segunda-feira, 22 de junho de 2015

A ditadura do carro



Acordar na última, tomar o pequeno-almoço no elevador, entrar no carro, o saber que se não chega à rotunda dentro de 5 minutos não vai chegar ao trabalho a horas e o carro de trás já está a buzinar. A rádio diz que a rotunda de relógio tem 30 minutos de filas e por aqui pensamos ai ainda bem que não vivo em Lisboa. Estas são as primeiras horas do dia da maioria dos portugueses. Como se estas primeiras horas não fossem horas a sério, como se não contassem, o correr como se o dia apenas começasse quando uma pessoa se senta a trabalhar, tudo até aí é preparativo. O ritmo corrido dos nossos dias, a glorificação da pressa, apenas o destino interessa, nunca o caminho.
As cidades estão desertas e às 7.30 começa-se a ouvir o zumbido dos carros. 1 pessoa – 1 carro. Uma bolha, vidros fechados, todos os dias o mesmo trajecto,  a monotonia do tempo porque este tempo deixou de ter valor. O que interessa é chegar. E depois voltar e chegar a outro lado. A cidade que deixa de existir para ser apenas um espaço entre pontos de partida e destino.
 As cidades só fazem sentido enquanto espaços para pessoas. Os negócios, os cafés, os museus, as lojas, os jardins, as esplanadas, as praças não foram criados para os sábados à tarde e domingos soalheiros. As cidades têm uma vida própria em conjunto com as pessoas que pisam as ruas e quem vive entre pontos, entrando e saindo do carro não a conhece. As cidades do século XXI terão de descobrir o que querem ser – se um aglomerado de dormitórios ou espaços de convívio, onde as pessoas abraçam outros espaços fora da sua sala de estar.  
Nova Iorque, uma das cidades mais apressadas do mundo, decidiu em 2008 criar vias cicláveis por toda a cidade e os resultados foram impressionantes – numa cidade com 20 milhões de habitantes a correr de um lado para o outro, a mudança do paradigma da mobilidade conduziu a uma diminuição dos acidentes automóveis em 25%, diminuição de 10% da emissão de gases de efeito de estufa, aumentos de cerca de 50% no consumo no comércio local, diminuição dos espaços comercias vazios e cerca de 80% de aumento no número de pessoas que passaram a usar as esplanadas e parques da cidade. As cidades não mudam por acidente. Amesterdão nem sempre foi a cidade das bicicletas. As cidades do século XXI são planeadas e cabe aos bracarenses pensarem que cidade querem viver e deixar para o futuro.
Junte-se a nós. Saiba mais em bragaciclavel.pt. Boas pedaladas!

Helena Gomes in Diário do Minho

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