sábado, 30 de junho de 2012

Violência

Das frases que me condicionam, duas vieram-me hoje à memória: “Quem tem mais probabilidade tem de te matar, já tem a chave de tua casa!” e “ A pessoa que maior probabilidade tem de te matar, é o teu médico!”. Não são absolutas, até porque se excluem, mas centram-se em duas facetas do nosso quotidiano, a que importa estar atento: a Violência Doméstica e a Iatrogenia.

Ora andava eu na Internet, por estes caminhos, quando tropecei num artigo sobre "A Verdade àcerca da Violência", de um tal Sam Harris (1967) escritor, filósofo e neurocientista americano.

Primeiro introduz-nos, informando que nos USA a probabilidade de ser roubado, assaltado, violado ou assassinado nos próximos 30 anos (a manter-se constante a actual taxa de criminalidade), é de 1 para 9, pelo que nos devemos preparar para responder à violência de modo racional, pois os nossos instintos, embora bons a reconhecer o perigo, aumentam a probabilidade de sair magoado ou morto quando a ameaça surge. Depois lembra que a Polícia responde ao crime consumado, para (com alguma sorte) apanhar quem o cometeu, que os primeiros momentos em que a vítima se encontra com o predador são cruciais, e que só depois de escapar é que é seguro ligar o 112.

Define três princípios fundamentais.

1) Evitar pessoas e locais perigosos.
Auto-defesa não é vencer combates com gente agressiva que não tem nada a perder. Não ameace o seu oponente. Baixe o nível de agressividade e vá embora.

2) Não defender a sua propriedade.
Defendê-la é um convite à violência e uma oportunidade para morrer ou para ir parar à prisão.
Se alguém lhe aponta uma arma à cabeça e lhe pede a carteira, entregue-a de imediato e fuja. Se vir um grupo a vandalizar-lhe o carro, mantenha-se em casa e avise a Polícia.

3) Se alguém o tentar conter fisicamente, responda imediatamente e fuja.
Faça tudo para evitar o confronto físico, mas se ele se tornar necessário, ataque explosivamente, com o que for necessário, com o intuito de escapar.
Se alguma vez se encontrar em tal situação, deve assumir que o seu oponente tem uma carreira criminosa e que já vitimou outros. Não perca um segundo a argumentar.

Até parece consensual, mas quando ele passa a exemplos sobre o princípio nº 3, é que a coisa se torna diferente.

Imagine: Você transporta as compras da mercearia para o carro e surge um homem ao seu lado com uma arma que lhe diz: “ Entre no carro, e não lhe acontecerá nada!” O seu instinto irá provavelmente funcionar mal. Entrar no carro é a última coisa que deve fazer. “Entre no carro ou estouro-lhe com os miolos!”.
Por muito mau que lhe pareça o momento, obedecer a uma pessoa que está a tentar controlar os seus movimentos, é uma ideia terrível. Uma coisa é tentar controlar a sua propriedade, outra é tentar controlá-lo a si, orientando-o para outro quarto, para um beco, para dentro do carro, prendendo-o, etc ... . Isso indicia que a próxima situação em que se vai encontrar será ainda pior.
Fuja qualquer que seja o risco, pois compensa.
Qualquer que seja a sua capacidade física o seu objectivo é fugir, mesmo que esteja em casa e que tenha armas. Esses segundos lugares serão imensamente mais favoráveis ao(s) atacante(s).
Um ladrão geralmente assegura-se que a casa está vazia antes de entrar. Se alguém entra em sua casa consigo lá dentro, não há assunto a discutir. Deve fazer tudo para escapar. Se alguém aponta uma faca ao pescoço da sua esposa e, com isso, o tenta controlar, você deve fugir imediatamente, pois cooperar com o atacante e esperar a sua benevolência é o maior erro que pode cometer. Se ele tem intenção de a matar, ele vai matá-los aos dois se tiver oportunidade. Se você fugir, pode voltar em condições muito mais favoráveis.

O artigo é escrito por um americano que vive nos USA. Podem dizer que lá o mundo ... é outro, mas, como dizia Bob Dylan “The times they are a-changing”.

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