quinta-feira, 19 de março de 2009

O Sr. Licínio



-"Dr!, Dr!. Não se lembra de mim? Sou o Licínio. Fui seu doente há mais de 10 anos, antes do Dr. ir trabalhar só para o Hospital!"
-“Claro que lembro! Então como vai essa saúde?”, pergunto, enquanto associo os dados que a memória aos poucos me vai fornecendo.
- “Agora ando com o Dr. Rui! Não desfazendo, também é bom médico!. Parece que tive uma pneumonia brava e vim parar aqui! Felizmente que já estou melhor!”
-“E aquilo do rim, está bem?”, pergunto, no receio de ter havido alguém mais afoito que lhe quisesse tirar aquele mal, que provavelmente nascera com ele, e que, não fora uma Ecografia, nunca teria sabido que o tinha.
-“O rim ainda cá está. O Dr. Rui é da mesma opinião do Dr.!”, e a conversa de circunstância prolonga-se pelo corredor da enfermaria.
Num repente lembro-me de um outro pormenor. O homem foi à consulta no fim do trabalho e vinha suado e sujo. Nesse dia faltara a empregada e eu tive de receber o pagamento da consulta. Então ele tirou do bolso o saco de plástico onde tinha o dinheiro amarfanhado e despejou-o em cima da secretária. Depois escolheu as notas, alisou-as e entregou-mas. Por fim enfiou tudo outra vez no saco, e meteu-o de novo no bolso das calças, deixando dispersas em cima da secretária migalhas e o que me pareceu serem caganitas de rato.
Estupefacto, aguardei qualquer atitude de constrangimento, que não surgiu.
-“Boa tarde, Sr. Dr!”
-“Boa tarde Sr. Licínio”, despedi-me enquanto as soprava para um dos lados.
Agora, para confirmar tudo isto, pergunto:
-“Olhe lá Sr. Licínio. Você ainda vende bolos na feira?”

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