempre mandá-lo à vida, mesmo sabendo que ele ia fazer miséria para outro lado.
- São os eternos problemas do país. O medo de represálias e a pouca confiança na Justiça fazem com que poucos se disponibilizem para se meter em mais sarilhos que aqueles que já têm. Temos pouca consciência de grupo. Ainda estamos na fase do “cada um por si e Deus por nós todos!” ou, quando muito, com uma mentalidade tribal, limitada às cinquenta pessoas com quem habitualmente se contacta. O outro é mais um “couto de caça” do que gente com quem se deve cooperar, e deixamos a qualidade das nossas Instituições ao cuidado de um D. Sebastião e de Nossa Senhora de Fátima.
- Razão tinha o Einstein, quando disse: The world is a dangerous place to live; not because of the people who are evil, but because of the people who don't do anything about it.
Tomaram o café e despediram-se. Estavam reformados mas tinham que fazer.