Nunca pensei ser artista, embora mantenha veleidades de artesão. Artista, implica capacidade de inovar, de criar qualquer coisa que nunca tenha sido feita e o meu trabalho sempre foi aplicar o estado da arte às particularidades de cada indivíduo. Por isso, olho os artistas, com um misto de respeito e receio, por temer que a etiqueta de “arte” caia sobre embustes de toda a espécie.
No outro dia, dei com um pequeno texto sobre “A
Desumanização da Arte e outros ensaios de estética” de Ortega e Gasset
(1883-1955). Transcrevo:
O livro abre com uma afirmação audaciosa: As massas odeiam a arte nova, porque não a entendem!. A razão é evidente: a arte romântica, que encadeou o século XIX, bem como o naturalismo, estavam ao alcance de todos, com a representação exaltada da vida sentimental e das suas efusões piegas e o tratamento clínico dos seus problemas sociais; mas as novas tendências da música, da pintura, do teatro e da literatura, que não aspiram a mostrar a vida tal como é, mas sim criar “outra” vida, exigem um esforço intelectual laborioso – uma mudança de perspectiva e da própria ideia do que é arte - , que “o grande rebanho filisteu” não está disposto a fazer. Portanto, deu-se um divórcio irremediável – um abismo – entre a arte nova, os seus cultores e defensores, e o resto da sociedade.
… O artista do nosso tempo, não quer que a sua arte apareça como uma ilustração da “vida verdadeira”; pelo contrário, aspira criar uma vida diferente da real. … Debussy desumanizou a música, Mallarmé a poesia, Pirandello o teatro, Joyce a literatura e, na pintura, “de pintar as coisas, passou-se a pintar ideias. O artista cegou para o mundo exterior e voltou a pupila para as passagens interna e subjectivas”.
“Nestes tempos, cada vez mais, nos diferentes ramos da cultura, se impõem, sobre a
linguagem comum, os jargões especializados e herméticos sob cuja
sombra, muitas vezes, se esconde não a complexidade e a profundidade
científica, mas sim a prestidigitação verborreica e o ardil”.
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