segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Eu, Crente



Creio em Deus Pai, todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo,
seu único Filho
nosso Senhor.
Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu aos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos Céus
está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,
donde há de vir julgar os vivos e mortos.
Creio no Espírito Santo,
na Santa Igreja Católica,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne,
na vida eterna.

Àmen


Era assim o Credo que eu papagueei, sem entender, dos seis aos doze anos, e foi aí que me iniciei como crente.
Depois, quando me deram um caderno de significados, começou-me a custar dizer algumas frases. Primeiro foi o "gemendo e chorando neste vale de lágrimas" da Salvé Rainha que me pareceu excessivo, depois foi a "ressurreição da carne" e aquela coisa de "julgar os vivos e mortos", pois entendia melhor um mundo de almas, que um mundo de carnes a flutuar no céu, e custava-me que se julgassem os vivos antes de tudo ter terminado, cerceando-lhes um arrependimento final num lampejo de clarividência.

Na adolescência ganhei outras crenças. Acreditei que era possível definir um bem comum à humanidade, que poria um ponto final a todos os conflitos, e até idealizei que, num milionésimo de segundo, o universo vibrava em consonância num Nirvana resplandecente, mas desisti, ao assumir que esses ambientes estariam fora do meu espectro de existência.
Racionalizei então, que o que não era possível nessa escala, seria possível numa comunidade restrita e, durante um bom par de anos, acreditei que a bondade num pequeno grupo seria o caminho para a “santidade”.

Depois assisti à razão do dinheiro, e por curtos períodos até cheguei a acreditar que “os mercados” iriam devolver à comunidade, através dos investimentos, um bem-estar que se repercutisse naqueles que contribuíram para o seu enriquecimento e que, por uma razão ou outra, não os acompanharam na fortuna (aquela coisa do “give back” do Bill Gates).

Mas ao fim destes anos concluo, que o que move o mundo é o Medo e a Ganância, e que as crenças, são ilusões que se esfumam à segunda arremetida do pragmatismo.

4 comentários:

  1. Caro Capitão:
    A sua sensatez permite-lhe ver o que muitos nem sonham. Mas não condene o pragmatismo. A atitude pragmática é o que permite às pessoas adaptarem-se às realidades da vida. E de resto, os povos britânicos dão-lhe um nome engraçado: "common sense".

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  2. Meu caro Anónimo:
    O pragmatismo pode ser bom para se sair de uma alhada, mas não projecta futuro nenhum. E de pragmatismo em pragmatismo, o mundo afunda-se. Valham-nos alguns “Santos” que tiveram a coragem de lutar por ideias que, no imediato, lhes eram desfavoráveis.
    Não esqueça que o “senso comum” também levou à eleição de Hitler.

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  3. O desencanto é quase sempre o ponto de partida para um patamar superior de existência!
    A fé, perde-se a partir de certa altitude, acredito!
    A partir daí, embora as vistas sejam mais nítidas, em caso de queda os estragos são muito maiores! Abraços!

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  4. Caro Capitão:
    Não foi o "senso comum" que levou à eleição de Hitler mas o desespero e a fome.
    Nos tempos que correm, também não estamos livres de outra "prenda" desse género (há mesmo quem advogue a teoria de que a História repete-se sempre).
    Quanto ao resto, subscrevo inteiramente o que disse: um pragmatismo sem valores bem fundamentados numa cultura humanista, não passa de mera tática de gestão de factos.
    Continue a enviar-nos as suas reflexões. Um abraço.

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