sexta-feira, 30 de março de 2018

Páscoa


My time is almost through
Little left to do
After all I've tried for three years
Seems like thirty, seems like thirty

Lepers:
See my eyes, I can hardly see
See me stand, I can hardly walk
I believe you can make me whole
See my tongue, I can hardly talk
See my skin, I'm a mass of blood
See my legs, I can hardly stand
I believe you can make me well
See my purse, I'm a poor, poor man

Will you touch, will you mend me Christ
Won't you touch, will you heal me Christ
Will you kiss, you can cure me Christ
Won't you kiss, won't you pay me Christ
...

There's too many of you

Don't push me!
There's too little of me
Don't crowd me!
Leave me alone!





Tradução: 

O meu tempo está a chegar ao fim
pouco mais tenho que fazer
depois do que tentei nestes 44 anos
(Pareceram 4)

Clientes: 
Sr. Dr., Ai que falta de ar
Sr. Dr., Ai que dor aqui
Sr. Dr., Eu vou abafar
Sr. Dr., Eu quase morri!
Sr. Dr.! Tem que me ajudar!
Sr. Dr.! Tem que me assistir!
Sr. Dr.! Não lhe vão pagar!
Sr. Dr.! Não pode sair!

Faça um esforço e prolongue o turno!
Espere um pouco a ver no que dá!
Mostre os dentes, não fique soturno!
Blá, blá, blá! Blá, blá, blá! Blá, blá! 

São cada vez mais as exigências.
Não empurrem!
Que eu não sou o Marcelo!
Dei-xem-me sos-se-gar!

quarta-feira, 21 de março de 2018

Constrangimentos


A Prudência é uma virtude e saber que nem todas as palavras são para todos os ouvidos, é mandamento para a sã convivência, até porque quem diz o que quer, arrisca-se a ouvir o que não quer!
Mas ... "quem sai aos seus, não é de Genebra!" e, na minha família, provocar o insólito para uma boa gargalhada, é um "must". São histórias contadas sem desprimor para as vítimas inocentes, para que estejamos atentos às rasteiras e, se há hesitações, o mais certo é o do lado as exagerar, até atingirem a dimensão do "muito impossível", para que o óbvio apareça e tudo se esclareça.


Mas o que funciona dentro de portas, tem constrangimentos no exterior, e nem sempre a coisa corre bem.

A primeira história é do meu pai.
Estávamos na década de 50, quando as deslocações eram raras e se construía o Metropolitano de Lisboa. Daí que, uma ida à capital do Império, obrigava a notícias, e as obras do Metro não podiam ser descuradas.
Na altura, ele chefiava a Brigada do Sul do Serviço de Fomento Mineiro, sediada em Beja. Num "briefing" do regresso de uma dessas viagens, um dos engenheiros mais novos, perguntou-lhe se vira obras no Terreiro do Paço, ao que o meu pai, alheado do assunto, respondeu a primeira patranha que lhe passou pela cabeça, na esperança que uma risada de incredulidade, que “elevasse o moral das tropas” para o início de um dia de trabalho: "- Nem queira saber o que por lá anda! Olhe que vão abrir uma passagem do Metro na barriga do cavalo do D. José!".
O homem acreditou e indignou-se. "Que não era possível destruir um monumento com quase 300 anos! … A primeira estátua equestre de Portugal! ...", e por aí fora …, até lhe ser dito que era uma graça, e ele ficar amuado para a vida, com o estigma daquela chacota!

A segunda história é minha:
Eu era ainda novo no local de trabalho. O gelo inicial tinha já sido quebrado e conseguira a condescendência de muitos dos profissionais do serviço para algumas das minhas “particularidades”, pelo que não resistia a subir um patamar na escala da tolerância, na procura do “absoluto”, frequentemente sem olhar ao histórico do interlocutor.
Nesse dia, fui abordado por uma enfermeira (das mais sérias) que me pediu para lhe observar um ouvido. Tinha uma otalgia com horas de evolução. 
Fomos para a sala de trabalho. Com o otoscópio, conclui não ter otite. Voltei ao ouvido doloroso e disse-lhe: - Parece-me estar tudo bem, mas vai ter de tapar o outro ouvido, porque está a entrar muita luz desse lado!
Disse-o, sem ter pensado que tal significava que ela não teria nada dentro da cabeça e na esperança de que ela o não fizesse. Mas ela fê-lo, deixando-me na difícil posição de ter de dar um passo que revertesse aquele constrangimento. À boa maneira “lá de casa”, em que a fuga é para a frente, fui ao outro lado repetir a cena, e ela voltou a tapar o ouvido contralateral.
Em desespero, chamei-a à razão. Felizmente só estávamos os dois, mas só voltei a conquistar-lhe a confiança um bom par de anos depois.

terça-feira, 13 de março de 2018

Um marido preocupado

Era um casal "diferente". Ambos na casa dos setenta. Vinham à consulta como quem ia à Ópera. Ela de tacão alto, roupa vistosa e perfume de encher pavilhão. Ele aprumado, sapato a espelhar e capachinho. -Doutor! Não se nota, pois não?! ... É Eurocave!!, à minha primeira olhadela para o seu cabelo.
Ajeita-lhe a cadeira antes de se sentar.
- Então dona Beatriz, como vai?, pergunto.
Ela tenta responder, mas é ele que se chega à frente para relatar um rol interminável de queixas. Ela faz ligeiras inclinações de cabeça e pisca os olhos, para anuir.
Reparo que ele tem uma cábula na mão, para se não perder. Escreveu-a na máquina de escrever do filho, no dia anterior, para não se esquecer de NADA! Mudou a tinta para o vermelho, para chamar a atenção aos pontos principais, mas esqueceu pormenores e rasurou à mão por cima.
- Posso ficar com essas notas? É mais fácil ser eu a lê-las!
- Oh, Dr.! Fique com elas! Escrevi-as de propósito para si!
- Obrigado!
... ...

(Dada a fraca qualidade das fotos, sugere-se: 
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2: clique no botão direito do rato e abra-as num novo separador.
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segunda-feira, 12 de março de 2018

domingo, 11 de março de 2018

Polimedicação


Estávamos no tempo da “Caixa de Previdência” – seis doentes por hora, duas horas por dia, cinco dias na semana. Na prática - duas horas e meia – quinze doentes por tarde, para compensar o dia em que se faltava, por se estar no Serviço de Urgência.
Nesse dia distante de 1981, eu, para além dos meus quinze, tinha os quinze de uma colega que adoecera, e me pedira para a substituir.
Nunca fui de “despachar” doentes, pacientes, clientes ou utentes (como se lhes quiserem chamar), pois é a queixa que define o sentido da consulta e não quem a traz, embora muitas vezes seja mais importante saber que doente tem a doença, que a doença que o doente tem.
Raramente acabava no tempo previsto, situação que se complicava quando o número de utentes aumentava. O cansaço dos trinta dessa tarde de Setembro, deve-me ter levado a algumas críticas ao que entendia como ... “disfuncionalidades”. 
Lembro-me de ter comentado o grande número de medicamentos que uma doente me disse estar a tomar, de ter desistido de lhe retirar os que me pareceram desnecessários, e escrever na ficha, para minha colega se dar a esse trabalho: “Ena! Tanto comprimido!!!”

A carta que me foi entregue, dias depois, é um puxão de orelhas, que guardei, para me lembrar que há muitas realidades.
 
(Clique na imagem para a aumentar)



domingo, 4 de março de 2018

Gestão da floresta portuguesa




Avisos não faltam: 
“Os proprietários têm até 15 de Março para limpar as áreas envolventes às casas isoladas, aldeias e estradas, e, caso não o façam, ficam sujeitos a processos de contra-ordenação, com coimas que variam entre 280 e 120 mil euros”.
No que respeita a casas isoladas há que fazer a gestão de combustível numa faixa de 50 metros, mas quando se trate de “conglomerados urbanos” essa gestão, estende-se a uma largura não inferior a 100 metros.

Ligo a Televisão e ouço os deputados. Os do PS a defender o cumprimento da lei, mesmo quando se levantam vozes a alertar para as dificuldades da sua implementação no terreno, e ouço os da “oposição” preocupados com os problemas sociais dos proprietários de terrenos que se encontram nessas zonas. Ambos cheios de razões, mas nenhum com a coragem suficiente para dizer as palavras verdadeiras que lhes estão na mente e que são: “que o minifúndio na floresta não tem viabilidade e que os proprietários, ou vendem a quem tenha capacidade de gerir floresta ou se associam para a ganharem!

Mas isto é uma mudança radical para os nossos mini-proprietários, a grande maioria herdeiros já bem entrados nos anos e com a vida arrumada ao jeito de que foram capazes, e a quem as poucas centenas de Euros a que conseguirão vender as suas parcelas (à volta de 3 euros/m2) lhes não altera o viver, e manter limpos os eucaliptais, só lhes dá despesa.
Uns, nem lhes sabem os limites. Outros, ainda não fizeram partilhas mas sentem-se donos de um quinhão de uns três mil metros de mato onde predominam acácias e outras infestantes, mas que "um dia poderá ser urbanizado". Outros, perderam-lhes acesso, porque os caminhos estão atulhados pelos galhos que os madeireiros não levaram.

Dizer a essa gente que "tem de vender" porque senão o Estado os vai multar, é coisa que nenhum político ousa fazer, porque sabe que, no dia seguinte, a comunicação social vai esquecer os benefícios da gestão da floresta e passar a falar nos proprietários pobres, na sua reforma de miséria e das bouças como um complemento para alguma dignidade.

Portugal pertence a uma Europa que aposta no crescimento económico e na competitividade e que quer modernizar a exploração da sua floresta.  Ora ela só pode ser feita se deixar de estar na mão de sexagenários conformados e passar a ser gerida por quem quer fazer dela o seu futuro.

É isso que os políticos evitam dizer abertamente. Protegem-se, fazendo-o pela calada e tentam gerir o problema à medida que ele for aparecendo!