quarta-feira, 16 de maio de 2012

Os basbaques, os oportunistas e os vaidosos

As modas atingem todas as áreas da actividade humana. Umas são fruto dos avanços tecnológicos e dão-nos bem-estar, outras são “novidades” sem benefício, que poderão até prejudicar os seus utilizadores e a  Saúde não está imune a elas.
A toda a hora surgem pseudo-soluções para problemas insolúveis ou quase, e logo aparece uma corte de basbaques, oportunistas e vaidosos, que se lhe associa.

Aos basbaques, perdoa-se. São “homens que não cresceram, que ouviram, viram, ouviram, viram, e não perceberam”, e todos nós temos áreas em que, por uma razão ou outra, nos comportamos assim.

Os oportunistas são semi-selvagens que reagem a uma vantagem, sem analisar as disfunções que irão criar.

Mas aos vaidosos, não lhes dou desculpa. É a burrice que os atira para frente, na procura de um palco a qualquer preço, que a “novidade” permite. Então é ver médicos a dar cobertura a regimes dietéticos que não lembram ao diabo, a soluções terapêuticas sem evidência que as suporte e a pedir exames auxiliares de diagnóstico sem qualquer racionalidade, perante um público atordoado pelo “barulho das luzes”, que só irá dar conta de que é vítima tarde demais.

Na década de 1950 tiravam-se amígdalas por “dá cá aquela palha”, na de 60, apêndices, que nos anos 80 se questionaram, a ponto de um cirurgião amigo, classificar as apendicites “crónicas” em: “remuneradas” e “não remuneradas”. As primeiras eram para operar. As segundas tratavam-se com analgésicos. Eu não tenho amígdalas. O meu irmão não tem apêndice.

Agora, já não é fundamental tirar umas peças ao pessoal para ganhar uns cobres. Fazem-se análises, TACs, Ecocardiogramas para “ver se está melhor ou se está pior” do que aquele que fez na consulta anterior, um Quantiferon para ver se ficou contagiado por aquele senhor que tossiu ao pé de si e que não tinha boa cara.

Mas os vaidosos ganharam palco e há muitos a ocupar despudoradamente os locais de decisão, onde estas e outras coisas, que deveriam ser cedo cerceadas, ganham raiz e florescem, aumentando custos e atirando-nos para as dívidas e para as ineficiências do sistema.

Assim é na Saúde e no país.

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