quarta-feira, 31 de março de 2010

Uma emergência


Naquele dia, a festa de anos de casado acabou com uma clavícula fracturada na queda de uma cama, usada como palanque para o discurso.
- "Oh pai! Acabe lá com isso e venha deitar-se!” dizia-lhe o Jaime, momentos antes, tentando interromper os velhos cantochões ingleses, que só iriam parar no Serviço de Urgência, no meio de alguns ais.
Já aí, em vão, tentava afastar as atenções daquela desinibição alcoólica, que a espera prolongava, quando para cúmulo, lhe surge uma cólica inoportuna que torna inadiável uma visita ao Water Closet.
- "Fica aqui a tomar conta do meu pai, que eu tenho de ir JÁ!”, diz-me, enquanto se levanta e se dirige à porta que se abre no corredor. Sigo-o na aflição. Entra de rompante, retirando a vez a um outro, e dois segundos depois sai, arranca o cartaz em frente “Salve uma vida - doe Sangue” e leva-o amarfanhado para o interior.
Aguardo vários minutos, até o ver de novo, risonho, na minha direcção.
- “Então? Tudo bem?”, pergunto, a imaginar-lhe as dificuldades passadas.
- “Mais ou menos, dada a qualidade do papel. Mas em casa arranja-se melhor! E o meu pai?”.
- “Está pronto! Vai já sair!”
- "Uff!"

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