domingo, 2 de fevereiro de 2014

3ª Carta a Passos Coelho


Caro PC:

É a terceira vez que te escrevo. Na segunda, já eras 1º Ministro, chamei-te a atenção para o que deverias considerar, se querias deixar alguma nota positiva. Ignoraste-me e optaste pelo empobrecimento colectivo e pela demissão do Estado como garante dos direitos fundamentais da população. Só te preocupaste com o dinheiro.

Neste paraíso de caciques, chico-espertos e borra-botas disponíveis a vergar quem quer andar de pé, encontraram-se três corruptos, quando todos esperávamos uma auditoria (com auditores de jeito) às EPEs e aos particulares a quem o Estado paga balúrdios em serviços e parcerias, para avaliar a qualidade dos decisores e os porquês, e descobrir se houve quem estivesse a resolver "não problemas" com "não soluções", a fazer palheiro onde queríamos guardar agulhas.
Tinhas na mente impostos e cortes nos vencimentos de quem vive do trabalho, com especial incidência na classe média dos funcionários públicos. A eito e sem ética, como se não houvesse amanhã, ao ponto de veres na emigração dos nossos licenciados a solução para a baixa do desemprego, desvalorizando “o saber”, num país onde é raro encontrar quem escreva um parágrafo com elegância ou sintetize um problema, mantendo-nos na senda de que qualquer um se ajeita a qualquer função, desde que seja nomeado por um partido.

Como muitos portugueses, vivo do salário, e se tenho alguma folga, uso-a, sem viver acima das  possibilidades. Quem se armou em rico, foram os “políticos do arco da governação” e os Bancos, pelo que esperava que surgissem nomes e penalizações, em vez de me retirarem 50% do salário para pagar as suas asneiras. A actual “narrativa” não me é digerível. Porque se fizeram auto-estradas onde uma estrada resolvia o problema? Porque deixaram os autarcas com rédea solta nos gastos? Quem justificou as “derrapagens financeiras”?

Quem vier depois de ti, vai encontrar o país mais pobre, desorganizado e sem “mística”, pois nem aquela  parola do Portugal que deu mundos ao mundo, mais a do Eusébio e da Amália convencem o mais tacanho.
O que todos esperam é mais aumentos, menos apoios do Estado e menos qualificação da população, a acreditar nos “paineleiros” a soldo, que enxameiam a comunicação social para nos convencer da inevitabilidade de tudo o que acontece, sem pôr a tónica na qualidade dos partidos e de quem eles põem nos órgãos do Estado.

A carta vai longa. Tu deves ter mais que fazer e eu não quero que chegues tarde por causa destas linhas. Vai à tua vida, que eu vou aquecer o grão-de-bico, que daqui a pouco chega a mulher do trabalho e eu sem nada preparado. Se vires a Assunção Esteves, diz-lhe que as tiradas à aldeã do seu berço transmontano me confundem, e diz à Cristas que eu vou com ela na agricultura.
Dá um abraço ao teu pai, e pede-lhe o poema que ele fez ao descanso no tratamento da tuberculose, que eu publico-o neste blog.

Até um dia.
Fernando

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