segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Ciência

 

Eu acredito na Ciência. É uma fé com reservas, que nada tem de religioso. A Ciência é um clube internacional amigável, onde a maioria dos seus membros alimenta a esperança de um futuro melhor. Mas os cientistas são gente como nós, capazes dos maiores vícios e das maiores virtudes e, na sua curiosidade, podem não resistir a questões “éticas” e abrirem portas para o inferno.

Quando olhamos para o futuro numa escala de tempo de cem anos, que é o limite da nossa esperança de vida, devemos definir as causas a que se devem dirigir as nossas lealdades. As lealdades com a família, tribo e instituição estão profundamente enraizadas na nossa natureza e transcendem as nossas vidas individuais. Sem essas causas maiores que nós próprios, não seríamos humanos.

Cem anos é também o limite técnico para a previsibilidade. Qualquer tecnologia, como o carvão, o vapor, a electricidade, o microChip, o ADN recombinante ..., fica dominante, no máximo, durante cem anos, até ser eclipsada pelas suas sucessoras, que não se podem prever, pois basear-se-ão em descobertas ainda não efectuadas.

Há duas espécies de revoluções científicas. As provocadas por novos instrumentos e as que derivam de novos conceitos. O efeito de uma revolução de base conceptual consiste em explicar velhas coisas de novas maneiras (Copérnico, Newton, Darwin, Maxwell, Freud, Max Plank e Einstein). O de uma revolução baseada nos instrumentos é descobrir novas coisas que têm de ser explicadas (Termómetro, Microscópio, Luneta astronómica, Barómetro, …, a Máquina de fiar, Máquina a vapor,… Microscópio electrónico, Computador e Bancos de memória, …)

Mas o "saber" é perigoso, como aprenderam Adão e Eva ao provarem o fruto proibido da árvore do conhecimento. Os deuses não querem que o Homem algum dia se lhes equipare e fazem com que as suas descobertas lhe acarretem cada vez maiores riscos, coisa nem sempre entendida por alguns governantes, pois, na política, arriscar uma má decisão é melhor que ser indeciso, enquanto que na Ciência se ganha respeitabilidade quando se diz “mais vale seguro que arrependido!”

E, no Mundo, quem decide o que se faz e o que não se faz, não são os cientistas!

O problema fundamental para a sociedade humana no século XXI, é o desajustamento entre a tecnologia e as necessidades básicas dos pobres – habitação, saúde, educação. A separação entre tecnologia e necessidades é grande e está a aumentar. Se a tecnologia continua no seu curso actual, ignorando as necessidades dos pobres e inundando os ricos de benefícios, mais tarde ou mais cedo, os pobres revoltar-se-ão contra a tirania da tecnologia e optarão remédios irracionais e violentos. No futuro, como no passado, é provável que a revolta dos pobres empobreça igualmente ricos e pobres.

In “Mundos imaginados” de Freeman Dyson



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