quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Exorcismos



















Em 7 de Setembro de 1968, em Atlantic City, no Atlantic City Convention Hall, logo após a Convenção Nacional dos Democratas 400 activistas do WLM (Women’s Liberation Movement) num protesto contra a realização do concurso de Miss America, onde viam “uma visão arbitrária da beleza, e opressiva para as mulheres, por causa de sua exploração comercial” colocaram no chão soutiens, sapatos de salto alto, pestanas postiças, sprays de laca, maquilhagens, revistas, espartilhos, cintas e outros “instrumentos de tortura” com intenção de lhes pegar o fogo. Embora nada tenha ardido, o episódio ficou conhecido na história como Bra-Burning ou A Queima dos Soutiens e mereceu ampla divulgação pelos meios de comunicação social. Depois, aconteceram queimas de soutiens em vários cantos do mundo.

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Pouco tempo depois do 25 de Abril de 1974, desapareceram as fardas dos carteiros, dos guarda-freios e dos revisores dos eléctricos do Porto, e de muita outra gente que passou a trajar “à civil” na sua profissão, e até a soldadesca degradou o seu aspecto. “Abaixo as fardas” era o mote, como se nelas estivesse o mal que nos afligia, e até os aventais tenderam a desaparecer das cozinheiras.
A minha ignorância de então achava normal toda essa revolta, sem cuidar que nela também estava incluído um “Não” a muita coisa que era fruto da evolução cultural de uma Nação que se dizia das mais antigas da Europa. Felizmente que houve quem as mantivesse sem verem nisso servilismo ou submissão.
Nos Hospitais, os médicos “mais práfrentex” despiram as batas e, durante uns tempos, trabalharam “libertos” nas Urgências e nos Consultórios com a roupa da rua, mas o maior exorcismo centrou-se no “quépe” das enfermeiras, que passou a “indigno” e a “sinal de submissão”. O “Cap Burning”, assumiu foros libertadores e houve que acertar conceitos com os mais aguerridos, sob o risco de conotações ideológicas perigosas.
















Com o andar dos anos, enquanto o “Cap” se afundava e as fardas nos Hospitais Públicos se degradavam, elas ressurgiam noutras profissões.
É que uma farda usada com aprumo, facilita a identificação e dá dignidade ao profissional, e é a sua adulteração que estimula o desrespeito por quem já tem esse preconceito. Os ténis, os crocks de todas as cores com bonecos apensos e outros adereços de gosto duvidoso, são realidades que vamos tolerando para não afrontar essa “pseudo-liberdade” que nos ofende quando estamos “do outro lado”, e que associamos a falta de qualidade e de discrição.

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