quarta-feira, 29 de abril de 2015

Dizeres


- Dona Maria! A senhora reside num Lar?
- Não, Sr. Dr.! Eu vivo numa Família de Encolhimento!

sábado, 25 de abril de 2015

Videirinhos


Alguns são protótipos, mas a maioria dos que conheço são de série, daqueles que andam pelos bares e corredores à procura de uma qualquer informação que possam utilizar em seu proveito, baldando-se o mais que podem ao que deviam estar a fazer. São comuns nas instituições públicas e nos Cafés, mas podem-se encontrar em qualquer local onde haja gente.
Perguntam coisas ou procuram ouvir as conversas do lado, enquanto se fingem absorvidos em qualquer actividade, para depois difundirem por quem gosta de emprenhar pelos ouvidos. Aqui no burgo chamam-lhes "faroleiros".

O grande desejo do videirinho é a política, onde se sentem corredores de Fórmula 1, a falar do que nunca fizeram, com "escuderias" e "sponsors" que lhes cobrem as pulhices com que presenteiam quem é apanhado "à má fila".
Já deram provas nos campeonatos de segunda e terceira divisão. Iniciaram o currículo nas escolas e nos seus locais de trabalho. Sabem engolir sapos vivos e utilizaram a adulação para reduzir as obrigações profissionais e assim garantir a frequência dos corredores, pois é aí que se consegue o acesso aos gabinetes onde se permitem as ultrapassagens. Mostraram disponibilidade "para o que quer que seja" e são ávidos naquelas "novidades" que confundem o adversário e lhes criam a falsa auréola de estarem dentro da "problemática da temática" e, como dentro da sua profissão, pouco ou nada fizeram, é difícil alguém tropeçar num dos seus erros.

A sua relevância nesses campeonatos, junto ou num conselho de administração de uma empresa, seja ela do Estado ou de um privado, influencia as promoções e é frequente a causa do insucesso, ao desvalorizar a qualidade em favor daquilo a que ele chama "estabilidade", que mais não é que a sua escada para o poder.

Abril não exigiu qualidade aos dirigentes. Manteve o padrão básico do "muito é melhor que pouco!" e do "rouba, mas faz!" e, pela larga porta da sua "bondosa confiança" muitos se apressaram a lançar as suas raizes.

sábado, 18 de abril de 2015

Ode à enfermeira "preferida".


Antes de mais nada, quero dizer que te escrevo, porque, de algum modo, mo pediste.
Depois, quero que saibas que fico feliz quando já lá estás quando eu chego, e que, embora finjas que não dás por mim, estás atenta aos meus pequenos gestos. E porque isso me dá a importância de que preciso para me sentir confiante, respondo-te de igual modo, simulando desatenção até um acaso me justificar um sorriso para os teus olhos.

Trabalhar contigo é dançar com quem não tropeça nem pisa e dá ritmo ao voltear, recebendo uma disponibilidade que acrescenta e nos corrige, sem a petulância de quem espera um erro para mostrar o pior de si.
Gosto da calma que me dás quando ela foge e quando me apressas se o tempo se esvai, sem mais que um meio-tom na tua voz, um leve aceno no teu gesto, ou uma suave diferença nesse teu olhar esmerado de mulher, capaz de ver o que aos meus olhos se lhes se nega.
Alegra-me a doçura que derramas sobre a dor de quem padece, que não duvides da boa fé que ponho no que faço quando as coisas correm menos bem, e do direito que me dás aos maus humores quando me desacerto com o imprevisto.

És enfermeira, mas podias ser professora, bailarina, agricultora, engenheira ou uma simples dona de casa, que sei que as tuas mãos poriam o mesmo carinho nas palavras, nos ritmos, nos papéis para que os seres cresçam melhor do teu lado do mundo.

É assim que te vejo, atenta ao que te envolve, dentro e fora destas portas, para que o equilíbrio não falte a quem de ti depende, sabendo que o fazes mais pelo gosto de assim ser, que pela parca paga que te dão no fim do mês.

Bem hajas, aqui, ali ou acolá, na primeira e única vez ou na rotina do trabalho de todos os dias, onde o teu sorriso transparente limpa o ar e torna o sol ameno e que, se o acaso nos trouxer chuva fria, tu saberás limpar o rosto de quem sofre e dar sentido à tempestade.

Fernando

P.S:  os senhores enfermeiros, pelas suas próprias condições, não devem ser considerados nestas considerações. 

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Insultos


tipologia do insulto, diz muito sobre quem o usa, principalmente quando abusa das formas “hard” em detrimento das subtilezas. Nesta matéria, há que ter parcimónia para ter eficácia.

Mal educado, indelicado, crápula, cretino, débil, mão-de-vaca, demagogo, depravado, descarado, petulante, desbocado, descabelado, destrambelhado, egoísta, enfatuado, enfunado, cheira-ventos, escroque, estafermo, estouvado, estropício, falacioso, grunho, hipócrita, … e por aí fora, são exemplo dos muitos a que se pode deitar mão, embora se aconselhe, a quem quiser entrar na política, a consulta regular a um bom Dicionário, para não se tornar repetitivo e manter a qualidade.

Para os eruditos, é de bom tom escolher personagens históricas ou literárias para mimosear os seus adversários. O meu avô paterno usava os sibaritas gregos,  o Iago - o vilão infame de “Otelo”, de Shakespeare, o Joseph Fouchet - político francês e ministro durante a Revolução Francesa e a era napoleónica, que se notabilizou pela sua extrema falta de carácter, e que Stefan Zweig caracterizou em livro com o seu nome, ou Javert -o polícia obsessivo dos Miseráveis de Victor Hugo, mas em muitas obras da literatura clássica é possível encontrar os Judas e os Herodes que tipificam alguém que nos desagrada profundamente.

Quando se quer dar a doer, Badalhoca, é o auge do insulto a uma mulher. Tem a sonoridade perfeita quando dito com desprezo. A partir daí, só violência física. Ouvi-o pela primeira vez da boca de uma miúda que ia à água à fonte que ficava em frente da casa da minha avó. Lembro-me de a ver de mãos nos quadris, a imitar o que ouvira às adultas, no meio de repetidos "filhos da puta". Podem dizer que é um regionalismo portuense, mas eu entendo-o universal.
Para os homens o equivalente é "Porcalhão". Aliás, para os homens os grandes insultos, têm um "ão" no final: "Malcriadão", "Parvalhão", "Filho de um Cabrão" ou só “Cabrão”, sem mais nada.
Na boca de uma mulher, mesmo quando ditos entre dentes, ecoam como sinos de catedral e são o suficiente para arrumar definitivamente com qualquer um, impossibilitando desculpas ou acordos tácitos.

As palavras têm peso, arestas e pontas e, às vezes, são as mais leves que cortam como lâminas e mais ferem.

domingo, 12 de abril de 2015

Sinais dos tempos



No inverno passado, numa visita a Santiago de Compostela, comprei um chapéu. Andei com ele os dois dias que por lá parei, e pouco mais. Ainda o meti no carro para lhe dar uso mas, na vida que levo, um chapéu é um atranquilho que limita a funcionalidade.
Ainda tinha a memória do meu pai usar um, no tempo em que os trajectos diários se faziam a pé e as compras perto ou à porta de casa, e o automóvel servia para fazer viagens.
.....
Junto à cozinha de minha casa, tenho quatro caixotes do lixo. Um para levar os restos para a compostagem ao fundo do quintal, um para os vidros, outro para os plásticos e outro para o papel.
O que enche mais depressa é o dos plásticos, pois a maior parte das compras do supermercado utiliza-o nas embalagens. São de alimentos processados - desidratados, espoados da celulose, cozinhados ou com aditivos.
Farinhas, arroz polido, açúcar, fécula, grão, feijão, milho, molhos, enchidos, sumos, vinhos  e outras bebidas , latas de tudo e de mais alguma coisa ... tudo entra em nossas casas com um valor nutritivo acrescentado, fazendo com que a saciedade que se obtém pela sensação de enchimento gástrico, só seja obtida ao fim de muitas calorias.

Como resultado da falta de actividade física regular e de uma alimentação excessiva, criámos uma população tendencialmente hipertensa, obesa, com diabetes e hipercolesterolemia, e como "solução" temos vindo a preconizar 1 hora de ginásio 3 vezes por semana, passeios ao domingo e meia dúzia de comprimidos todos os dias.

domingo, 5 de abril de 2015

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Surfar



Porque obriga a enfrentar realidades que nos incomodam, a aceitar conivências,  calar opiniões, a sermos participantes em movimentos para onde contra vontade somos arrastados, a consciência colectiva é um poderoso fenómeno.
Ultrapassa-nos. É ela que dá a verdadeira medida de nós próprios, a pequenez, a cobardia, o temor de enfrentar a massa que idolatra, jubila e aplaude.
Um ou outro desatinado rema contra a maré, gritando a sua verdade, mas proveito alcança quem cala e segue a onda.

Este texto que Rentes de Carvalho escreveu no seu blog, Tempo Contado, vem, de algum modo, ao encontro de umas filosofices que nos últimos tempos me têm assomado à cabeça: a onda que parece vir do nada e que rapidamente engrossa e leva tudo à sua frente.
Ontem foi o leite para os adultos, hoje é o açúcar para as crianças, amanhã pode ser uma aparição num lugar inóspito ou a descoberta de um paraíso remoto para férias e, imediatamente se avolumam aderentes e quem os queira cavalgar, oferecendo-lhes, impudoradamente, a banha da cobra, que estica e não dobra, ou Salamanca, que a uns cura e a outros manca.