domingo, 21 de julho de 2013

Carta a Cavaco


Caro Cavaco:
Estou a escrever-te antes do teu previsível discurso, com mais um dos teus avisos.
Já sabes que não admiro a tua longevidade política, porque sempre vi nela uma preocupação em serenar o povaréu, garantindo uma cortina de “ legalidade” a quem mexe nos cordelinhos, que frequentemente acaba com um dos teus “avisos” quando, por um qualquer acaso, um vento põe tudo a nu.
Tu reflectes este país, sempre à espera que um milagre de última hora nos salve do abismo para que caminhamos anos seguidos. Nunca te vi uma atitude de arrojo, que nos fizesse sair desse rumo. Pelo contrário, estiveste metido nas disfunções do Oliveira e Costa e do Dias Loureiro, e eu não acredito que não tivesses conhecimento de muitas outras, que não vieram a público, e que são agora causa da nossa ruína.
Era aí que esperava que desses o murro na mesa para que não acontecessem. Agora vir avisar do  inevitável é trabalho de qualquer um.
Esta tua proposta de um Governo de Salvação Nacional era, à partida “um bacalhau com asas com sabor a marisco” para encanar a perna à rã e dar tempo para que a Finança nos "ajuste" aos “Mercados”, sob a óptica de uma Alemanha que nos entende como humanóides um pouco civilizados.

Vais ficar na História como um paisano de Boliqueime que um dia, em Lisboa, vestiu um fato e gravata para veneração de quem aguarda milagres, sem perceber que estava a dar cobertura às negociatas de uma elite, que de elite nada tem.
Agora, esgotado, vais a rojo, procurando nas palavras significados tão ambíguos como as do Paulo Portas, sem assumires intervir de peito cheio, porque isso "não faz parte do teu ADN", como dizia o teu amigo prof Marcelo, que te apelidou de “herbívoro”, por não atacares os problemas de frente, no medo de uma eventual morte política. Vais lavar as mãos, mais uma vez, alegando que “avisaste”, “que “tentaste tudo” , que “foram os partidos” e que “só te apetecia mandá-los à m####”, mas que “a Constituição não permite” e que “blá, blá, blá” e que “há que sofrer para que sejamos redimidos”.

Pede à Maria para não aparecer. A sua visibilidade é dolorosa e deixa-me envergonhado, constantemente a relembrar os seus esgares no teu discurso de vitória. Depois podias fazer-lhe companhia. Ias visitar um lugar qualquer “profundo” no nosso Portugal e arredavas-te o tempo que te falta até ao fim do mandato e talvez as coisas melhorassem.
Vai por mim, que eu, sem ser barbeiro, dou conselhos como um taxista e é na boca deles que está a sabedoria do povo e não no fundo das urnas.
Até daqui a bocado

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