terça-feira, 11 de janeiro de 2022

A minha bisavó Maria


Fevereiro de 1926

A minha bisavó Maria da Conceição Costa (f: 1964) e António Faustino de Andrade em Torres Vedras (onde era tesoureiro da Fazenda Pública). 
Atrás os filhos. Da esquerda para a direita - Alberto, Amílcar, o meu avô António Santos (1895 - 1970) e o filho de ambos Faustino de Andrade, que teria nesta altura 13 ou 14 anos. A senhora em baixo é a minha avó Helena (1901-1987), um mês depois do nascimento de minha mãe.

Foi o seu segundo casamento. Do primeiro com um agricultor de Cotas- Alijó, nasceram três filhos. Não conheci esse meu bisavô. Consta que gostava pouco de trabalhar e que não emparelhava com o espírito desenvencilhado da minha bisavó, o que a fez pegar nos filhos ainda pequenos e casar-se em segundas núpcias com este António Faustino que, reza a história, terá conhecido numa viagem de comboio para o Porto.

Estávamos no princípio do Século XX, com leis e costumes bem diferentes dos de hoje, que levam a perguntas sem resposta. Como é que ela sai daquela aldeia com a prole, deixando para trás o marido, num tempo em que não havia divórcio? Certo é que ela era uma mulher de fibra, incapaz de se acomodar a um homem que não trazia soluções nem pão para casa. 
E o que fazia ela num comboio para o Porto? E o que fez o António Faustino encantar-se por uma  transmontana, com 3 filhos? 

Este homem, ali sentado, de aspecto imponente, provou ser muito boa pessoa ao criar os rapazes como filhos. Empregou o meu avô na tesouraria em Torres Vedras (terra onde onde conheceu a minha avó) e posteriormente deu-lhe casa no Porto. Faleceu em 1947, quinze dias depois do casamento dos meus pais, onde se divertiu e dançou debaixo do véu da noiva. 

A minha bisavó, à sua direita, que até aos últimos dias cuidou de receber as rendas dos inquilinos, faleceu ao telefone depois de combinar um passeio com um dos filhos. Como estava pronta para sair, não a prepararam de novo e foi enterrada com a bolsa de dinheiro que trazia sempre debaixo da saia.

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