Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
É só facilidades
- Oh Doutor! Podia receitar um xarope para a tosse da minha sogra, que anda encatarrada há mais de uma semana!
- Oh Sr. Arquitecto! Podia podia-me fazer uns riscos para um anexo!
- Oh Sr. Engenheiro! …
e lembro a conversa entre o escritor António Lobo Antunes (ALA) e o “leitor” Gonçalo M. Tavares (GMT) na Visão Nº816
…
GMT: Uma pessoa é convidada para falar meia hora e, em Portugal, isto é visto como se…(Como se não valesse nada.)
Há uma desvalorização da palavra. E sobretudo da palavra oral.
ALA: Na Alemanha, tudo isso é pago. Aqui, à excepção dos amigos, não falo de borla para ninguém. Nem pensar. E a quantidade de vezes que me pedem para «escrever qualquer coisa»? Escreva aí qualquer coisa, umas palavrinhas para um livro meu, umas palavrinhas para aqui e para acolá.
GMT: É engraçado isso de escrever num instante. Vamos imaginar que se escreve um texto em 20 minutos. A questão é que não são apenas aqueles 20 minutos, a questão é: quem é que paga os 40 anos que a pessoa esteve a ler?
ALA: Exactamente o que aconteceu com o Picasso quando lhe perguntaram quanto tempo é que ele demorava a pintar um quadro. E ele respondeu: o tempo que demorei a pintá-lo mais todos os anos da minha vida.
GMT: Há um chupismo, um vampirismo horrível. Para os outros, parece sempre que é fácil.
ALA: As crónicas que escrevo para a VISÃO não dão trabalho nenhum, mas perco sempre um dia. E, depois, como é voltar ao ritmo do livro? E não se trata apenas de pagar aqueles textos, que são piscinas para crianças, têm sempre pé e água a dar pela cintura.
…
Que fácil é achar que é fácil o trabalho dos outros!
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