- E trouxe os remédios do Sr. Manuel?, pergunto à esposa ainda mal refeita do susto de o ter encontrado caído na sala, sem dar acordo de si!
- Oh Sr. Dr.! Com a aflição, foi só chamar os Bombeiros e correr para cá! Não trouxe nada! Mas ele está a tomar uns comprimidos amarelos para a tensão, uns pequeninos e redondos para o coração e outros para o sangue gordo. Também toma para os nervos, que depois do AVC lhe prender o lado esquerdo, ficou difícil de aturar!
- E tem alguém em casa a quem possa perguntar, ou que os possa trazer?
Não tem! Vivem os dois sozinhos a vinte e cinco quilómetros do Hospital. Ele tem setenta e cinco anos muito estragados. Ela é um pouco mais nova e está bem conservada. Este problema fê-la passar o limite. Deita as mãos à cabeça e tenta ajudar na observação do marido.
- Sr. Dr. não sei mais que fazer! Deixei-o em casa para ir vender uns rissóis, a ver se componho a vida, e chego a casa e encontro-o assim! Nos últimos tempos tem sido sempre a andar para trás. O dinheiro mal chega para os remédios. Ele tem 248 Euros de reforma e eu de cá não tenho nada. Valem-me 170 Euros que me vêm do Brasil, onde tenho família. Mas a pagar uma renda de casa de 160 Euros, veja lá o que me sobra.
- Mas vocês não têm filhos?, pergunto, a antever a desgraça.
- Temos uma filha com cinquenta anos que mora perto, mas está desempregada. Há sete anos meteu-se a comprar casa e agora tem o empréstimo a pagar. O marido que é camionista em Espanha, esteve desempregado depois da firma onde trabalhava ter aberto falência. Só há três meses é que um amigo, que sabia que ele conhecia as estradas todas da Alemanha até á Suiça, lhe arranjou um novo emprego. Mas não tem ordenado. Ganha por transporte. Mal dá para equilibrar a casa, que a minha neta mais nova não consegue trabalho. Tirou dois cursos no Porto. O primeiro de engenharia informática e como gostava muito de Medicina, pediu um empréstimo ao Banco e tirou o de Fisioterapeuta. Farta-se de ir aqui e ali. Mas isto agora está difícil para a gente nova. E ela é muito esperta!
- E a outra neta?
- A outra é Educadora de Infância em Chaves. Vive lá com o namorado há seis anos. Também se meteu a comprar casa com empréstimo. Está a ver Sr. Dr.! Estão todos com o dinheiro contado ao cêntimo. Estávamos tão bem em Moçambique. O meu marido trabalhava na estiva no porto da Beira, mas tínhamos tudo. Viemos para cá com uma mão à frente e outra atrás, a dar graças a Deus por nos terem deixado sair.
- Bem! A Sra. não se pode queixar muito. Em duas gerações a sua família passou da estiva a netas doutoras. Claro que estão todos endividados e dispersos, mas isso é a “fruta da época”. E agora voltando ao seu marido, ele fica internado e amanhã sem falta a senhora traz os medicamentos.
- Obrigada Sr. Dr.!, e como é que eu a esta hora da noite vou para casa?
- Fale com o porteiro. Pode ser que uma das muitas ambulâncias que estão a trazer doentes, na volta a leve.
- Também se não arranjar, sento-me na sala de espera, e fico lá a dormir!
- Oh Sr. Dr.! Com a aflição, foi só chamar os Bombeiros e correr para cá! Não trouxe nada! Mas ele está a tomar uns comprimidos amarelos para a tensão, uns pequeninos e redondos para o coração e outros para o sangue gordo. Também toma para os nervos, que depois do AVC lhe prender o lado esquerdo, ficou difícil de aturar!
- E tem alguém em casa a quem possa perguntar, ou que os possa trazer?
Não tem! Vivem os dois sozinhos a vinte e cinco quilómetros do Hospital. Ele tem setenta e cinco anos muito estragados. Ela é um pouco mais nova e está bem conservada. Este problema fê-la passar o limite. Deita as mãos à cabeça e tenta ajudar na observação do marido.
- Sr. Dr. não sei mais que fazer! Deixei-o em casa para ir vender uns rissóis, a ver se componho a vida, e chego a casa e encontro-o assim! Nos últimos tempos tem sido sempre a andar para trás. O dinheiro mal chega para os remédios. Ele tem 248 Euros de reforma e eu de cá não tenho nada. Valem-me 170 Euros que me vêm do Brasil, onde tenho família. Mas a pagar uma renda de casa de 160 Euros, veja lá o que me sobra.
- Mas vocês não têm filhos?, pergunto, a antever a desgraça.
- Temos uma filha com cinquenta anos que mora perto, mas está desempregada. Há sete anos meteu-se a comprar casa e agora tem o empréstimo a pagar. O marido que é camionista em Espanha, esteve desempregado depois da firma onde trabalhava ter aberto falência. Só há três meses é que um amigo, que sabia que ele conhecia as estradas todas da Alemanha até á Suiça, lhe arranjou um novo emprego. Mas não tem ordenado. Ganha por transporte. Mal dá para equilibrar a casa, que a minha neta mais nova não consegue trabalho. Tirou dois cursos no Porto. O primeiro de engenharia informática e como gostava muito de Medicina, pediu um empréstimo ao Banco e tirou o de Fisioterapeuta. Farta-se de ir aqui e ali. Mas isto agora está difícil para a gente nova. E ela é muito esperta!
- E a outra neta?
- A outra é Educadora de Infância em Chaves. Vive lá com o namorado há seis anos. Também se meteu a comprar casa com empréstimo. Está a ver Sr. Dr.! Estão todos com o dinheiro contado ao cêntimo. Estávamos tão bem em Moçambique. O meu marido trabalhava na estiva no porto da Beira, mas tínhamos tudo. Viemos para cá com uma mão à frente e outra atrás, a dar graças a Deus por nos terem deixado sair.
- Bem! A Sra. não se pode queixar muito. Em duas gerações a sua família passou da estiva a netas doutoras. Claro que estão todos endividados e dispersos, mas isso é a “fruta da época”. E agora voltando ao seu marido, ele fica internado e amanhã sem falta a senhora traz os medicamentos.
- Obrigada Sr. Dr.!, e como é que eu a esta hora da noite vou para casa?
- Fale com o porteiro. Pode ser que uma das muitas ambulâncias que estão a trazer doentes, na volta a leve.
- Também se não arranjar, sento-me na sala de espera, e fico lá a dormir!
Sem comentários:
Enviar um comentário