domingo, 13 de setembro de 2009

Dançar com Fantasmas


Imaginem um sonho surreal que começa com uma sala de baile cheia de dançarinos elegantemente vestidos. De súbito, um membro de cada par desaparece, mas os seus companheiros continuam a dançar como se nada se tivesse modificado. Os seus braços permanecem estendidos e eles continuam a descrever círculos como se estivessem a dançar com fantasmas. Depois surge um poço sem fundo no meio da pista de dança. Ficamos a ver, fascinados, os dançarinos solitários aproximarem-se da beira do poço, como actores na beira de um palco. Infelizmente, os dançarinos mostram-se tão inconscientes do poço como da ausência dos pares. E nada podemos fazer quando eles mergulham um a um e desaparecem.
Esta fantasia sinistra torna-se realidade cada vez que um ser vivo se depara com um novo ambiente e as estratégias anteriormente bem sucedidas se tornam ineficientes. É que os organismos têm de residir num determinado meio ambiente durante um número suficiente de gerações para a relação organismo-ambiente se consolidar.

Desde tempos imemoriais, que as tartarugas marinhas bebés saem dos ninhos nas praias à noite e abrem caminho até ao mar. Evoluíram de modo a poderem orientar-se pela luz reflectida pela superfície da água, o que lhes proporcionou uma pista fiável até á altura em que começaram a ser construídas casas na praia. Agora as luzes brilham ainda mais que o luar reflectido no mar, o que leva as tartarugas a tomar a direcção errada, rumo à morte, exactamente como os dançarinos que caíam no poço do meu salão de baile surreal. …

Os carvalhos produzem as bolotas em resposta a pombos que já não escurecem os céus.

Estas espécies irão continuar a dançar com fantasmas até se extinguirem ou até a selecção natural lhes ensinar novos passos de dança.
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Nós humanos, quando somos postos numa situação completamente nova, dispomos de alguma capacidade para compreender que temos um problema e de tentar arranjar uma solução. Mas o processo mental é em muitos aspectos limitado, pois antes de possuirmos inteligência humana éramos mamíferos e primatas com um arsenal de “planos de guerra” que evoluíram por meio de selecção natural, a que a nossa inteligência humana se foi adicionar. …
Os nossos hábitos alimentares constituem um excelente exemplo de dançar com fantasmas. O desejo que sentimos de gordura, açúcar e sal fazia todo o sentido num ambiente em que essas substâncias eram constantemente escassas, mas pôr um restaurante com fast food em cada esquina, é como iluminar o céu da ilha para as tartarugas marinhas bebés.

Bem, isto também está em “A Evolução para Todos” de David Sloan Wilson, e pôs-me a pensar que nos últimos 30 anos, o ambiente social se alterou de tal modo, que deixou muita gente a dançar com fantasmas.

Entendo a discussão em torno dos novos paradigmas morais, mas ignorar o conhecimento e as funcionalidades técnicas actuais, é correr inexoravelmente para o tal buraco, por mais apoios sociais que a sociedade em determinado tempo possa oferecer.

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