terça-feira, 30 de novembro de 2010

É pó menino e pá menina




Tudo corria bem. Não tinham surgido as habituais disfunções sociais ou organizativas e os problemas médicos tinham tido solução fácil, até a administrativa entrar consulta adentro, para me mostrar umas análises da mulher de um doente meu, que estava lá fora para me falar.
Li o nome através da transparência do envelope, e pensei de imediato - “Está grávida! Era o que faltava!”

Casaram recentemente, e desde então vem com ele, para assumir que “agora, as coisas vão correr bem", porque é ela que vai cuidar da medicação. É a “encalhada”, como em tempos, ele a chamou.
Na última consulta falou em ter filhos, e expliquei-lhe, mais uma vez, os riscos, para ela e para o bebé, mesmo com o vírus suprimido, o que está longe de acontecer. Não me pareceu convencida, mas como tem mais de quarenta anos, e não tem atraso mental, nem liguei quando me disse, displicente, que o casamento é “para o melhor e para o pior, na saúde e na doença” como quem apregoa “é p’ró menino e p’ menina, a vinte e cinco tostões!”.

Mando-a entrar. Vem bem disposta.
- Então, que se passa?
- É que o teste deu positivo!
- Não me diga que está grávida!, pergunto, enquanto abro, a medo, o envelope.
- Não!, responde a sorrir. - Deu positivo, ... o teste da SIDA!, e, perante a minha estupefacção, completa, -Sra. Dra.! É assim o casamento ... “pr'á saúde e pr’á doença!”
E eu cá para dentro a pensar ... “a vinte e cinco tostões!”
História de A.S.

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