domingo, 20 de junho de 2010

Padre Manuel














- Conta lá outra vez. A história tem alguma lógica, mas pode não passar de uma confabulação. É que, passados todos estes anos, e tendo morrido os seus actores, não há nada que apoie a sua veracidade.
- O padre não era flor que se cheirasse, e a situação desenvolveu-se de um modo rápido demais para a época e para o espírito dos intervenientes. Não te esqueças que estamos a falar de factos que se passaram no interior do país e em meados dos anos 30 do século passado.
- Tu dizes que o padre vivia com a sobrinha, que a casou à pressa com aquele viúvo, pai de uma caterva de filhos, que o novo casal teve uma filha "prematura", e que achas isso demasiado estranho.
- Claro! Pensa bem! … Ela era a herdeira do padre que, para além de ser influente (chegou a presidente da câmara), era tido como senhor de muitos haveres. Por outro lado, o viúvo contava os tostões para dar de comer aos filhos. ... Achas isso normal? Ainda por cima, o viúvo era um tipo esperto, e a sobrinha do padre nem bonita era! ... Lembras-te dela? Parecia hipotiroideia. Nem um café era capaz de fazer, quanto mais ajudá-lo a criar os filhos! O que ele viu nela, foi o dinheiro que lhe faltava! Por outro lado, com aquela religiosidade toda, porque havia de se embeiçar por um fulano, com fama de anarquista, carregado de problemas económicos? E porque raio o padre não se oporia?
- Concordo! Sempre me pareceram um par inverosímil!
- Quanto mais penso nisto, mais me parece que o padre cozinhou aquele casamento, com carácter de emergência, por ela estar grávida. E, como não havia namorado ou alguém em quem pôr as culpas, é claro que o pai, … era o padre! Daí a pressa! O desnível de rendimentos foi uma necessidade! Até o nome que ele pôs à criança tem a ver com o facto!
- Como assim?
- Noémia! Para poder dizer ... Noéminha!
- Estás doido!
- Posso estar, mas ninguém me convence do contrário!

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