sexta-feira, 27 de julho de 2012

Desesperos

-Sr. Dr.! Nós somos de Cuide de Vila Verde. Fui com a minha mãe ao Centro de Saúde de Ponte da Barca por causa dos olhos, e a doutora mandou-me para o Hospital de Viana. Agora dizem-me que tenho de ir com ela para Braga, porque não há Oftalmologia nesta Urgência!?
Eu não tenho dinheiro para andar de um lado para o outro. Ainda por cima trouxe o meu pai, para o não o deixar sozinho em casa, e ele tem que tomar os remédios a horas.

É uma mulher bonita e cuidada, embora as mãos denotem intenso trabalho manual. Deve andar pelos quarenta e cinco anos. Os óculos modernos valorizam-lhe o sorriso, logo cortado pelas lágrimas de desespero, quando retoma a conversa. Diz que o pai foi construtor civil e que têm vindo a perder o pouco desafogo que já tiveram.

-Não casei para tomar conta dos meus pais. Agora, estou sozinha e com eles doentes. O meu pai teve alta há um mês, depois de uma operação ao pâncreas. Ainda por cima tiraram-lhe a isenção. Não deve ter sido por ter casa própria, porque isso não conta e os dois juntos pouco mais têm que 500 Euros de reforma, e eu, só posso trabalhar meio tempo, porque tenho de cuidar deles. A gente até desanima de andar no mundo!
Não me mande para Braga por favor! Eu volto segunda–feira. Ela aguenta. … Aguentas, não aguentas, mãe?
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