Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
2º Congresso de Psiquiatria e Saúde Mental de Viana do Castelo
1º Congresso de Literatura Infanto juvenil e outros saberes.
Tanto que já se sabe sobre o processo de aquisição de valores pela criança e o quando e como fazer, que me lembro da frase de Fernando Pessoa:
-“ Quando nasci, já tinham sido inventadas todas as frases que haviam de salvar a humanidade, faltava só salvar a humanidade!”
Os contos têm a maior importância na formação do imaginário, dos modelos de conduta e na aquisição de referências.
Os infantários e escolas aplicam estas técnicas mas não se podem substituir à família.
O livro "A psicanálise dos Contos de Fadas"´de Buno Bettelheim, contém os fundamentos actuais
O mais curioso no meio disto tudo é que as lições que os nossos olhos de criança retiveram das histórias que nos contaram na infância, quando nos contaram mesmo essas histórias, acabam por ficar gravadas em nós, num sítio que não se vê mas sente.
ResponderEliminarSob a forma de valores, sim, mas também sob a forma de crenças e convicções. Essas tais convicções que Nietzsche considerou serem "cárceres". Estou convencida que ele sabia o que dizia.
Como estas aprendizagens são na maior parte das vezes inconscientes... tornam-se metáforas para a vida, para o mundo, para o nosso lugar no mundo.
Muito interessante.
Neste Congresso entendi o valor dos Contos de Fadas e de outros na formação da personalidade individual e colectiva.
ResponderEliminarTinha uma expectativa de ver abordar o seu efeito na construção de alguns mitos da nossa sociedade que considero fomentadores de "desequilíbrio emocional" como: o "mito da gaja boa", o mito do "sucesso fundamentado na fraude", o mito do "muito como base da felicidade", o mito do "trabalhar é penoso", ... mas não entraram por aí.
Pois se não entraram por aí... bem podiam ter entrado! Fazia sentido.
ResponderEliminarE já agora... Os desconhecidos são perigosos, os meninos teimosos serão castigados, as meninas "boazinhas" não podem ir para todo o lado, etc..., etc..., etc..., que a formatação das gentes miúdas no conceito de bem e de mal sempre foi "necessária".
Interesso-me muito por este assunto.
Desenterrei do meu baú de tesouros nada deprimentes o seguinte texto, que agora partilho.
"As metáforas podem criar realidades para nós, especialmente realidades sociais. Uma metáfora pode ser um guia para acção futura. (…) Neste sentido, as metáforas podem ser profecias auto-realizadoras”.
(George Lakoff e Mark Johnson)
O que são as metáforas?
A palavra “metáfora” vem do grego "meta" (além) + "phorein" (transportar de um lugar para outro). O termo tem a conotação de transportar o sentido literal de uma palavra ou frase, dando-lhe um sentido figurado. A metáfora comunica com os dois lados do nosso cérebro. É compreendida literalmente pelo lado esquerdo, associado à mente consciente, lógica e racional, onde se encontram as estruturas corticais responsáveis pelo processamento da linguagem. Ao mesmo tempo, é compreendida no seu sentido figurado, pelo lado direito, associado à mente inconsciente, intuitiva, criativa, emocional e sábia.
A metáfora usa uma linguagem simbólica que é característica da linguagem primária do inconsciente. É uma forma de comunicação indirecta que utiliza uma história ou uma figura de linguagem e implica uma comparação, expressa ou apenas implícita. Engloba parábolas, alegorias, contos populares, ditados, provérbios e estruturas similares.
As metáforas são o complemento nutritivo fundamental para a nossa imaginação. Induzem a um processo natural de mudança. Ao contrário de uma ordem ou sugestão directa de mudança, a metáfora permite à pessoa conscientemente bloqueada e sem saídas, perceber, inconscientemente, outras alternativas que não foram vislumbradas sequer anteriormente.
O uso da metáfora em psicoterapia tem sido cada vez mais comum. Freud fazia uso das metáforas nas interpretações dos sonhos, na livre associação de ideias, no uso do complexo de Édipo, etc.
Jung aprofundou o seu uso ao expandir a interpretação dos sonhos e fantasias de seus pacientes, através dos mitos, símbolos e arquétipos.
Milton Erickson teve a sensibilidade de compreender o valor e os benefícios do uso das metáforas aliadas à hipnose. Nos seus últimos anos como terapeuta, ajudava os seus clientes, contando-lhes apenas histórias e metáforas criadas a partir da história pessoal de cada um. Personalizava cada metáfora, moldando-a sob medida para as necessidades específicas daquele cliente. Conseguia, assim, eliciar as respostas dos próprios clientes para os seus problemas, num processo de auto-ajuda e de auto-cura.
Um dos aspectos mais importantes de uma metáfora é a dos papéis que ela cria para nós e para os outros. Temos, na nossa mente, a capacidade de estabelecer paralelos entre as nossas representações internas e dali extrairmos inspiração para opções de acção. As metáforas, as analogias e as parábolas despertam-nos para novas possibilidades; estas serão tanto maiores quanto maior for a semelhança que percebemos, entre o contexto da metáfora ou da parábola, e a situação real. Comunicam indirectamente com o indivíduo através de um processo de linguagem que consiste em fazer uma substituição analógica. As metáforas e os contos são ferramentas importantes na transformação e tomada de consciência, saúde mental e também em áreas como a educação. A humanidade, na sua fase oral, utilizava os contos, os adágios, as parábolas, as metáforas, para ensinar às gerações mais jovens, a história e “estórias” da sua própria gente, dos antepassados míticos e heróicos. Os modernos conceitos de metáfora, baseados na obra de Milton Erickson, incluem símiles, parábolas, alegorias ou figuras de linguagem que impliquem uma comparação. Mas as histórias,contos infantis, fábulas e parábolas constituem as suas formas mais evoluídas.
Podem adoptar várias formas, dependendo do efeito que se deseja, do conteúdo que se quer veicular, do tempo disponível, do interlocutor ou grupo de ouvintes. Podem ser:
1- As imagens. São rápidas e simples. Ilustram bem o oral e o escrito. No fundo, são uma palavra ou frase que muda de sentido: “pegar no touro pelos cornos”; “ter o nariz torcido”; “tapar o sol com a peneira”; “ser uma cabeça de vento”, etc.
2- As comparações. Também são imagens. Contêm, no entanto, um elemento comparativo: “fumar como uma chaminé”, “beber como uma esponja”, “ser fino como um rato”, “andar rápido como o vento”, etc.
3- Os provérbios. São máximas ou frases de carácter prático e popular, comuns a todo um grupo social, expressos de forma sucinta e geralmente rica em imagens: “quanto maior a nau, maior a tormenta”; “gato escaldado de água fria tem medo”; “casa roubada, trancas à porta”, etc.
4- As anedotas e as citações. São relatos sucintos de factos jocosos ou curiosos vividos por outros e citados entre aspas, pelo autor do discurso ou do texto: "Isto faz-me pensar na pergunta que fulano me fez durante…"; "Como diria fulano de tal… nunca me engano e raramente tenho dúvidas”, etc.
5- Os mitos e os contos. São histórias imaginárias, geralmente de origem popular, que colocam em cena heróis que encarnam forças da natureza ou aspectos da condição humana durante incidentes que não teriam acontecido, mas que fazem parte do inconsciente colectivo: o mito do paraíso perdido, os contos de fadas, as histórias de encantar, etc.
6- Narrações, parábolas, histórias. São formas metafóricas mais completas e complexas. Para gerar mudanças no interlocutor a história é preciso usar formas semelhantes à realidade vivida por ele.
Construído e adaptado de um texto de SaKAIZEN Sakurai, encontrado em: http://www.seducaoecomportamento.com.br/pnl10.htm