quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Carta aberta à Maria


Cara Maria:
Confesso que nunca tinha olhado para ti. Via-te nos telejornais, sempre sem dar pela tua presença, até àquela "noite da vitória" me teres entrado pela alma.
É que eu não estava a contar com a sede de vingança do teu esposo, e fiquei tão aturdido com aquelas palavras no CCB que, nem sei bem porquê, os meus olhos passaram a seguir-te, na esperança vã de te ouvir dizer “Oh Aníbal, modera-te! Não voltes ao bolo rei!”.
Mas tu estavas em transe, alternado os olhos entre a sua boca e o papelzinho que ele tinha nas mãos, contagiada por aquele sentimento de que “nunca se engana e raramente tem dúvidas” e que, faça o que fizer, estará sempre acima de qualquer suspeita, ciente de ter quem morra para atestar a sua competência e honestidade.

Minha querida, tu, embora não mais que durante uma meia dúzia de anos, deste umas aulas, e, nessa qualidade de professora, devias ter sido mais pedagógica e, quando ninguém te estivesse a ouvir, dizias-lhe as frases que o escravo em Roma (colocado bem detrás do General vitorioso), deveria juntar às aclamações da multidão, no trajecto em pompa rumo ao Capitólio: “Lembra-te que és um homem!" "Toda a glória é efémera!”
Mas, nesse teu desígnio de seres a sua bengala, a sua almofada, a sua sombra e os 800 Euros que ajudam nas miudezas da retrosaria, do padeiro e nas flores para mostrar que há uma mulher em casa, não foste capaz de te dessintonizares.
Mas vais ter tempo nestes próximos cinco anos. Diz-lhe isso e diz-lhe também que ele não se pode pôr de fora de toda a porcaria que se fez e faz, que ele não andou por Marte e que essa coisa de “magistratura de influência” não é coisa menor, e, se ele não entender, fala-lhe do Vara, do Godinho ou do Dias Loureiro.

Aceita um conselho. Fazes como dantes, comidinha a horas e de acordo com os seus desejos, mas, de vez em quando, fala-lhe da falta de qualidade das decisões afectadas pelo populismo e pelo compadrio, fala-lhe desta coisa do “faz de conta” que nos faz perder credibilidade, e talvez ele sinta alguma humildade e mude os alvos a abater.
Mas não o maces muito, que os teus 72 anos são já um perigo e não garantem que uma reprimenda mais acintosa te cause um treco difícil de recuperar.
Faz como achares melhor. Tens a minha opinião, mas olha pela tua saúde que eu aqui não te posso valer!
Até às próximas eleições!

Fernando

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