quarta-feira, 22 de julho de 2009

No Tribunal.


-Também cá estás?
-Queres ver que fomos chamados todos outra vez?
-É garantido! Ali está C e ali D!
-Estes gajos não sabem trabalhar. Tratam-nos como se andássemos todos de costas ao alto!

O Processo é de 2003, entre audiências e adiamentos, esta é a sétima vez que aqui vimos, para dizer o que já dissemos, umas vezes no Juízo Cível, outras no Criminal.

-É o que acontece quando os malucos andam à solta! Quem paga é quem tem juízo!
-Não é bem assim! Maluca só há uma, e essa já morreu! Os outros andam a safar-se!

Recapitulemos:
A Sra. Balbina era esquizofrénica de longa data. Vivia sozinha e recusara qualquer tratamento. Um dia foi encontrada inanimada por vizinhos e levada para o Hospital em coma diabético. Recuperou e, por continuar a recusar viver com a família, foi-lhe assegurado apoio domiciliário com uma sua antiga aluna. Manteve a recusa da medicação e entrou no SU do Hospital várias outras vezes com graves descompensações da doença.
Da última vez, teve alta já com grande degradação. Estava acamada, tinha escaras e mal respondia à voz. Morreu dias depois.
Mas … antes de morrer, pôs a impressão digital num documento que alterava o seu testamento em favor da cuidadora.
E aqui, é que está o problema.

A doente tem diagnóstico clínico de esquizofrenia e, mesmo que o não tivesse, todo o seu comportamento nos últimos 10 anos o apoia.

A tentar safar-se:
1: A Cuidadora que pensa que alguém que sabe escrever, que está na plena posse das suas faculdades mentais e sem qualquer défice motor identificado, autentica um documento com uma impressão digital.
2: O Notário que dá cobertura a uma cena destas.
3: O Tribunal, que vai vivendo com estas questiúnculas, e evita assim lidar com casos complexos.
4: Os Advogados, para quem casos como este, são a galinha dos ovos de ouro, que os transforma nos verdadeiros herdeiros.

E os quatro médicos chamados a depor, mais as 15 testemunhas, a assistir à divisão do bolo da herança.

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