Manuel Seita (1970 - ...)
A memória de uma viagem e do artista "in loco" - Almodôvar
Nasceu em Vila Verde de Ficalho. Expõe desde 1993.
Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Kami
Participação:
Cumpro dever de participar a todas as pessoas de suas relações e amizade, presentes e ausentes, o falecimento da Kami da Casa do Cabo.
Epitáfio:
Se no Céu há cães, tu por certo já lá andas, de bola na boca, à espera de quem ta atire, que até ao Inferno a vais buscar.
Carta Fúnebre:
Deixaste-nos mais pobres, com o vazio dos três anos em que foste parte da família.
Chegaste de laço cor de rosa. Uma prenda inesperada. Um sinal de amizade, num tempo de oportunismos.
Cresceste, a exigir cuidados de pai, com as dietas e no medo dos engasganços. Fizeste as tropelias de quem transpira vida por todos os poros, e lhe responde com a agilidade de um corpo são, e, nessas maluqueiras, arrombaste o que vias pela frente e roeste o que desse alívio aos dentes que te cresciam.
Depois, mais estável, foste o cão dócil, sempre atento e preocupado em agradar em todas as circunstâncias. Um amigo que nos recebe à porta de nossa casa, dez minutos depois de termos saído, como se não nos visse há mais de um ano. Impossível esquecer.!
Quis o destino que partisses do modo que já previra.
Consegui lembrar-me sempre de te proteger do veneno dos ratos, dos pesticidas e dos herbicidas, mas não pensei que fosses capaz de lamber da relva o repelente das toupeiras que pus nas laranjeiras.
Tiveste 36 horas de sofrimento. Creio que foram as únicas, na tua breve vida.
Entretém-te aí no Céu, que eu, quando aí chegar, atiro-te a bola bem para o meio de uma escura nuvem, que vais ter de dar voltas e voltas até poderes vir de rabo a abanar, mostrares-me o feito.
Até lá! Fica bem!
NOTA:
Ricinus communis (Castor Bean) é um arbusto de rápido crescimento anual. As sementes e, em menor grau, as folhas, contêm ricina, uma proteína, altamente tóxica em pequenas quantidades. O homem, bem como o gado, cães, cabras, cavalos, aves, coelhos, ovinos e suínos correm risco de envenenamento após ingerir as sementes. O revestimento das sementes deve ser danificado para permitir que a água penetre no seu interior, e liberte a ricina solúvel. A ricina é uma toxina que actua pela inibição da síntese proteíca.
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Anonymous
No desenho da figura humana, um corpo adulto normal mede sete cabeças. Mas se estamos a desenhar uma figura estilizada para uma revista de moda, as proporções passam para oito cabeças e meia, aplicando o excesso ao peito e às pernas - (é uma das razões dos saltos altos).
São estas "liberdades" que usam os criativos, para que os seus desenhos “falem”, e acrescentem qualquer coisa ao que já foi dito.
Onde a criatividade é entendida como subversão, abre-se espaço para os “Anonymous” fazerem os seus "bonecos", sem preocupação de qualidade.
... Estaremos a caminho????
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Agruras
O que lhe faz perigar a vida é uma pneumonia, mas o que sobressai é a obesidade e o discurso da "depressão", ambos com 48 anos de idade.
Os poucos passos que dá, põem-na exausta, mas não lhe perturbam a actividade célere do pensamento.
- "Sra. Dra.! Não se esqueça dos calmantes. É que não passo sem eles!", e, de imediato, abre a caixa das contrariedades que foi somando na vida - a morte dos familiares, as doenças, o estar só com o marido, também ele com limitações.
Dos filhos, persistem dois, em França, onde esteve emigrada. Ganham bem. Um, está em processo de divórcio. Casou mal. Fazia-lhe tudo. Até a penteava. Mimava-a demais. Mas ela não o merecia. Era uma gastadora. Ainda agora lhe dá 2.500 Euros todos os meses, mais 800 por cada filho.
- Mas ela é francesa?
- Não!
- Então!?... É árabe??
- Pior! ... É de Âncora!
- ...
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Sua Excelência
"As palavras são como as cerejas".
Como se chama? E o nome leva-me ao personagem de uma peça de teatro do Luís de Stau Monteiro - "Sua Excelência" (1971).
Li o livro como se assistisse à sua representação no Teatro Maria Matos, que o Igrejas Caeiro (o tal personagem) fundou e dirigiu.
Há livros que nos orientam o olhar. Este foi um deles.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
A veiga
Se me conseguisse aproximar de livro em punho, se calhar, tinha certezas.
Havia uma garça boieira (Bubulcus ibis), mas o grosso do bando pareceram-me guinchos (Larus ridibundus).
Quanto à veiga, só um país muito rico se pode dar ao luxo de sub-aproveitar este espaço agrícola que vai de Afife a Viana.
Talvez a crise lhe dê a vida que lhe falta.
domingo, 19 de fevereiro de 2012
Santos
Bom Jesus. Uma tarde, neste Inverno sem nuvens. Esplanadas cheias e muitas fotos. Raparigas de leggings/quase meias, de todas as cores, só agasalhadas dos ilíacos para cima, a invocar um verão no seu hemisfério sul. Sons multinacionais.
- Não é aqui que está o Dr. Melífluo? Aquele que é doutorado no Sagrado Coração de Maria?
Não estava. Tinha quase a certeza de o encontrar, no largo fronteiro à Igreja, à minha espera, com esse nome e a tese de doutoramento no seu pedestal. São Bernardo de Claraval (1090 – 1153), o monge cistercence, que Umberto Eco fez lembrar no Nome da Rosa.
São tantos os santos e tão escassa a informação turístico/religiosa, que me vou embora com a promessa interior de lá voltar, para não trair a memória.
Ao lado, uma acompanhante divaga, "experiências" religiosas de juventude.
- Não é aqui que está o Dr. Melífluo? Aquele que é doutorado no Sagrado Coração de Maria?
Não estava. Tinha quase a certeza de o encontrar, no largo fronteiro à Igreja, à minha espera, com esse nome e a tese de doutoramento no seu pedestal. São Bernardo de Claraval (1090 – 1153), o monge cistercence, que Umberto Eco fez lembrar no Nome da Rosa.
São tantos os santos e tão escassa a informação turístico/religiosa, que me vou embora com a promessa interior de lá voltar, para não trair a memória.
Ao lado, uma acompanhante divaga, "experiências" religiosas de juventude.
A Santa de Balasar, pôs-lhe a mão na cabeça aos 3 anos de idade, numa romagem de domingo à sua casa.
Em Delães, viu a “santinha”. Foi com a mãe e o irmão, que na altura teria 8 anos. Um de cada lado, seguros pela mão e envoltos em recomendações. Entraram no cemitério, seguindo a longa fila de curiosos/devotos até à capela onde estava o cadáver da "irmã" Maria Tereza, falecida a 1879 e encontrada "incorrupta” em 1960, aquando da demolição da antiga igreja paroquial.
Diz que viu “um tição negro” envolto em sedas e rendas brancas. O irmão viu “o demónio”. Deu um grito e só parou em casa a 3Km de distância.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Arranjos
- Por favor! Pode-me atender? Queria um botão para um reservatório de uma sanita Rocca Meridien. O modelo tem uns dez anos.
- Saltou!? Não foi?
- Foi mesmo. A minha sobrinha descarregou a água e ao tirar o dedo, um dos botões veio atrás, caiu na sanita e foi por ali abaixo.
- Era o defeito desses botões de palheta. Já não se fabricam. Agora o botão novo tem uma rosca.
- Óptimo! Dê-me um.
- Mas há um problema. É que esse pulsador não dá com o sistema antigo que está dentro do reservatório. Vai ter de comprar o conjunto completo que anda pelos 50 Euros.
- E o botão sozinho quanto custa?
- O pulsador duplo, já com IVA, custa 9.52 Euros.
- Então dê-mo, que eu vou ver se o consigo adaptar.
- Olhe que não dá!
- Se não der, eu venho cá buscar o resto! E já agora, tem abajures para estes candeeiros de jardim, que o cão me partiu?
- Não! Esse modelo já não se fabrica e o mais parecido não encaixa. Tem de comprar o modelo novo que é parecido, mas não é preto, é em aço.
- Deixe lá. Vou ver se o consigo colar, para não ficar com um de cada nação. Quando tiver que os mudar, então mudo-os todos.
O botão demorou 1 hora a adaptar. O candeeiro, dez minutos a colar!
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Credibilidade
Eu nasci no tempo em que a classe média tinha dois pares de sapatos, um para os dias de festa e outro para o dia-a-dia, num tempo em que as avarias se reparavam, em que só havia bolos ao domingo, quando, quem tinha mais que um relógio, era rico.
Talvez por isso, cuide dos objectos que o destino me pôs nas mãos e me custe o desperdício com que nos habituamos a viver, entenda o luxo como uma “trabalheira” e procure, a todo o tempo, diferenciar o essencial do supérfluo.
Mas neste tempo de gadgets, com o imaginário de muitos de nós psicóticamente impregnado pelo culto do consumo como padrão de evolução social, vai ser difícil tornar Portugal um país sustentável, a manter-se a tendência para correr atrás de quem promete o “bacalhau a pataco” em vez de escolher um projecto credível onde haja pouco lugar para os “jogos de luzes” dos políticos.
Não basta o Governo ser honesto, é preciso que se saiba livrar da multidão de incompetentes que o seguem como lapas, e que, com a promessa de fidelidade a qualquer preço, se procura desculpabilizar.
Falta fazer o apuramento das responsabilidades pelo desastre nacional. Principalmente das que ocorreram no passado recente, quando "a crise" já se anunciava, e ainda se promoviam gastos, para dar brilho a presunções e notabilizar a incompetência.
Falta fazer o levantamento dessa nomenklatura silenciosa e submissa que nos rege, antes que se atinjam níveis de funcionalidade impossíveis de recuperar.
A isso chamo “Ganhar Credibilidade”
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Globalização/Deslocalização
A História é fundamental. Não para promover um "patriotismo bacoco", mas para entender as causas que transformam as sociedades.
Medina Carreira (aqui) dá a conhecer os problemas que a globalização trouxe ao Império Americano (a que a Europa pertence), com a deslocalização das suas indústrias para a Ásia e a progressiva dependência do petróleo.
Os conflitos nas suas margens, já indiciam o início da sua queda e do sistema que o apoia.
domingo, 12 de fevereiro de 2012
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Discurso de Natal
Raramente faço discursos pois temo dizer coisas que amanhã me arrependo, tão mutáveis têm sido os tempos, neste tempo.
Nos últimos anos assistimos a grandes mudanças no nosso modo de trabalhar, que implicam maior responsabilização nos actos praticados nos cuidados directos aos doentes e das chefias. Sente-se que em alguns aspectos estas andam atrasadas em relação ao exigido, e tal é mais evidente quando se sente a sua ausência, e têm de ser níveis mais baixos a acharem as soluções que faltam em tempo útil.
É este "fazer certo em tempo útil" o que mais está a mudar. Houve tempo em que se tinha todo o tempo. Agora ou se faz, ou se perde a oportunidade de fazer.
Dou "graças a Deus" ao dia em que decidi vir para aqui, e vos ter encontrado dinâmicos e disponíveis para todas as modificações que quisemos e fomos obrigados. Outros locais e outras gentes, debatem-se com problemas graves há muito solucionados por nós. E digo NÓS em conjunto, pois creio que todos tivemos a nossa quota parte na modernização desta unidade hospitalar. Não me envergonho de contar o que cá se passa, as dificuldades por que passámos, e a representação do Serviço no exterior só nos tem honrado.
Apesar dos pequenos conflitos, que considero naturais, creio que todos se respeitam, e tentam compreender as dificuldades dos outros e que regra geral, o interesse do Serviço anda acima dos interesses particulares. Creio também que somos pessoas honestas e que as pequenas tricas que têm surgido ao longo de todos estes anos, fizeram parte do processo de crescimento.
Uma última palavra para o futuro. Até aqui fomos todos NOVOS. Alguns de nós estão na idade em que se começam a cansar do trabalho, se calhar uns dos outros, da rotina e a perder a esperança das melhorias que ansiámos e que tardam a chegar. Creio que se tivermos maturidade, e dermos valor ao que é importante, teremos sempre objectivos que faremos nossos e que darão o prazer de um trabalho gratificante.
Andar com palavras de desânimo é contribuir para a destruição do Serviço, que nos poderá arrastar para uma situação bem pior que a anterior.
Vou acabar com uma palavra de gratidão para todos vós, onde vejo amigos para além de companheiros de trabalho.
BEM HAJAM
Dezembro de 2007
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Hortas Urbanas
Sempre ouvi os insensatos, menosprezarem quem, fruto de estudo e alguma visão, faz propostas contra a corrente do pensamento da maioria.
O Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, nestes últimos 30 anos, tem sido alvo da "condescendência ignorante" de muitos de nós, na sua luta em defesa das Hortas Urbana.
Horta urbana é um pequeno lote de terreno (excluem-se os quintais contíguos às habitações) alugado a particulares para a cultura de legumes, frutos ou flores, em áreas urbanas ou periurbanas. É um equipamento comunitário que dá à cidade um espaço de interacção social e que lhe aumenta a qualidade ambiental. É uma infra-estrutura com custos reduzidos, grande potencial de retorno na vida económica das famílias e um factor importante no combate à exclusão de desempregados, idosos e pessoas com deficiência.
Os jardineiros individuais organizam-se em associações, que arrendam a terra a um proprietário, que pode ser uma entidade pública, privada ou eclesiástica, e que geralmente determina que seja usado somente para jardinagem
Em muitas cidades, por essa Europa fora, há lotes que se arrendam ou que as edilidades cedem para jardinagem não-profissional. O tamanho das parcelas, varia entre 50 e 400 metros quadrados, e muitas vezes os lotes incluem um coberto para ferramentas e abrigo.
Em Guimarães a Horta Pedagógica , tem tido muito sucesso. Em Lisboa já há gente nos Parques Hortícolas.
Na Holanda há 240.000 pequenas Hortas Urbanas, mas começaram em 1838.
Vamos lá a ver se a "crise" nos põe no bom caminho, nos faz voltar aos terrenos abandonados e deixarmos de os ter à espera de um bom negócio com alguém que queira lá pôr uma casinha.
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Gerundismo
Não tenho qualquer pretensão linguística, mas não gosto do Gerundismo.
Não sei se ele teve origem nas traduções literais do inglês ou na influência das telenovelas brasileiras, mas a facilidade com que o adoptámos, diz muito da nossa pouca qualidade como defensores deste património, que é a língua portuguesa.
O gerúndio indica uma acção em andamento, um processo que ainda não foi finalizado. O seu emprego é tão problemático que alguns escritores fazem esforços para nunca o empregar, substituindo-o pela construção "a + infinito" – por exemplo, em vez de "estou cantando" dizemos "estou a cantar".
Nalgumas regiões do país (Alentejo) o seu uso é propositado para intensificar aquelas acções que pensamos prolongadas, e é frequente ouvir “Isso não é para comer, é para ir comendo!”, quando estão a falar de petiscos, ou em relação ao trabalho minucioso: "Isso não é para fazer, é para ir fazendo!”.
Seja como for, ler histórias clínicas de médicos portugueses, com um gerúndio em cada linha, imitando textos de brasileiros e espanhóis, não abona muito em seu favor, principalmente, quando até no Brasil já se dão orientações, para os evitar.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Ascite refractária
- Dona Cândida! A Sra. já está com uma dose grande de diurético e não perde peso! Só vejo uma justificação. A Sra. bebe mais que aquilo que está acordado!
- Sr. Dr.! Pela minha saúde! Eu só bebo o que me trazem às refeições!
- E então para que é esse copo vazio aí ao pé da sua cadeira?
- Ahh! Foi para empurrar o Senhor! Veio aqui uma daquelas senhoras que dá a comunhão, e perguntou-me se queria. Não vi porque não! Mas o Senhor ficou-me colado ao céu da boca e eu tive de o empurrar.
- Oh Dona Cândida! Mas empurrou-o ou … afogou-o?
...
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Porque não?
Era um homem bonito, com conhecimentos, bons rendimentos e tudo aquilo que uma mulher deseja se quer uma família.
Ao domingo, as mães levavam as filhas às primeiras filas, para lhes expandir as oportunidades, na certeza de que Deus ajuda quem se senta no círculo do seu chapéu. À semana, nas aulas, sentia que umas exultavam volúpias em seu redor, a obrigá-lo a disfarçar fragilidades, e outras se chegavam, inocentes, como a solicitar a carícia que em casa lhes faltava.
-Porque Não?
-Porque NÃO!
Nuns dias, a mão fugia-lhe para subtilezas carinhosas. Noutros, mortificava-se em fórmulas aprendidas, para embutir os devaneios para que a mente resvalava.
-Porque Não?
-Porque não!
Mais tarde aceitou-se construído como aos demais. Lia e relia para entender a Vida, e concluir que ela não mais era que uma persistente luta pela subsistência e pela reprodução, e que o ofício lhe vedava esse tão simples milagre, que é o dar vida a nova vida, quando se encontra quem nos completa e nos faz sentir que o ser que irá nascer, será obrigatoriamente melhor que qualquer de nós.
-Porque não?
- Porque ...!
As histórias dos abusos do clero sobre menores e adultos vulneráveis, pesavam-lhe e a condicionavam-lhe os gestos, enquanto vivia a ilusão do fim do celibato, por ver esvaziarem-se os seminários e o crecimento das dificuldades para manter a estrutura da Igreja.
-Porque Não?
-Porque ...?!
Agora, para lá do meio da vida, com obra feita, voltara a sentir os impulsos. Menos intensos, mas mais prementes.
-Porque não? E, temeroso, abriu uma frincha à líbido.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Tiro ao Álvaro
De tanto levar frechada do teu olhar
Meu peito até parece, sabe o quê?
Táubua de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furá.
Teu olhar mata mais
Do que bala de carabina
Que veneno estriquinina
que peixera de baiano
Teu olhar mata mais
Do que atropelamento de automóver
Mata mais que bala de revórver
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Carta ao Álvaro
Caro Álvaro:
Desculpa estar aqui a tutear-te, mas foste tu que o pediste, quando vieste, há uma meia dúzia de meses, com essa vontade eufórica de resolver a questão em duas penadas. Parecias um daqueles craques que chega ao aeroporto, convencido que vai marcar golos porque vem de um outro campeonato.
Lamento dizer-te, mas mesmo que sues a camisola, vai ser difícil, porque a malta já está a pensar em não te passar a bola, por causa dessa tua guerra contra os feriados e o Carnaval, para … “aumentar a produtividade” do país, porque não é esse o caminho.
O caminho é assegurar que as lideranças no sector público e no privado, não vivam na dependência de clientelismos e de “Yes men” para cobrir todo tipo de falcatruas. Aí ainda não mexeste e há muitos patetas a insistir na preferência pessoal, sem notar que as melhores soluções estão em quem não está para os aturar. Se não pões cobro a isto, vamos de mediocridade em mediocridade, só porque te é mais fácil aumentar o nº de horas de trabalho.
Esses lugares têm de ser ocupados por quem vê para além do jogo das “regras” e dos “objectivos” que rapidamente se corrompem em números, para que os "incentivos" os "apoios" e os "fundos" vão parar às mãos erradas.
O que lhes vale é a malta andar com a corda na garganta a pensar em como pagar a Escola dos filhos e as prestações da casa e do automóvel, sem veleidades de discordar do que quer que seja. São as dívidas e a perspectiva do desemprego que lhes calam fundo no peito. Mas isto é enquanto o magro ordenado cair ao fim do mês, senão vais ver crescer uma nova "primavera árabe", que até a Igreja já preconiza.
E tu está-te a pôr tão a jeito, que vai dar vontade de fazer tiro ao Álvaro.
Aceita um conselho. Mantém a cadeira em Vancouver, pelo menos até ao fim do ano, e fala com as pessoas que têm filhos pequenos ou velhos a seu cargo, e pergunta-lhes se estão disponíveis para os entregarem aos Infantários e aos Lares, para que possam dedicar toda a sua vida aos empregos.
Diz qualquer coisa, que eu fico à espera.
Até à próxima.
sábado, 4 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
Mini-Album das tuas Fotos
No dia em que me apercebi que me observavas.
No dia em que correste para me apanhar no corredor.
No dia em que o primeiro-ministro anunciou um novo pacote de austeridade a incluir no Orçamento do Estado.
No dia em que o Financial Times disse que o regresso de Portugal aos mercados em 2013 é “inconcebível”, contrariando assim as afirmações de Vitor Gaspar.
No dia em que a Cristinha fez anos.
Quando o Porto perdeu 3-1 com o Gil Vicente
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Carta de Amor
Quem havia de dizer que ao fim de todos estes anos eu ia olhar para ti do jeito com que agora o faço. Até me envergonho por não ter ligado à tua beleza, mas andei tão apressado daqui para ali, que não reparei que os teus olhos me seguiam por detrás dessa janela.
Às vezes dá-me para pensar que não estiveste sempre aí e que chegaste há poucos dias, mas sou eu a desculpar-me desta desatenção de nem um bom-dia te ter dado, quanto mais o parar para te falar.
Notei-te pela primeira vez, há-de haver duas semanas, quando tomava café naquela máquina do Piso 6. Olhavas tão insistentemente para mim que quase me embaracei. Estava sozinho, tinha ido a uma janela espreitar para fora, e foi então que deparei com esse teu olhar metálico, cheio de timidez. Fiz que não percebia, mas senti um pequeno tropeço no peito e creio que até sorri, quando, mais à frente, te vi de novo no corredor do serviço a espreitar por outra vidraça. Não sei que voltas deste para lá chegar tão rápido, mas estavas confiante e muito ruborizada.
Agora já somos amigos e deixo-te ouvir as minhas confidências. Sabes que és linda e, quando te disse que te fica bem o cabelo louro assim penteado e esse grande brinco no lado direito, aceitaste o piropo e pareceste enternecida. Deixaste-me até tirar umas fotos sem dizeres nada, sabendo que corrias o risco de eu te pôr aqui.
Sabes, estas paixões tardias tornam-nos vaidosos e expansivos, mas está descansada que eu não conto nada a ninguém. Tu também não pareces daquelas que atiça o fogo quando o vê. Mas, mesmo assim, tens de ser mais discreta, pois eu ando com a impressão de que me persegues no local de trabalho. Já te tenho visto noutros serviços para onde vou e, nesta casa, há gente a cuscar por todo o lado, e o mínimo sinal é divulgado … na hora, e devidamente amplificado.
No outro dia, quando ia a sair, vi-te a beber um copo. Não sei do que era. Talvez estivesses só a disfarçar, mas olha que isso não parece bem a uma senhora.
Hoje vou ficar por aqui que já é tarde. Espero-te amanhã no café!
Dorme bem!
P.S.: As fotos seguem amanhã!
Às vezes dá-me para pensar que não estiveste sempre aí e que chegaste há poucos dias, mas sou eu a desculpar-me desta desatenção de nem um bom-dia te ter dado, quanto mais o parar para te falar.
Notei-te pela primeira vez, há-de haver duas semanas, quando tomava café naquela máquina do Piso 6. Olhavas tão insistentemente para mim que quase me embaracei. Estava sozinho, tinha ido a uma janela espreitar para fora, e foi então que deparei com esse teu olhar metálico, cheio de timidez. Fiz que não percebia, mas senti um pequeno tropeço no peito e creio que até sorri, quando, mais à frente, te vi de novo no corredor do serviço a espreitar por outra vidraça. Não sei que voltas deste para lá chegar tão rápido, mas estavas confiante e muito ruborizada.
Agora já somos amigos e deixo-te ouvir as minhas confidências. Sabes que és linda e, quando te disse que te fica bem o cabelo louro assim penteado e esse grande brinco no lado direito, aceitaste o piropo e pareceste enternecida. Deixaste-me até tirar umas fotos sem dizeres nada, sabendo que corrias o risco de eu te pôr aqui.
Sabes, estas paixões tardias tornam-nos vaidosos e expansivos, mas está descansada que eu não conto nada a ninguém. Tu também não pareces daquelas que atiça o fogo quando o vê. Mas, mesmo assim, tens de ser mais discreta, pois eu ando com a impressão de que me persegues no local de trabalho. Já te tenho visto noutros serviços para onde vou e, nesta casa, há gente a cuscar por todo o lado, e o mínimo sinal é divulgado … na hora, e devidamente amplificado.
No outro dia, quando ia a sair, vi-te a beber um copo. Não sei do que era. Talvez estivesses só a disfarçar, mas olha que isso não parece bem a uma senhora.
Hoje vou ficar por aqui que já é tarde. Espero-te amanhã no café!
Dorme bem!
P.S.: As fotos seguem amanhã!
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Enriquecimento Ilícito
- Atãoooouuuuu!!!!!!!! A tirari a fotografiaâãããã sem minha autorizaçãouuuu! Quer lá veriiiii!
- Oh minha Sra.! Eu estou a fotografar o prédio, que o quero comprar! Quero lá saber que a Sra. esteja a fazer um ramo com as flores do jardim público!
- Oh minha Sra.! Eu estou a fotografar o prédio, que o quero comprar! Quero lá saber que a Sra. esteja a fazer um ramo com as flores do jardim público!