Nos tempos que correm, o que está a dar são os “eventos”, que se apresentam como solução para o isolamento crescente a que todos nos vamos votando. E há-os de reduzida, de média e de grande dimensão, a ponto de até parecer mal não ter participado em qualquer um deles.
A primeira vez
que ouvi falar de “eventos” foi num noticiário a propósito do genro de Cavaco
Silva, Luís Montez, ter
sido investigado por causa da venda do Pavilhão Atlântico. Soube então que ele
estava ligado à música e aos Festivais de Verão. Isto em 2010. Como o homem, ao
que parece, terá enriquecido, a moda dos “eventos” espalhou-se por outros
domínios e apareceram “eventos” para todos os gostos e feitios. Os Festivais da
Sardinha, da Cereja, do Bacalhau, do Marisco, da Cerveja, da Sopa, do Carapau,
do Vinho Verde, do Chouriço … e do mais que um tipo se pode lembrar,
multiplicaram-se pelas cidades e aldeias do país para estimular as gentes a
sair de casa e a gastar o pouco que lhe sobra num turismo que pouco difere do que
lhe entra casa adentro pela televisão.
Noutros tempos
era o Futebol e as festas religiosas que geravam os “eventos”: a Páscoa, o
Natal, os Santos Populares e os Santos padroeiros das 3091 freguesias de
Portugal (já foram 4 259,
pelo que é provável que haja dois ou mais nas que se juntaram na reforma
administrativa de 2013), mas a concorrência cresceu. O Futebol manteve a onda,
enquanto que a religião tende a perder cota, pese embora o turismo religioso de
Fátima, as Jornadas das Juventude que o Papa traz a Lisboa ou os esforços de
alguns, como o padre Fontes, que inventou a sexta-feira 13, em Montalegre.
Acabados os eventos, partilham-se as fotos nas redes sociais e
mantêm-se as pulseirinhas nos pulsos, longas semanas, a atestar o “eu estive
lá!”. Depois, cada um volta ao seu recanto para jogar jogos, trabalhar “on line”
ou num posto cada vez mais isolado.
Quem organizou o “evento” é suposto ganhar uns milhares,
bem como a hotelaria e a restauração do lugar, mas há aqueles a quem o “evento”
não beneficia e só veja o seu trabalho agravado. Neles incluo o pessoal de
Saúde (mas não só), que tem de lidar com os excessos, as disfunções e as doenças desse acréscimo de população, que têm de adiar férias ou de fazer
horas extra ao preço habitual, enquanto os hotéis multiplicam várias vezes os seus preços.
Por isso, não é de espantar que, quem não vê na mira a
correspondente fatia do bolo, fale em distúrbios e em greves para os dias do
evento.
É a vida, como diria Guterrez!
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