Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
sábado, 28 de outubro de 2017
Acrocianose ?
Tem 34 anos. Está grávida de vinte e quatro semanas e há dois dias que nota as unhas e as pontas dos dedos azuis, com agravamento nocturno.
Veio ao Serviço de Urgência e, na Triagem de Manchester, é referenciada, com cor Amarela, para Obstetrícia. Tem sinais vitais normais e está tudo bem com o bebé. Exame ginecológico normal. Ecografia normal. Cardiotocografia normal. É pedida observação por Medicina Interna.
Está consciente e colaborante. Nega conhecimento de qualquer doença crónica. Tem as unhas das mãos e extremidade distal dos dedos com tom azulado, sem sinais de hipoperfusão sanguínea. Nega agravamento com o frio. Tem as unhas e a extremidade distal dos dedos dos pés com coloração normal.
- Minha senhora! A senhora não pintou as unhas de azul?
- Não! Pintei-as há uma semana, e usei um verniz branco!
- Vamos ter de limpar uma unha, para ver o que acontece! Mas vai ter de esperar uma hora, porque não há acetona no Serviço de Urgência e o Armazém só abre às 14:00h!
Está acompanhada por uma filha adolescente, que já mostra sinais de impaciência. Sai, inconformada, enquanto eu faço os registos no computador.
Nem cinco minutos depois, bate à porta do consultório.
-Dá licença!?
- Faz favor! Então que há de novo?
- A Dra. deixou-me a pensar e, de facto, anteontem à tarde, estive a lavar um édredon azul e foi só à noite que a minha filha notou que eu tinha as unhas azuis. No dia seguinte de manhã, elas estavam mais clarinhas. Mas o édredon não ficou bem lavado e voltei a lavá-lo! Agora, como me disse que ia esperar tanto tempo pela acetona, pedi à enfermeira um pouco de gaze e lavei os dedos com álcool, água quente e sabão e raspei uma unha. Desapareceu tudo! …. Posso ir embora?
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