Boa noite! Então hoje que temos?
Boa noite doutor! Para já tem 4!. O primeiro é na Rua de Cedofeita nº X, o 2º é na Rua de Gondarém nº Z, que fica nas traseiras da Avenida Brasil na Foz do Douro, outro é um bocadinho mais para a frente na Rua da Trinitária, nº Y e o outro é no Bairro do Aleixo.
Este Bairro tem má fama, não devia chegar lá muito tarde, talvez devesse até começar por aí.
Boa sorte!”
-“ Obrigado e boa noite!”
Entro no carro e confirmo no mapa da cidade o percurso a fazer.
Decido começar por Cedofeita que está aqui ao pé e o Bairro fica para o fim. Assim escuso de andar para a frente e para trás. Está uma noite calma de verão e anda muita gente na rua.
Não tenho problema em encontrar a casa e um lugar para estacionar perto, em cima do passeio. Ponho o cartaz de “Médico em Serviço Urgente”, ando uns passos e toco à porta de uma casa antiga.
Atende-me uma senhora de cerca de 60 anos, bem vestida e muito afável. Enquanto caminhamos para o quarto diz-me que a doente tem 86 anos, que é francesa residente há muito em Portugal, que veio há pouco de um internamento de um mês no Hospital de Sto António e que desde então tem estado na cama alimentada por uma sonda. Ontem ficou de novo com febre alta e mais ruído respiratório.
Aproximo-me. Está péssima. Quase só pele e osso, com frequência respiratória aumentada, sem pulso e sem reagir a estímulos dolorosos.
Aparece uma rapariga que presumo ser filha. Pergunto se são familiares.
Não são! A doente não tem família próxima. Eles são a família amiga de longa data, que lhe tem dado apoio nos últimos anos.
A medo pergunto se alguma vez a doente lhes terá falado das suas opções sobre a morte e olho para elas à espera de um olhar que me permita deixar a senhora morrer em paz, sem a agressão do reenvio para o Hospital! Estão disponíveis para aceitar o inevitável, mas não queriam estar sós nesta decisão e foi por isso que chamaram.
Acertamo-nos. Receito um antipirético, prognostico um desenlace fatal a curto prazo e despeço-me, disponibilizando-me para voltar, caso haja necessidade.
Agora rumo à Foz do Douro. Até sabe bem andar de carro a esta hora com o vidro aberto e o vento na cara. É um instante.
Procuro o prédio que me parece ser de gente rica. Toco a campaínha, identifico-me e subo de elevador até ao 4º andar. Vem a empregada receber-me. Passo por corredores de uma casa recheada de vidros e móveis escuros e brilhantes até ao quarto da empregada.
Já entendi! Não é ninguém da casa que está doente.
É o marido da empregada que chegou de uma viagem de longo curso num camião e que parou ali por não ter forças para mais. Arde em febre (41ºC) e não tem aparente foco de infecção! Faço mais umas perguntas, encostado à parede ao lado da cama a tentar perceber contágio ou alimento que possa ter veiculado agente infeccioso.
Enquanto aguardo as respostas que o homem custa a lembrar, entra de rompante no quarto um dos meus professores da Faculdade de Medicina.
Com passo decidido dirige-se ao doente, ignorando-me. Põe-lhe uma mão na nuca e flecte-a. Dói? Não! E assim como entra sai! Sem mais palavras e sem mais olhares!
A empregada, constrangida, vira-se para mim :
- É o meu patrão! É professor no Hospital!
- Eu sei! Eu conheço-o! Talvez não me tenha visto!
E estupefacto pergunto:
-“Se tinha aqui um médico qual é a ideia de chamarem o Permanente?”
-“ É por causa da Baixa!”
-“Ah é!!!??? Espanto-me.
-“Se é para isso, o problema está resolvido, que no Permanente não se passam Baixas! E como o professor sabe melhor que fazer que eu, não estou aqui a fazer nada!! Boa noite, e estimo as melhoras!”
Despeço-me incrédulo com toda a situação, e à saída vislumbro de soslaio um sofá na sala donde saem umas pernas, uns papéis e umas mãos.
Será que o homem não me viu? Será que a má educação pode chegar a tanto?
Vamos embora que hoje o forno não está para rosquilhos! São quase 23:00h e eu quero chegar ao Bairro do aleixo antes da meia-noite.
Procuro agora no mapa a Rua da Trinitária. É já ali à frente. Paro a meio e sigo a pé à procura do nº de porta. Bato 2 vezes e de imediato ouço o ladrar insistente de um cão mesmo atrás da porta e a voz de uma mulher – “Leão! Leão! Anda cá! Aqui!. É o médico?
Respondo: -“Sim! Agradeço que prenda o cão!” e seguro no puxador da porta a impedir a senhora de a abrir. O cão mantém-se a ladrar mais longe!
Oh! Sr. Doutor! Espere um bocadinho que eu vou ver se o prendo!”
Espero e passados minutos deixo de ouvir o cão. A porta abre e vem uma Sra. com ar de reformada a viver de escassa pensão.
Pergunto: -“Prendeu o cão?”
-"Não! Ele não é meu Sr. Dr. , é da doente que tem este quarto alugado, e pôs-se debaixo da cama dela e não sai de lá! Ele só ladra, não morde, e eu não o consigo apanhar. Entre Sr. Dr., que ele não faz mal! "
Arrisco e entro no quarto. O cão rosna debaixo da cama da doente.
-“ É a minha companhia!”
- “Está bem! Mas ele não está com ar amigo e se acha que eu lhe estou a fazer mal, traça-me as pernas! Se me não leva a mal, ajoelho-me aqui na cama durante a consulta!”
Ouço a história, palpo, ausculto e receito como quem reza, enquanto o bicho rosna. Finda a consulta despeço-me e saio às arrecuas com os olhos fitos no chão por baixo da cama e a pasta em frente dos joelhos. Boa noite!
Não o vi, mas aquele ladrar pesava 50Kg.
É meia-noite e aí vou eu para o Bairro do Aleixo. Conheço a torre pelo que me não é difícil dar com ela. Paro à porta, entro e toco no botão de chamada do elevador. Não tem luz. Subo as escadas numa semi-escuridão, apoio-me no corrimão e sinto-o sujo de um líquido oleoso que escorre do tubo de descarga do lixo que está atafulhado de sacos. Mudo para o lado de fora da escada. Abro a pasta e pego na lanterna de ver gargantas para ver onde ponho os pés. Não está ninguém nos átrios dos pisos por que vou passando e tenho que ir até aos 6º piso.
Hoje é dia mau!
Chego. Bato á porta.
-"É o médico?"
-" Sim!"
Vem abrir uma rapariga de 16 anos em pijama:
-"É a minha avó que tem uma dor de barriga e vomitou muito!"
Depois vem uma mulher gorda que deve ser a mãe da rapariga, de robe ás ramagens com ar de ter saído da cama naquele momento. Levam-me até ao quarto da doente que já está melhor depois de ter vomitado.
Faço uma observação sumária, pergunto como é aquilo dos elevadores e das escadas, ouço as queixas contra a “Câmara que não liga” e contra “os vizinhos que são uns porcos” e saio em dez minutos.
Paro numa cabine telefónica e ligo para o telefonista:
-"Há mais?"
-"Não! "
-"Olhe lá, ninguém o avisou do estado em que está o Bairro do Aleixo?"
-"Eu tenho de fazer domicílios com cães soltos?"
Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
domingo, 27 de abril de 2008
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Elvis Presley
Elvis Presley 1935 – 1977.
Uma vida meteórica da pobreza ao extremo luxo, que transparece nos seus multiplos tiques adorados pelas multidões de fãs. Vítima dos seus desejos.
Rei do Rock, dono de uma voz de enorme versatilidade.
Não voltei a ouvir outro "Fever" - Otis Blackwell (John Davenport) – 1931-2002 – USA, como este!
domingo, 20 de abril de 2008
3º Encontro Nacional de Directores e Chefes de Serviço de Medicina Interna, promovido pela SPMI, 19 de Abril, Tomar.
Assunto: Rede de Referenciação de Medicina Interna.
Está em curso a definição pelo Governo dos Quadros Médicos dos Hospitais (Públicos e Privados) e para tal questionam-se as diferentes Especialidades.
Foi proposta uma nova Carta Hospitalar para Portugal.
Foram palestrantes o Dr. Adriano Natário (da Administração Central do Sistema de Saúde) e o Dr. Luís Campos.
Os Internistas defenderam as áreas de actividade onde poderão e deverão estar nos próximos anos.
Foi este o meu entendimento:
Respeitando o espaço de intervenção das Especialidades Médicas e Cirúrgicas sem as quais a Especialidade de Medicina Interna não funciona, há que repensar o modo de obter os melhores resultados.
O Serviço de Medicina Interna deve ser dotado de um nº significativo de Internistas com potencial para acorrer às diferentes necessidades da assistência médica hospitalar. É esta plasticidade o seu maior valor.
A responsabilidade maior da Medicina Interna é o diagnóstico e tratamento médico do doente no Internamento e no Serviço de Urgência. As suas outras actividades são complementares a estas.
O Serviço de Medicina Interna deve ter presença variável em todos Serviços com Internamento, de acordo com as necessidades destes.
As Unidades de Cuidados Intensivos e de Cuidados Intermédios Médicos ou Cirúrgicos são áreas da sua vocação.
O limite de idade para o Serviço de Urgência, que a actual lei garante (dispensa de noites aos 50 anos e dispensa total aos 55 anos) cria dificuldade em cumprir este seu desígnio. Para que o possa cumprir torna-se necessário o ingresso regular de novos quadros, de modo a poder distribuir aos mais novos estas funções e aos mais velhos a Consulta Interna e Externa.
O potencial da Medicina Interna para assumir responsabilidades em áreas diferenciadas: HIV/SIDA, Oncologia, Hepatologia, Diabetes, Hipertensão, Insuficiência Cardíaca, Insuficiência Renal, Doenças Auto-Imunes, DPCO, … é fundamental para que o Hospital possa responder em tempo útil às necessidades dinâmicas da população, sempre que as Sub-Especialidades Médicas o não consigam fazer e, quando a diferenciação atingida é evidente deve-lhes ser reconhecida Competência nessa área do saber médico.
A expansão dos Cuidados Continuados obriga a gerir o internamento dos doentes crónicos.
A Medicina Interna deverá estar presente nas Unidades de Convalescença e de Cuidados Paliativos, não como médico de cabeceira, mas como consultor nas relações destas com o Hospital de Agudos de referência sempre que a situação clínica dos doentes o exija.
Para além da sua actividade na área Médica, perspectiva-se a necessidade da sua presença regular na área Cirúrgica.
Tal facto decorre de a) a maioria dos cirurgiões ter perdido o contacto com o diagnóstico e tratamento das doenças do foro médico, b) da população idosa com doenças crónicas nos serviços cirúrgicos ter aumentado, c) da actividade no Bloco Operatório por cirurgião ser inferior à desejável, d) da actividade da Cirurgia Geral no Serviço de Urgência dever estar mais centrada na actividade cirúrgica e como consultor e não na Triagem e tratamento médico dos doentes cirúrgicos.
Assim, para a mesma actividade cirúrgica, a presença regular da Medicina Interna na Cirurgia Geral melhoraria não só os seus resultados como diminuiria a necessidade de cirurgiões principalmente nas áreas de Cirurgia Geral e Ortopedia.
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Medicina Interna
É vocação do Internista o diagnóstico e tratamento da doença que pela sua gravidade exige intensidade de recursos.
Usa nas situações mais graves o Internamento Hospitalar, onde chama a participar, em tempo útil, as outras Especialidades. Esta função de charneira é um dos papéis mais importantes da Medicina Interna.
Usa nas situações mais graves o Internamento Hospitalar, onde chama a participar, em tempo útil, as outras Especialidades. Esta função de charneira é um dos papéis mais importantes da Medicina Interna.
O seu trabalho na Consulta Externa pauta-se pelos mesmos critérios, diferenciando-se deste modo da Medicina Geral e Familiar.
Nos últimos 30 anos em muitos Hospitais, as Sub-Especialidades Médicas (Cardiologia, Pneumologia, Gastrenterologia, Neurologia, …) retiraram doentes dos Serviços de Medicina Interna, mas actualmente privilegia-se o conceito de um espaço de Internamento comum onde a Medicina Interna e as Sub-Especialidades Médicas se entendem de acordo com as necessidades dos doentes.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
2º Congresso de Psiquiatria e Saúde Mental de Viana do Castelo
1º Congresso de Literatura Infanto juvenil e outros saberes.
Tanto que já se sabe sobre o processo de aquisição de valores pela criança e o quando e como fazer, que me lembro da frase de Fernando Pessoa:
-“ Quando nasci, já tinham sido inventadas todas as frases que haviam de salvar a humanidade, faltava só salvar a humanidade!”
Os contos têm a maior importância na formação do imaginário, dos modelos de conduta e na aquisição de referências.
Os infantários e escolas aplicam estas técnicas mas não se podem substituir à família.
O livro "A psicanálise dos Contos de Fadas"´de Buno Bettelheim, contém os fundamentos actuais
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Tango
O Tango nasceu nos prostíbulos de Buenos Aires e Montevideu, nas duas últimas décadas do século XIX, com violino, flauta e violão.
O bandoneón, que actualmente o caracteriza, chegou ao Rio da Prata por volta de 1900, nas maletas de imigrantes alemães.
Nos anos 20, Carlos Gardel (1890-1935) dá-lhe o charme e difunde-o para fora da Argentina.
Nos anos 40 Astor Piazzolla (1921-1992) tira-o da música ligeira e dá-lhe estilo e força do Jazz.
Daniel Barenboim (1942 - …) torna-o intemporal.A ascensão do Tango está fundamentada na capacidade de absorção de outras culturas, talvez por ter nascido e crescido em zonas portuárias.
Carlos Gardel - dizia ter "nascido em Buenos Aires aos dois anos e meio de idade”. Era filho de mãe francesa e pai incógnito.
Ástor Pantaleón Piazzolla nasceu na cidade de Mar del Plata, Argentina, filho de pais italianos (o avô era marinheiro). Viveu a juventude em Nova York onde fez a sua inciação musical. Aos 12 anos estudou com o pianista húngaro Bela Wilda (discípulo de Rachmaninov), aos 13 conhece Carlos Gardel e a sua formação musical posterior foi um contínuo em ascenção. Viveu entre o tango, a música clássica e o jazz. Compôs mais de 1000 peças e tocou-as nos 4 cantos do mundo.
Daniel Barenboim (1942 - …) nasceu em Buenos Aires, filho de judeus russos. Pianista e maestro. Um dos 10 mais das últimas décadas.
O Tango é multicultural, mas na interpretação ressoa o calor argentino !
O bandoneón, que actualmente o caracteriza, chegou ao Rio da Prata por volta de 1900, nas maletas de imigrantes alemães.
Nos anos 20, Carlos Gardel (1890-1935) dá-lhe o charme e difunde-o para fora da Argentina.
Nos anos 40 Astor Piazzolla (1921-1992) tira-o da música ligeira e dá-lhe estilo e força do Jazz.
Daniel Barenboim (1942 - …) torna-o intemporal.A ascensão do Tango está fundamentada na capacidade de absorção de outras culturas, talvez por ter nascido e crescido em zonas portuárias.
Carlos Gardel - dizia ter "nascido em Buenos Aires aos dois anos e meio de idade”. Era filho de mãe francesa e pai incógnito.
Ástor Pantaleón Piazzolla nasceu na cidade de Mar del Plata, Argentina, filho de pais italianos (o avô era marinheiro). Viveu a juventude em Nova York onde fez a sua inciação musical. Aos 12 anos estudou com o pianista húngaro Bela Wilda (discípulo de Rachmaninov), aos 13 conhece Carlos Gardel e a sua formação musical posterior foi um contínuo em ascenção. Viveu entre o tango, a música clássica e o jazz. Compôs mais de 1000 peças e tocou-as nos 4 cantos do mundo.
Daniel Barenboim (1942 - …) nasceu em Buenos Aires, filho de judeus russos. Pianista e maestro. Um dos 10 mais das últimas décadas.
O Tango é multicultural, mas na interpretação ressoa o calor argentino !
terça-feira, 8 de abril de 2008
O Filomeno
Algumas situações do dia a dia, trazem-me à cabeça uma frase que li no livro “O Filomeno”, de Gonzalo Torrente Ballester, em que num diálogo um personagem dizia:
-“Você tem razão, mas não a tem toda, e a pouca que tem, não lhe serve para nada!”
Ainda o folheei na expectativa de a ter sublinhado (como frequentemente faço), para melhor a contextualizar aqui, mas ela vale por si!.
...
Num diferendo ninguém tem 100% ou 0% da razão. Habitualmente é sempre possível invocar um qualquer argumento para defender uma qualquer posição, para tal bastando ousadia e ignorância.
Mais difícil é pesar todos os dados, excluir os não relevantes e ... decidir, sabendo que se não irá agradar a todos, mas que se respeita a lei, a ética e a conveniência.
Por isso não me espanta passear pelos Jornais e Blogs e tropeçar na maledicência gratuita, de quem não tem o constrangimento da decisão, até porque a “crise de valores”, dá acesso aos púlpitos às mais estouvadas teorias.
Na Revista Sábado nº 205, de 2 a 9 de Abril de 2008, Alberto Gonçalves, sociólogo, escreve a fechar o texto:
… “Protegidas por hordas de malucos para quem a autoridade é sinónimo de fascismo, as crianças vão fazendo o que querem. Um dia (tardio) crescem e a feia realidade desaba-lhes em cima e a ilusão democrática esvai-se. É aí que se voltam em lágrimas para os paizinhos (com pesar destes) ou, mais provavelmente para o Estado (com pesar nosso). …
-“Você tem razão, mas não a tem toda, e a pouca que tem, não lhe serve para nada!”
Ainda o folheei na expectativa de a ter sublinhado (como frequentemente faço), para melhor a contextualizar aqui, mas ela vale por si!.
...
Num diferendo ninguém tem 100% ou 0% da razão. Habitualmente é sempre possível invocar um qualquer argumento para defender uma qualquer posição, para tal bastando ousadia e ignorância.
Mais difícil é pesar todos os dados, excluir os não relevantes e ... decidir, sabendo que se não irá agradar a todos, mas que se respeita a lei, a ética e a conveniência.
Por isso não me espanta passear pelos Jornais e Blogs e tropeçar na maledicência gratuita, de quem não tem o constrangimento da decisão, até porque a “crise de valores”, dá acesso aos púlpitos às mais estouvadas teorias.
Na Revista Sábado nº 205, de 2 a 9 de Abril de 2008, Alberto Gonçalves, sociólogo, escreve a fechar o texto:
… “Protegidas por hordas de malucos para quem a autoridade é sinónimo de fascismo, as crianças vão fazendo o que querem. Um dia (tardio) crescem e a feia realidade desaba-lhes em cima e a ilusão democrática esvai-se. É aí que se voltam em lágrimas para os paizinhos (com pesar destes) ou, mais provavelmente para o Estado (com pesar nosso). …
domingo, 6 de abril de 2008
Superioridade Moral
Vestir-se de “superioridade moral” ainda se usa para pôr em causa a autoridade, habitualmente por quem vive ancorado a um “ismo” que lhe ordenou as poucas ideias.
Ouvi-o pela 1ªvez da boca do Dr. Álvaro Cunhal : – “a superioridade moral dos comunistas”, mas muitos grupos religiosos e políticos usam-no na proporção directa do seu extremismo.
A “superioridade moral” é um reconhecimento e não um argumento de auto-afirmação para dificultar o que lhe é inconveniente.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Conceição
Tinha 48 anos, vinte na solidão das 3 assoalhas de uma rua perpendicular dos arredores do Porto.
Passara a adolescência e os anos de ouro em Joanesburgo, num éden de nuvens e deleites, mas pouco mais sabia que juntar as letras, as coisas da higiene e de Deus, que lhe dera um palmo de cara, um casamento e 2 filhos.
O marido, esgotado do lar, por lá ficou entregue “aos negócios e às amantes”, depois de a ter devolvido à Europa com a pensão que a mantinha. Do filho sabia que se entretinha por áfricas e era a filha com telefonemas semanais que dava sentido às suas memórias.
Ao longo dos anos incompatibilizara-se com a família e caira na rotina do básico, sem interesses e sem curiosidade. Uma ajudante fazia-lhe, nas manhãs, o trabalho da casa. Saía para as compras, para o médico e para a missa, que um preceito antigo lhe impunha cuidar das roupas, do corpo e das poucas ideias.
A diabetes enchia-lhe as horas com medicamentos, refeições e conversas de circunstância nas salas de espera dos consultórios onde chegava com grande antecedência, para ver, ser vista e, num acaso, suspirar angústia.
Elegera o médico como ouvinte para as queixas do corpo e do estar, onde pontuavam “o marido”, “as amantes” e "a África branca" e, quando este uma vez lhe propôs uma qualquer actividade, respondeu-lhe estonteada de surpresa:
-“Nem pensar! Dr.! Eu nunca trabalhei! Não vai ser agora que vou começar!”
E saíu altiva para tratar a vida à força de comprimidos.
Um dia, soube da vinda do "marido" a Portugal e, num repente, acordou com vinte anos. Sorriu, arranjou-se e ficou à espera do telefonema de arrependimento, que tanto almejava.
Os dias foram-se alongando com a repetição dos gestos inúteis, enquanto confabulava o reencontro amigo que a afastaria daquela vida murcha.
Por fim o tempo parou na sala do telefone encolhendo as refeições, os medicamentos e as noites. Saíu pela última vez para perguntar ao médico se devia parar os comprimidos para “esquecer o marido” e voltou com reforço de pastilhas.
Por fim o tempo parou na sala do telefone encolhendo as refeições, os medicamentos e as noites. Saíu pela última vez para perguntar ao médico se devia parar os comprimidos para “esquecer o marido” e voltou com reforço de pastilhas.
Mais tarde soube que ele tinha regressado a Joanesburgo. Nesse dia fechou a casa e aguardou os suores do desfalecimento libertador.
Na manhã seguinte encontraram-na fria, vergada pela vida que nunca entendera.
terça-feira, 1 de abril de 2008
Sócrates e Jesus
Sócrates (470 AC – 399 AC) viveu em Atenas. Foi o fundador da actual Filosofia Ocidental.
Não escreveu uma linha. A sua memória foi escrita pelos seus discípulos (Platão, Aristófanes e Xenofonte). Sócrates não recebia pagamento pelas suas aulas como o prova a sua pobreza.
Sócrates defendia que ninguém é voluntariamente mau, mas que apenas o é por ignorância, que a virtude pode ser ensinada e que a felicidade é um atributo do homem justo. Defendia também que o belo não é para ser encontrado na aparência, que o bem é para ser procurado naquilo que torna a vida efectivamente boa, que o prazer é para ser descoberto não no prazer dos sentidos, mas na alegria da alma, que é a virtude que permite reconciliar o homem consigo e com os outros e torná-lo feliz.
Era um homem piedoso que foi condenado à morte (beber cicuta) por estas mensagens terem sido entendidas como ameaças aos valores tradicionais de Atenas, que punham em causa os interesses do Estado.
Sócrates podia ter evitado sua condenação se tivesse desistido dos seus princípios filosóficos.
Jesus (0 DC - 33 DC) viveu na Judeia. Foi o fundador do humanismo cristão.
Não escreveu uma linha. A sua memória foi escrita pelos seus discípulos (os Apóstolos). Cristo não recebia pagamento pelas suas aulas como prova a sua pobreza.
Cristo defendia que ninguém é voluntariamente mau, mas que apenas o é por ignorância, que a virtude pode ser ensinada e que a felicidade é um atributo do homem justo. Defende também que o belo não é para ser encontrado na aparência, que o bem é para ser procurado naquilo que torna a vida efectivamente boa, que o prazer é para ser descoberto não no prazer dos sentidos, mas na alegria da alma, que é a virtude que permite reconciliar o homem consigo e com os outros e torná-lo feliz.
Era um homem piedoso que foi condenado à morte (crucificação) por estas mensagens terem sido entendidas como ameaças aos valores tradicionais da Judeia, que punham em causa os interesses do Estado.
Cristo podia ter evitado sua condenação se tivesse desistido dos seus princípios filosóficos.
Não escreveu uma linha. A sua memória foi escrita pelos seus discípulos (Platão, Aristófanes e Xenofonte). Sócrates não recebia pagamento pelas suas aulas como o prova a sua pobreza.
Sócrates defendia que ninguém é voluntariamente mau, mas que apenas o é por ignorância, que a virtude pode ser ensinada e que a felicidade é um atributo do homem justo. Defendia também que o belo não é para ser encontrado na aparência, que o bem é para ser procurado naquilo que torna a vida efectivamente boa, que o prazer é para ser descoberto não no prazer dos sentidos, mas na alegria da alma, que é a virtude que permite reconciliar o homem consigo e com os outros e torná-lo feliz.
Era um homem piedoso que foi condenado à morte (beber cicuta) por estas mensagens terem sido entendidas como ameaças aos valores tradicionais de Atenas, que punham em causa os interesses do Estado.
Sócrates podia ter evitado sua condenação se tivesse desistido dos seus princípios filosóficos.
Jesus (0 DC - 33 DC) viveu na Judeia. Foi o fundador do humanismo cristão.
Não escreveu uma linha. A sua memória foi escrita pelos seus discípulos (os Apóstolos). Cristo não recebia pagamento pelas suas aulas como prova a sua pobreza.
Cristo defendia que ninguém é voluntariamente mau, mas que apenas o é por ignorância, que a virtude pode ser ensinada e que a felicidade é um atributo do homem justo. Defende também que o belo não é para ser encontrado na aparência, que o bem é para ser procurado naquilo que torna a vida efectivamente boa, que o prazer é para ser descoberto não no prazer dos sentidos, mas na alegria da alma, que é a virtude que permite reconciliar o homem consigo e com os outros e torná-lo feliz.
Era um homem piedoso que foi condenado à morte (crucificação) por estas mensagens terem sido entendidas como ameaças aos valores tradicionais da Judeia, que punham em causa os interesses do Estado.
Cristo podia ter evitado sua condenação se tivesse desistido dos seus princípios filosóficos.