terça-feira, 10 de abril de 2012

O taxista



Era um fulano cordato, o mais normal que se possa imaginar. Quem o não conhecesse, não lhe imaginava o passado.
Gostava de dizer que se fizera homem por si próprio! Saíra de casa aos cinco anos, andara ao Deus dará, estivera preso por furto e por causa da droga, mas deixara de consumir, e conseguira, por fim, levar uma vida normal.
Andava pelos quarenta anos. Tinha HIV e hepatite C. Era cumpridor nos tratamentos e tinha as doenças controladas.
Quando o conheci tinha um Táxi e vivia com desafogo. Às vezes trazia a mulher, que era dona de uma peixaria. Os dois sentados ali em frente, pareciam um mostruário de ourivesaria, com grossas pulseiras de ouro e os dedos cheios de anéis com brilhantes. Tinham todo o ar de um casal feliz.
Deviam conhecer todo o submundo da ladroagem e da droga.
Quando ele simpatizava com o médico, depois de se despedir e sair do consultório, batia de novo à porta, como se tivesse esquecido de qualquer coisa e, num repente, deixava uma caneta, um relógio ou uma qualquer prenda, sem caixa ou embrulho, e desaparecia corredor fora, sem dar possibilidade de o questionar, deixando-os sem saber o que fazer.
Um dia alguém terá dito que ele “fazia uns aeroportos” – Barcelona, Madrid, ... e também “fazia” a Expo de Sevilha, mas que só roubava quem exibia riqueza.
A certa altura faltou, voltou para a droga e uns tempos depois enforcou-se!. Mas não foi por causa da doença, que ele estava totalmente suprimido.

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