Segundo alguns estudiosos da matéria as religiões sempre realizaram duas funções muito importantes, mas muito diferentes. Em primeiro lugar e mais vulgarmente, ela age de modo a dar significado ao self alienado: oferece mitos, histórias, contos, narrativas, rituais que, em conjunto, ajudam o self a entender e suportar as negruras da vida, o sofrimento e a morte. Normalmente, esta função das religiões não altera necessariamente o nível de consciência da pessoa; não provoca transformação radical. Nem acarreta, tão-pouco, uma libertação definitiva do self alienado. Pelo contrário, ela consola, fortalece, defende e promove o self. À medida que o self alienado acredita nos mitos, executa os rituais, balbucia as orações ou aceita os dogmas, então crê fervorosamente que será “salvo” – ainda nesta vida, pela glória da salvação de Deus ou da protecção da Deusa, ou na vida após a morte, quando lhe será assegurada felicidade eterna. Vários níveis de interpretação podem coexistir, sendo favorável a melhor visão do mundo, a mais tolerante, mas está sempre presente o interpretador, o self. Mas, em segundo lugar, a religião cumpre – geralmente para uma pequena minoria muito restrita – uma função de transformação radical e de libertação. Esta função da religião não fortalece o self alienado; ao contrário, despedaça-o completamente – não o consola, não o conforta, mas devasta-o, destrói-o. Não promove o fortalecimento convencional do self , mas sim uma transformação da consciência de forma radical. A primeira função centra-se na interpretação e a segunda na transformação. No primeiro caso aceita as estruturas pré-estabelecidas pelos dogmas e convenções, no segundo, quando transformado, revoluciona todas as convenções, todas as estruturas de pensamento. O “filtro”, o self, já não está presente. É uma importante missão da religião dar legitimidade ao self – legitimidade para suas crenças, seus paradigmas, suas visões e seu caminho no mundo. Esta função da religião de prover legitimidade para o self e suas crenças – não importa quão temporária, relativa, não-transformadora ou ilusória – tem sido, todavia, a principal e mais importante função das tradições religiosas de todo o mundo. A capacidade da religião prover significado horizontal (versus vertical), legitimidade e sanção para o self e suas crenças tem-se revelado a maior cola social de qualquer cultura e não se mexe facilmente na cola básica que mantém juntas as sociedades. Pode-se, contudo, questionar a pertinência das interpretações que a religião nos oferece e o seu impacto no mundo moderno face aos dados fornecido pela ciência.
Eu entendo o papel primordial que as antigas Religiões tiveram e ainda têm na organização social, mas creio (e aqui sou crente) que a evolução tecnológica irá criar uma outra Religião para responder às actuais necessidades e que integre os Rituais Sociais que dão coesão às Sociedades. O movimento despertado por Darwin e ampliado pela crescente educação da população despe os deuses antigos das particularidades que os sustinham e tornam necessários novos deuses, de que Richard Dawkins, Susan Blackmore e Dan Dennett são Apóstolos.
Segundo Dennett, uma pessoa é “uma particular forma de símio infestado com os memes”. Nós todos recolhemos inúmeros memes do princípio ao fim da nossa vida, os quais (junto aos nossos genes e o ambiente no qual vivemos) nos tornam os indivíduos únicos que, definitivamente, somos. Mas não existe dentro um real self que vive a nossa vida? Não existe um real “eu” que toma minhas decisões e possui os meus credos? Não existe um real self que tem consciência e livre arbítrio? Diria que não. O self é justamente uma palavra em torno da qual os memes podem girar. Todos os memes beneficiam-se do facto que os humanos têm uma falsa idéia de “si mesmo”. Assim esse conceito é justamente um complicado memeplexo, criado por e para os próprios memeplexos, para a sua projecção e replicação. (http://www.susanblackmore.co.uk/Conferences/OntopsychPort.htm)
Caro PM: Obrigado pela visita! Eu não tenho veleidades de Psicólogo ou a Psiquiatra, e lembro-me mal destas coisas do tempo de escola. Co o pouco que sei, creio que ... como grupo, o homem apreende melhor os conceitos dentro de uma história. Daí que ao longo dos tempos têm sido estas a fundamentar os comportamentos. A Bíblia é talvez o melhor exemplo. Quando existem historias reais, melhor, mas na sua falta os Mitos são processos imprescindíveis. O problema actual é a desactualização dos mitos existentes, e a necessidade de fazer um Upgrade de todas as histórias que ensinam os comportamentos que a sociedade exige dos seus membros.
Segundo alguns estudiosos da matéria as religiões sempre realizaram duas funções muito importantes, mas muito diferentes. Em primeiro lugar e mais vulgarmente, ela age de modo a dar significado ao self alienado: oferece mitos, histórias, contos, narrativas, rituais que, em conjunto, ajudam o self a entender e suportar as negruras da vida, o sofrimento e a morte. Normalmente, esta função das religiões não altera necessariamente o nível de consciência da pessoa; não provoca transformação radical. Nem acarreta, tão-pouco, uma libertação definitiva do self alienado. Pelo contrário, ela consola, fortalece, defende e promove o self. À medida que o self alienado acredita nos mitos, executa os rituais, balbucia as orações ou aceita os dogmas, então crê fervorosamente que será “salvo” – ainda nesta vida, pela glória da salvação de Deus ou da protecção da Deusa, ou na vida após a morte, quando lhe será assegurada felicidade eterna. Vários níveis de interpretação podem coexistir, sendo favorável a melhor visão do mundo, a mais tolerante, mas está sempre presente o interpretador, o self.
ResponderEliminarMas, em segundo lugar, a religião cumpre – geralmente para uma pequena minoria muito restrita – uma função de transformação radical e de libertação. Esta função da religião não fortalece o self alienado; ao contrário, despedaça-o completamente – não o consola, não o conforta, mas devasta-o, destrói-o. Não promove o fortalecimento convencional do self , mas sim uma transformação da consciência de forma radical.
A primeira função centra-se na interpretação e a segunda na transformação. No primeiro caso aceita as estruturas pré-estabelecidas pelos dogmas e convenções, no segundo, quando transformado, revoluciona todas as convenções, todas as estruturas de pensamento. O “filtro”, o self, já não está presente.
É uma importante missão da religião dar legitimidade ao self – legitimidade para suas crenças, seus paradigmas, suas visões e seu caminho no mundo. Esta função da religião de prover legitimidade para o self e suas crenças – não importa quão temporária, relativa, não-transformadora ou ilusória – tem sido, todavia, a principal e mais importante função das tradições religiosas de todo o mundo. A capacidade da religião prover significado horizontal (versus vertical), legitimidade e sanção para o self e suas crenças tem-se revelado a maior cola social de qualquer cultura e não se mexe facilmente na cola básica que mantém juntas as sociedades.
Pode-se, contudo, questionar a pertinência das interpretações que a religião nos oferece e o seu impacto no mundo moderno face aos dados fornecido pela ciência.
PM
Eu entendo o papel primordial que as antigas Religiões tiveram e ainda têm na organização social, mas creio (e aqui sou crente) que a evolução tecnológica irá criar uma outra Religião para responder às actuais necessidades e que integre os Rituais Sociais que dão coesão às Sociedades.
ResponderEliminarO movimento despertado por Darwin e ampliado pela crescente educação da população despe os deuses antigos das particularidades que os sustinham e tornam necessários novos deuses, de que Richard Dawkins, Susan Blackmore e Dan Dennett são Apóstolos.
Segundo Dennett, uma pessoa é “uma particular forma de símio infestado com os memes”. Nós todos recolhemos inúmeros memes do princípio ao fim da nossa vida, os quais (junto aos nossos genes e o ambiente no qual vivemos) nos tornam os indivíduos únicos que, definitivamente, somos. Mas não existe dentro um real self que vive a nossa vida? Não existe um real “eu” que toma minhas decisões e possui os meus credos? Não existe um real self que tem consciência e livre arbítrio? Diria que não. O self é justamente uma palavra em torno da qual os memes podem girar. Todos os memes beneficiam-se do facto que os humanos têm uma falsa idéia de “si mesmo”. Assim esse conceito é justamente um complicado memeplexo, criado por e para os próprios memeplexos, para a sua projecção e replicação. (http://www.susanblackmore.co.uk/Conferences/OntopsychPort.htm)
ResponderEliminarAchei particularmente curioso este parágrafo.
PM
Caro PM: Obrigado pela visita!
ResponderEliminarEu não tenho veleidades de Psicólogo ou a Psiquiatra, e lembro-me mal destas coisas do tempo de escola.
Co o pouco que sei, creio que ... como grupo, o homem apreende melhor os conceitos dentro de uma história. Daí que ao longo dos tempos têm sido estas a fundamentar os comportamentos.
A Bíblia é talvez o melhor exemplo. Quando existem historias reais, melhor, mas na sua falta os Mitos são processos imprescindíveis.
O problema actual é a desactualização dos mitos existentes, e a necessidade de fazer um Upgrade de todas as histórias que ensinam os comportamentos que a sociedade exige dos seus membros.