quarta-feira, 15 de abril de 2009

Carta fúnebre























Podia não te escrever, que não davas por nada e, naturalmente, era com isso que contavas, mas respirámos longos anos o mesmo ar, e devo-te, por isso, estas palavras.

Foste um mortal, dos mais banais que conheci. Respondeste aos impulsos do corpo e da mente com um primarismo, por vezes infantil. Fizeste da amizade, ou pelo menos daquilo a que chamavas amizade, a tua bandeira, e deixaste uma boa memória por onde passaste. Amigos das tainas, dos risos, da bola e amigos do “contra tudo aquilo que tendia para se organizar de modo diferente”. Era assim que estavas construído, para beneficiar do que estava instalado, enquanto te queixavas do “pouco osso que te vinha com a carne”, e puxavas assim para o teu lado os teus iguais e mais uns quantos.

Pagaste agora a conta dos desmandos, aceitando todas as parcelas da factura.

Não te podes queixar, que a vida nada te deveu e, embora sempre dissesses que também nada lhe devias, eu atrevo-me a dizer que tudo te correu bem, que comeste, bebeste e amaste do jeito que era o teu, que falaste alto do que querias, e que te foi dada a oportunidade de distribuir generosamente o que não te pertencia.

Foste o que podias ser. Poucos se lembrarão de ti pela ciência que juraste abraçar e dirão que foste um “pobre diabo” a quem a sorte protegeu, mas muitos lembrarão as tuas histórias e a empatia em que se reviam.

Foi assim que te vi, entre as 9 e as 13 horas com os olhos e, com estas orelhas quando sobre ti comentavam.

Até um dia!

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