sábado, 15 de outubro de 2011

Beleza natural




Estou sentado a escrever no PC, obrigado a olhar o teclado para dar celeridade à escrita, onde só os indicadores trabalham.
Levanto os olhos para ver o texto escrito e dou com elas, de pé, atrás do écran. São mãe e filha. Ambas bonitas, embora sobressaia o branco alinhado dos dentes no sorriso da mais nova. Não dei pela sua entrada. Tinha chamado pelo intercomunicador, mas como não apareceu ninguém à porta, voltei à secretária para acabar o registo do doente anterior.

- Desculpe Dr.! Vimos a porta aberta e entrámos! Estávamos na sala de espera errada e custou a dar com esta sala.
- Não tem mal! Sentem-se se fazem favor! Estava aqui a escrevinhar umas coisas e nem dei por vós. Quem é a doente?
- É a minha filha que tem as mãos todas estragadas! Diz a mãe, enquanto a rapariga se levanta e as estende na minha direcção, com um gesto delicado. Tem vinte anos. É linda, elegante e veste sobriamente uma calça bege e um blusa verde alface de manga caveada. Tem como único adorno um fino fio ao pescoço. Não a estranharia numa capa de revista.
- Onde trabalha?
- Numa estufa de flores!
- A fazer especificamente o quê?
- A tirar ervas daninhas e a cortar flores para serem embaladas! Estão cheias de produtos químicos e eu penso que sou alérgica a um deles. Há alturas em que fico com as mãos cheias de eczema de tanta coceira. E sempre com luvas. Bem pior do que estão agora.
- Desculpe a pergunta. Quanto ganha por esse trabalho?
- O salário mínimo! Pouco mais que 2,5€ à hora.
- E qual é a sua formação?
- Tenho o 12º ano!
...

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