quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Armando


















Soube hoje que morreste, e é por isso que só agora te escrevo. Nem sabia que estavas doente e, de repente, a notícia vem como um punho – O Armando morreu!.
Confesso que me deixaste a pensar. Apesar de tudo não estavas velho nem tinhas antecedentes que o fizessem prever.
Há anos que não nos falávamos mas, pese embora o teu divórcio da minha família, eu teria ido ao teu funeral dizer-te o último adeus.
Deves estar no céu (nem me passa pela cabeça que possas estar noutro lado, com tanta missa e tanto curso de cristandade a que foste), e bem perto desses anjos que defendias com unhas e dentes, nas discussões sobre Deus, que acabavam invariavelmente com cada um para seu lado, por eu não me sintonizar com esse lanço que trazias das JECs e que extremou alguns de nós.
Lembro-me do dia do teu casamento, onde te julguei senhor do mundo, tais as facilidades que aparentavas. Depois soubemos que vinhas de uma família humilde que se encostara à Igreja, e que era daí que recebias benefícios maiores que os do teu saber profissional.
Deixaste-me a dúvida dos porquês das depressões da minha prima, já que desse amor com que envolvias as palavras, podia ter sobrado algum que a confortasse, mas adiante, que isso são águas passadas e o que interessa é o presente. E o presente é que estás morto, e nesse céu de que falavas como se o desejasses.
Da última vez que te vi, foi num restaurante para os lados de Matosinhos. Estavas bem acompanhado no extremo oposto da sala, e nem te dignaste a cruzar olhares. Eu entendi! Pareceste comprometido e com medo que eu te falasse de assuntos que querias esquecer. Mas podias estar descansado, que eu não entendo um divórcio como um anátema e o mundo dá tantas voltas, que o mais sensato é a gente nunca cuspir para o ar.
Podia ter sido diferente se não racionalizássemos tanto, mas foi assim que a vida nos calhou e não temos que nos lamentar. Perdemos umas coisas, ganhamos outras.
Vou-me despedir. Fica bem por aí com os teus anjos e, se puderes, manda um qualquer indício que me ajude a entender esse espaço, para que eu me sacrifique mais nesta terra e possa ser feliz a teu lado!
Até lá!

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