sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A Coroa


Queixava-se de uma dor de dentes generalizada.

Trataram-lhe um dente cariado, mas cedo voltou para se queixar do outro lado. Foi feita nova revisão e receitaram-lhe analgésicos. Não teve melhoria. Na quarta consulta propuseram-lhe desvitalizar um, já tratado, que poderia ser a causa de todo aquele mal-estar.

Aí, começaram as perguntas e, como se temesse um mau-olhado confessou-se. Disse que tinha sido coveiro e que, numa das covas, encontrou um dente de ouro, que só conseguiu arrancar  depois de desfazer o crânio com uma marreta. Que depois tentou vendê-lo numa ourivesaria, sem sucesso. 
Disse também que a mulher o levou ao protésico, para o incluir na sua placa, e que ele recusou, e que desde então o tem guardado na mesinha de cabeceira.
Há dias lembrou-se dele, e associou-o àquele mal-estar:

- Sra. Dra.! Esta dor ... será enguiço?

História de J.R.

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