quinta-feira, 5 de novembro de 2009

"Bons" empregos


















-Oh Samuel! Eu já passei por isso!
Quando iniciei a minha vida profissional e andava à procura dos locais onde o dinheiro era possível, tropecei no "Serviço Permanente" da "Caixa de Previdência".
Tinha de fazer domicílios à noite, entre as 20:00h e as 08:00h, até um máximo de dez, em todo o Porto, Matosinhos e a avenida principal de Vila Nova de Gaia, um dia da semana e um fim-de-semana de 24h, de 5 em 5 semanas, em que o máximo era de 20 domicílios, com a cidade dividida por dois médicos. Éramos ao todo dez nestas funções e, segundo consta, aquilo era tão mau que, inicialmente, se era obrigado a passar por lá, para ter um lugar sentado num consultório.
Mas tinha vantagens para mim. As noites então não me faziam mossa e, andar de carro a altas horas a dar com as gentes que chamavam a desoras, era um desafio que compensava as “incomodidades”. E, para além de tudo o mais, … pagavam-me.
Pagavam-me meio período de Caixa, só por estar de serviço, e mais 33$00 por doente que visse. O automóvel estava por minha conta. Não havia telemóveis, o que me obrigava a ir telefonando de cabines ou da casa dos doentes a perguntar ao telefonista, que atendia os pedidos, se havia mais e onde, para não ter de voltar aos locais onde já tinha estado.
Mas a maior vantagem era que raramente havia dez chamadas numa noite, e até havia noites de duas ou três, o que me dava para estar em casa muito desse tempo.
Como alternativa teria de ir trabalhar para um posto da Caixa, algures nos arredores do Porto, fazer 4 períodos de 3 horas a ver 6 doentes à hora. O “Permanente” pareceu-me mais vantajoso.

Tão bom o achei, que um mês depois disponibilizei-me para outro lugar, e pouco tempo depois já estava com duas noites por semana no “Permanente”, a somar a uma outra, a “doer”, na Urgência do Hospital de S. João, quando calhava.

aqui contei algumas das histórias mais pitorescas que me foram acontecendo nestas andanças.
Num desses dias em que eu percorria a cidade, e nem de propósito, ouvi no rádio do meu R5, uma entrevista com alguém responsável pelos Serviços Médico-Sociais falar do “Permanente”, gabando-lhe a funcionalidade.
-“Ah! Maldito! Estes gajos não sabem estar calados!”, terei praguejado, enquanto rezava para que não houvesse ouvintes àquelas horas.
Mas havia. E a prova veio poucos dias depois.
- “Dr.! Tem oito, e ainda só são dez horas. Tem de se despachar! Se vierem mais de dez aceita?”
- “Nem pensar!”, respondi. “É que eu amanhã tenho mais vida!”.

E num repente tudo mudou. Onde eram três ou quatro, passaram a ser dez, e ao 2º mês lá estava eu outra vez à porta dos SMS, mas agora para lhes dizer, que “já estava rico”, e que uma vez por semana era suficiente para manter o património.

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