…
- Na nossa última conversa disseste o que te desagradava em
mim e, é uma regra de boa educação, também me deixares dizer o que me desagrada
em ti!
- Que coisa é essa que te desagrada?
- Usaste uma palavra que me provocou. Chamaste-me “arrogante”, quando é exactamente, a arrogância o que mais me desagrada em ti! Na tua opinião os violadores e os assassinos podem ser vítimas. Eu chamo-lhes cães, que só com o chicote se consegue impedir que lambam o próprio vómito.
- Os cães podem aprender coisas úteis, se não se perdoarem
sempre que sigam a sua natureza!
- Então sou arrogante! Sou arrogante por perdoar?
- Meu Deus! Não vês quão condescendente és, ao dizer isso?
Não vês que ninguém consegue chegar a esses teus padrões éticos, onde tudo se
perdoa? E eu não conheço nada mais arrogante que isso! Tu, minha filha, perdoas
aos outros com desculpas que nunca admitirias para ti própria!
- E porque é que não posso ser misericordiosa??
- Podes e deves ser misericordiosa, mas na altura certa!
Mantendo os teus padrões! Deves-lhes isso! Os castigos que mereces para os teus
erros, é o mesmo que merecem os outros!
- São só humanos!
- E todo o ser humano deve ser responsável pelos seus actos.
Só que tu, não o deixas ser! E isso, é extremamente arrogante! … O poder não é
assim tão mau e eu tenho a certeza que eras capaz de usar o teu à tua maneira!
- As pessoas que aqui vivem esforçam-se em circunstâncias
muito duras!
- Mas será que fazem o seu melhor? Ou só o suficiente?
…
E, de repente, soube qual era a resposta para a sua dúvida.
Se tivesse agido como eles, não encontraria uma só desculpa para os seus actos
e não haveria castigo que a punisse. E foi como se uma dor se tivesse dissipado. Se
alguém tinha o poder para pôr tudo como deve ser, tinha o dever de o fazer, a
bem das outras aldeias e de toda a humanidade. E também, não em menor grau, a
bem do ser humano que era ela, Grace.
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