segunda-feira, 7 de maio de 2012

Do lado de lá.


As coisas são como são, mas o modo como nos afectam, depende do lado em que estamos. Diariamente ouvimos frases do tipo “Se fosse comigo …!”, ditas em tom de superioridade, sem preocupação em entender as fragilidades dos outros e frequentemente sem lhes conhecer todas as implicações.

Vem isto a propósito dos exames auxiliares de diagnóstico.

Hoje um médico amigo, contou-me que um director de um serviço hospitalar, estimulava os seus colaborantes a experimentar algumas das técnicas que iriam executar ou mandar executar, antes de submeterem os seus doentes a elas, para assim valorizarem os desconfortos.

Claro que estariam excluídas técnicas invasivas, como biópsias prostáticas, hepáticas, algaliações …  mas, pela sua relativa inocuidade deveriam ter experiência de um toque rectal com intuito de diagnóstico, uma sonda naso-gástrica, de exames endoscópicos digestivos, de punções venosas efectuadas por enfermeiros em fase de aprendizagem, tomar banho numa cama hospitalar no período do inverno, colocar um aparelho de ventilação não invasiva durante uma noite, aguentar colados no peito os fios de uma monitorização durante o sono, urinar e defecar numa aparadeira, aguentar um dia uma tracção esquelética, simular uma tomografia axilar computorizada ou uma daquelas ressonâncias magnéticas que “nunca mais acabam” num aparelho que nos causa claustrofobia, entre outras.

É que, por certo, haveria melhor critério para a sua prescrição e mais cuidados na sua execução, e muito se iria poupar ao erário público.

É que agora como sempre: Pimenta no rabo dos outros, para nós é … refresco”.

2 comentários:

  1. Antes do mais, um pedido: retira a verificação ortográfica do google, senão será a última vez que venho a comentários!(É uma ameaça!)
    A propósito do post, nem vale a pena ser o clínico obrigado a sofrer o exame, basta ser obrigado a realizá-lo e não a pedi-lo!
    Já tinha verificado o efeito sobre as gasimetrias: se for arterial e colhida pelo médico, vai-se adiando! se for capilar que é só escrever, uma abundância! Mas agora tive a comprovação com as phmetrias: há uns anos o diagnóstico de refluxo ge exigia uma phmetria (seria aliás sacrilégio em pediatria iniciar um tratamento sem o exame). Como os pedidos começaram a inundar os serviços de gastrenterologia, rapidamente se tornou um exame sem interesse (claro que o argumento oficial é outro!)!
    Como os exames mais caros são prescritos e não realizados no SNS(imagiologia, genética,...) bastaria pôr quem os pede a fazê-los, para reduzir drasticamente as suas indicações (e a respetiva poupança de desconforto para os doentes e de sangria para os cofres publicos!). Eis um bom exemplo de como um out sourcing pode ser preverso e de consequñcias imprevisíveis!

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  2. Acedi ao teu pedido.
    Todos os dias me surpreendo com prescrições médicas, quer em medicações "duvidosas", quer em meios auxiliares de diagnóstico que visam mais uma satisfação sua que um benefício para o doente.
    E os exemplos surgem de todas as áreas, embora numas mais que noutras.
    Eu ainda persigo aquela ideia (romântica) de que há um meio auxiliar que dá o diagnóstico e que a arte é achá-lo, e não aquela actual moda de "pedir tudo" e ver o que está alterado.
    Como na cena do "Deer Hunter" - Caçada final - em que o Robert de Niro vai só e quer matar um veado de grande porte com um só tiro.

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