segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Melro



O melro, eu conheci-o:
Era negro, vibrante, luzidio,
Madrugador, jovial;
Logo de manhã cedo
Começava a soltar d´entre o arvoredo
Verdadeiras risadas de cristal.
E assim que o padre-cura abria a porta
Que dá para o passal,
Repicando umas finas ironias,
O melro d´entre a horta
Dizia-lhe: Bons dias!
E o velho padre-cura
Não gostava daquelas cortesias.

Era assim o Melro do Guerra Junqueiro. Mas não é assim o melro que me coube em sorte. Este, embora luzidio, não dá bons dias. É uma figura sinistra que se encobre para rezar ao seu Deus Padre Omnipotente o latim com que incendeia a horta do vizinho.

É um híbrido de ave de rapina, que não nasceu para trabalhar, mas para se apropriar do trabalho alheio e para inventar utopias e lamentos num canto de sereia de perdição.

Mas ouvem-no, e ele cresce. E manda, ... porque … pode!

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