domingo, 5 de novembro de 2017

Workshop


A sala está composta. O público fora convidado com a devida antecedência e pressionado a comparecer. À hora marcada a plateia impacienta-se para ouvir os truques e malabarismos da modernidade de uma luminária que vem da capital.
Lisboa é longe e os caminhos da periferia são demasiado sinuosos para quem está habituado a grandes avenidas.  Passa uma hora quando chegam as eminências, seguidas pelo mágico e suas “partenaires”. Uma é loira, outra é morena, como os dois amores do Marco Paulo.

Feitas as apresentações e respetivas vénias, dá-se início ao espectáculo.
É a vez do artista. Rapaz novo, gaba-se do que fez e do que quer fazer. Dois passos para a esquerda e um à direita e ... Zás – à primeira pernada para trás, quem estava em cima passa para baixo e os da esquerda vêm-se agora no centro ou à direita. Pim! Já está!
Quem não se moveu espanta-se!.

Apronta-se de seguida para o segundo número, directamente dirigido ao coração da audiência. Fala sobre a ansiedade de querer e não saber por onde anda a família. Ligar para o telemóvel e não obter resposta! ... Três passos para a frente e uma para o lado e Zás! ... !! O público, baralhado, a tentar sintonizá-lo. Mais um passo em frente e ... Trás, Catrapaz!, e a estrela aponta o dedo a um paisano: - “- Você!”, depois a outro “- E você!?”, há que ouvir sentimentos e frustrações e prometer soluções! …. PUM! 

Tanta eloquência faz pasmar o mais pintado! É uma sumidade! Um mestre da comunicação! Pena o auditório só ter umas dezenas de lugares, e não um púlpito como o das Nações Unidas, porque ele … traz "UMA SOLUÇÃO À PROCURA DE UM PROBLEMA!"

Agora, depois de ter criado "O PROBLEMA", inicia novo passe de mágica e pede às partenaires que se levantem. A assistência hesita em bater palmas. São lindas e sorridentes, embora constrangidas, talvez por não se terem preparado para aquele número.

Finalmente o artista aproxima-se do "PROBLEMA" como quem salta para uma corda suspensa bem acima do estrado e bamboleia num equilíbrio, cada vez mais difícil. 
Fala de “PopUps”, de PEM, do triângulo doente – farmacêutico – médico. De uma lei que já está promulgada e que a todos espanta. Por fim vacila quando um pequeno burburinho se levanta e se apercebe que há gente a sair “à formiga”. É salvo pelo intervalo. 

Não houve apoteose, mas pouco lhe importa, que o cachet está garantido!.
Racionalizará: “-Esta gente da aldeia não entende os “Big Data”, nem as novas tecnologias!” e continuará convencido que caminha “para frente!”, porque em frente é sempre para onde estiver voltado, se não sentir oposição de quem gere o dinheiro dos impostos!

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