Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Chevrolet Corvette C6
Bateu na mulher com quem vive há mais de 30 anos. A filha, que o acompanha, diz que não se anda a dar com ninguém.
Tem 56 anos. Está emigrado em França desde jovem. “Trabalhou como um mouro, para agora estar bem na vida". Está de baixa desde Novembro “por causa de uma lombalgia”. Há uma semana, veio, como de costume, de férias. E o que eram para ser umas “vacances de rêve”, têm sido um pesadelo, com todos contra ele. Não trouxe o carro, porque está sem carta.
- Como foi isso?
- Foi por causa dos pontos. Fiquei com mais de doze. Só em Novembro é que volto a ter o "permis de conduire". Entretanto comprei um Chatenet.
- O que é Chatenet?
- É um carro que não precisa carta, desses que têm velocidade máxima de 45km/h, mas eu fiz-lhe umas modificações e ele agora dá 120! O meu carro é um Corvette C6. Conhece? Comprei-o novo há dois anos! Dá 300 à hora! Só uma vez é que levei o pedal ao fundo! Sabe! Eu sempre gostei de carros!
- Mas se você agora for apanhado a mais de 45Km/h vai ser um sarilho!
-Pois é! Se for apanhado, pegam no carro e põem-no na sucata. Se fosse com o da “interprise” era diferente, que eles multam a companhia e depois ela envia-me a conta! Mas não foi por excesso de velocidade que fiquei sem os pontos. Foi por causa do telemóvel e por andar sem cinto de segurança.
- E o carro está pago?
- Dinheiro não falta! O problema é andarem todos a chatear-me! Eu só vou a bem! Em minha casa sempre mandou a mulher! Ela gostava e comprava. Eu não me metia nisso. Agora eu falo para ela e ela responde torto! Como é? Eu sou determinado! Se alguém faz alguma coisa que eu não gosto … a cabeça fica a pensar e não descansa enquanto a não destruo. Mas não é a matar, entende? É fazer tudo para que ela fique prejudicada!
…
Olho para a filha que, sentada ao lado, se mantém calada, enrugando a tempos a testa, como que a dizer “É uma cruz que temos de suportar!”, e confirmo que vivem, desafogadamente. Trabalhou no “bâtiment, numa grande Enterprise française, … voilá!”. Já foi medicado por um psiquiatra, mas não toma os medicamentos e em casa ninguém se entende.
- Desculpe! E o psiquiatra não lhe falou em transtorno bipolar?
- Sim! Acho que foi isso que ele disse!
- E porque é que não disse logo que ele tinha esse diagnóstico. Estivemos a perder tempo. E eu com tanto que fazer!
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