domingo, 22 de fevereiro de 2009

Os nossos heróis.
















Seis meses de pesca à linha no meio de nevoeiros, ventos e tempestades, no frio de um barquinho, com uma manada de figos, azeitonas e um pão, para apanhar dia a dia todo o peixe que o mar desse. Seis meses de sujidade, de privações, de medos e humilhação a repetir todos os anos de Abril a Outubro.
Um povo inculto e escravo atirado para o mar, por necessidade ou por medo, a fazer a História de um País.

- Então Sr. Camilo se aquilo era assim tão mau, porque é que lá foi dezanove vezes? Com seis já se livrava da tropa!
- Era aquele dinheiro todo de uma vez!. Foi do que se lembrou passados quarenta anos.

Os tópicos para este post: O atraso português no processo de industrialização determinou que esta pesca se prolongasse até 1974, com base numa tecnologia ultrapassada que utilizava veleiros e dóris.
Um veleiro levava dentro 40 a 60 "Dóris". Os dóris eram pequenas embarcações individuais de fundo chato e tabuado rincado, com um comprimento de 4 a 5 metros e 80 a 100 Kg de peso. Podiam arcar com quase 1 tonelada de peixe. A opção por estes barcos tinha como objectivo, minimizar o peso e maximizar a arrumação, na coberta de um veleiro, pois eles encaixavam uns nos outros.
Os pescadores levantavam-se às 4 da manhã, matavam o bicho e saíam nos pequenos dóris. Cada um recebia um balde de isco (em geral restos do peixe capturado anteriormente) uma bucha, alguns apetrechos e uma bússola. Afastavam-se do navio a remos e depois, com a ajuda de pequenas velas, partiam para a pesca. Chegavam a afastar-se 20 milhas. Chegados ao local de pesca, iscavam e largavam uma milha de linha de pesca. Após um par de horas as linhas eram colhidas e o peixe atirado para o fundo dos pequenos barcos. Se a primeira captura fosse suficiente, voltavam ao navio para deixar o peixe e regressar para uma segunda pesca. De qualquer forma, raramente ficavam fora mais de 4 horas de cada vez. No fim do dia, no lugre, fazia-se sinal (um toque de sirene, no caso de haver neblina) para que os pequenos barcos regressassem ao navio para serem descarregados, içados, limpos de apetrechos e empilhados para a noite. Se a captura fosse suficientemente grande os pescadores ajudavam a tripulação que ficara a bordo a preparar o peixe antes de tomarem uma refeição tardia e ir para a cama (beliches).
Se houvesse nevoeiro, era estendido um cabo de 2.000 metros, suspenso em bóias para que fosse mais fácil encontrar o navio.
Para se livrar da tropa, era preciso andar 6 anos seguidos ao bacalhau.
Banho não havia. Ao fim do dia o cozinheiro dava-lhes 1 litro de água doce para se lavarem, já que esta era racionada.
Habitualmente mudavam a roupa interior 1 vez por semana e a exterior uma vez por mês. Se fossem a terra – umas 3 vezes por campanha – ainda a podiam lavar. Andavam tão sujos que “metiam nojo quando iam ao porto de St. John´s”.
Os depósitos de água dos navios eram por vezes usados para armazenar óleo de bacalhau o que tornava ainda mais escassas as reservas de água.

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