domingo, 22 de março de 2009

O meu tio Elviro

Elviro Rocha Gomes (1918 - …). Pedagogo. Homem de histórias e poemas. Mito de sã loucura.

Professor de Inglês / Alemão, informal, excêntrico e com as artes do ensino nas veias, encantou os alunos e deu-lhes o gosto do saber, para pasmo e crítica.
A loucura vinha-lhe da paixão com que vivia e ensinava.

Formou-se em Coimbra e iniciou-se no Liceu Passos Manuel em Lisboa, mas a política atirou-o para 5 anos de desterro no Funchal. Depois é Viana do Castelo, até o reitor o obrigar a Faro (1953), e ser recolhido pelos poetas.
Por onde passou, deixou amigos e a memória das picardias e entusiasmos com que se faz a aprendizagem.
Publicou poemas e sobre literatura, que o referenciaram, mas foi o chiste e a paixão dos poemas iniciais, que marcaram a minha memória.












Carta
(ao Carpinteiro a questionar a Conta por umas estantes)

Cento e setenta e um escudos,
Por um serviço tão pouco?
Não me quererá voltar,
Cento e cinquenta de troco?

Creio, e não me leve a mal,
Nem me julgue para querelas.
Que estando certo o total,
Estão erradas as parcelas.

E se uma conta somada,
Tem um e não dois totais.
Parcelas pode ter muitas,
E até parcelas a mais…

PS:
Se, totalmente falando,
Me quiser chamar forreta.
parcelarmente indagando,
quanto incluiu de gorjeta?












Vou de coche


Vou de coche, vou de coche,
Vou de coche, e vou contente.
Quem não quer andar de coche,
Fuja já da minha frente.

Há quem use o avião,
E quem gaste a camioneta.
E quem vá pela estrada fora,
Em cima da bicicleta


Eu cá por mim vou de coche,
Vou de coche e não vou mal.
Quem não quer andar de coche,
Cá comigo não se rale.

Há quem ande de helicóptero,
A fazer sombra no chão;
Outros, que vão no deserto,
De camelo é que eles vão.

Mas eu cá por mim vou de coche,
Vou de coche porque quero.
Quem não quer andar de coche,
Lá por ele é que não espero.

U-U-U – passa o comboio,
Faço-lhe adeus com um lenço.
Demora muito a passar,
Porque é pesado e extenso.

Eu porém só vou de coche,
Vou de coche sem parar.
Quem não quer andar de coche,
Não me venha importunar.

Um automóvel veloz,

Vem-se aproximando agora.
inda bem isto não disse,
Já se foi daqui p’ra fora.

Eu cá é que vou de coche,
Mais a minha companheira.
Quem não quer andar assim,
Ande lá doutra maneira.

Vou de coche, vou de coche,
Vou de coche e continuo,
E também vão dentro dele,
Quatro filhos que possuo.

Vou de coche, vou de coche,
Muito bem acomodado.
E a família dentro dele,
Vai muito bem, obrigado.










Futebol


Chega a casa cansadíssimo,
Respirando muito a custo,
Uma autentica ruína,
De um rapaz são e robusto.

António Amadeu Fernandes,
Vai repousar no seu leito.
Sua, está afogueado,
Desconjuntado, desfeito.

- O desporto realmente,
(segredam enquanto dorme),
Faz bem, mas tem um contra,
Que é desvantagem enorme.

Sé praticado sem método,
Ou então com violência
Prejudica o organismo,
E não tem eficiência.

Torce-se na cama o António,
Rebola do meio á borda.
- Jogaste a keeper ou a back?
(lhe perguntam quando acorda).

-Não (diz ele) o meu desporto,
Cansa e é mais duro. Eu que o diga!
Joguei a peão na assistência,
Contra uma claque inimiga!

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