sábado, 20 de dezembro de 2008

As Manif da populaça que diz que sabe o que não quer!




Os gregos inventaram a Filosofia e libertaram o pensamento das amarras da religião.
Os Romanos copiaram-nos e deram a República e a globalização à Europa.

Todo este saber foi esquecido na Idade Média (476 - 1453), para dar lugar ao obscurantismo onde pontuavam anjos, demónios, espíritos, fantasmas, mortos, santos, mártires e Deus e uma caterva de gente especializada na comunicação com eles, num jardim zoológico imenso onde a figura principal era o diabo.
Por sorte os árabes haviam copiado os textos dos gregos e foi possível importar o conhecimento perdido para dar início ao Renascimento.

Tão difícil que é manter uma sociedade a funcionar racionalmente!

1 comentário:

  1. Sei que não vou por aí!
    "Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces,
    Estendendo-me os braços, e seguros
    De que seria bom que eu os ouvisse
    Quando me dizem: "vem por aqui"!
    Eu olho-os com olhos lassos,
    (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
    E cruzo os braços,
    E nunca vou por ali...

    A minha glória é esta:
    Criar desumanidade!
    Não acompanhar ninguém.
    — Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
    Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

    Não, não vou por aí! Só vou por onde
    Me levam meus próprios passos...
    Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
    Por que me repetis: "vem por aqui!"?
    Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
    Redemoinhar aos ventos,
    Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
    A ir por aí...

    Se vim ao mundo, foi
    Só para desflorar florestas virgens,
    E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
    O mais que faço não vale nada.

    Como, pois, sereis vós
    Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
    Para eu derrubar os meus obstáculos?...
    Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
    E vós amais o que é fácil!
    Eu amo o Longe e a Miragem,
    Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

    Ide! Tendes estradas,
    Tendes jardins, tendes canteiros,
    Tendes pátria, tendes tectos,
    E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
    Eu tenho a minha Loucura !
    Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
    E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

    Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
    Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
    Mas eu, que nunca principio nem acabo,
    Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

    Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
    Ninguém me peça definições!
    Ninguém me diga: "vem por aqui"!
    A minha vida é um vendaval que se soltou.
    É uma onda que se alevantou.
    É um átomo a mais que se animou...
    Não sei por onde vou,,
    Não sei para onde vou
    - Sei que não vou por aí!

    José Régio, in Poemas de Deus e do Diabo

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