terça-feira, 17 de novembro de 2009

Automóveis


Foi em 1908 que Henry Ford iniciou a construção dos automóveis em série com os Ford T, gracejando que o cliente podia escolher um de qualquer cor “desde que fosse preto”.
De lá para cá eles foram lentamente conquistando espaço. As cidades, esventraram-se para os acolher em parques e as populações foram atiradas para a periferia, convencidas de uma proximidade que ele a tudo garantia. Rasgaram-se os campos de cultivo e deu-se primazia à velocidade para se chegar com rapidez aos locais onde nada se faz e que só servem de pontos de partida para outros lugares semelhantes. E o que foi um luxo de rico tornou-se numa necessidade de pobre, que só a marca e o ano de produção diferencia.

Mas é nos países como Portugal que as classes desfavorecidas são mais prejudicadas. Aqui o jogo é obrigar cada cidadão a possuir um automóvel, mesmo que ele pouco mais ganhe que um salário mínimo.

Fala-se dele como um brinquedo, um luxo, um ícon, e cria-se-lhe a necessidade desinvestindo no transporte público e atirando as gentes para longe das escolas, dos empregos, dos Hipermercados e Centros Comerciais com que diariamente nos bombardeiam.

Depois onera-se a manutenção (o Seguro, o Imposto de Circulação, as revisões periódicas no IPO), as portagens, o estacionamento e, num instante, grande parte do salário é-lhe mais dirigido que ao bem-estar da família e à educação dos filhos.

Tardam novas redes de caminho de ferro a unir as cidades por linhas próprias independentes das de carga.
Tarda a implementação do transporte da carga a longas distâncias por caminho-de-ferro.
Tardam Metros de superfície a substituir as linhas antigas nas proximidades das grandes cidades.
Tardam medidas que facilitem a circulação de velocípedes nas cidades – vias próprias, incentivos ao parqueamento.
Tardam transportes públicos de qualidade que nos façam esquecer a comodidade do automóvel.

Poucos dias depois de uma notícia em que a Holanda tenta implementar medida que penaliza o uso do automóvel, em Portugal noticia-se mais um lanço de auto-estrada.

É que do automóvel come muita gente importante!

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