Custa-me a aceitar a devassa que se faz na vida das figuras públicas, na tentativa de identificar factos ou imagems que as possam denegrir. Mas de facto alguns deles propiciam-nas:
Qualquer modo de ver a realidade é necessariamente limitado. Estas são algumas das histórias que definem o meu olhar.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Havia de conhecer o meu primo!
Esta ou identifica um padrão inferior e compara-se com ele - "Eu? Mentiroso??? Havia de conhecer o meu primo!"
ou identifica qualquer facto remoto que possa dimuir a autoridade de quem chama a atenção.
Mas se por acaso a situação se extrema, vêm logo os direitos, sempre desacompanhados dos deveres.
E era por isso que, quando lhe cresciam com o:
-"Eu tenho os meus direitos!"
ele respondia sereno:
-"O diabo tinha-os tortos!"
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Visita Geral
Era dia de visita geral. O professor seguido do seu séquito de assistentes entrava solene pelas enfermarias do Serviço e perguntava o que se passava com cada doente.
Eu era Interno do 1º ano e como tal deveria saber tudo sobre os doentes e cumprir as ordens. O meu chefe de sala confiava em mim, e como as minhas insuficiências se reflectiam sobre ele, sentia uma dupla responsabilidade.
Na enfermaria um dos doentes tinha bronquiectasias, com grande volume de expectoração.
-“Então que se passa aqui? E que medicação? e … está com fisioterapia? E mais isto e aquilo… e … era bom medir diariamente o volume de expectoração para avaliar a resposta!” e lá se continuou por ali fora.
No fim, fui falar com o homem. –“Você é capaz?. Que sim, que escarrava sempre na caneca que lhe iríamos disponibilizar e, como também estava a medir a diurese, ficou com 2 canecas semelhantes na mesinha de cabeceira.
No dia seguinte a caneca graduada da expectoração estava vazia e a da urina tinha um volumoso sobrenadante de expectoração amarela.
-“Então como é?”.
Tinha-se esquecido. Nos outros dias a cena repetiu-se com o homem sempre a desfazer-se em desculpas e a prometer correcção.
Na quarta-feira seguinte quando o professor e comitiva desceram do céu e passaram na frente da cama, perguntou:
-“Então? O doente tem menos expectoração?
Expliquei a situação clínica e a falta de colaboração na recolha da expectoração e, passávamos ao seguinte, quando olho para trás e vejo o doente, embezerrado, com as duas canecas entre as pernas, a passar cuidadosamente com a mão, a expectoração da caneca da urina para a caneca vazia.
Simulei afazer inadiável, pedi autorização para me ausentar e arrastei um biombo que ali estava para a frente da sua cama enquanto me dirigia a chamar a enfermeira. - Só eu é que vi!...
Breve história da expectoração:
No final do século XIX pululavam as pessoas que escarravam. A expectoração atapetava o solo, as paredes, os lenços e as roupas interiores.
Para dar resposta a este problema de higiene surgiram no mundo ocidental os Escarradores, coisa que já era usada no sudoeste asiático centenas de anos antes.
Em 1840 apareceram pela 1ªvez nos USA e em Inglaterra e tornaram-se populares nos finais do século XIX onde marcavam presença nos Saloons, Hotéis, Lojas, Bancos, e outros locais onde as pessoas (principalmente os homens) se juntavam. Eram na maior parte feitos de latão, mas havia-os de vidro e porcelana e alguns constituiam peças de decoração.
Eram usados principalmente pelos que mascavam tabaco, mas também serviam para apoio aos doentes com tuberculose, pelo que os públicos deveriam conter um anti-séptico (ácido fénico). Como este tinha um cheiro desagradável e era caro, muitos enchiam-nos com serrim, cinzas ou areia.
No final do século XIX a tuberculose era causa de 15% das mortes. Em 1882 Robert Kock descobriu o agente da tuberculose e constatou que os escarros secos eram mais perigosos que os húmidos. Os tuberculosos foram então estimulados a usar escarradores de bolso e as normas de higiene e de etiqueta mudaram.
Eu era Interno do 1º ano e como tal deveria saber tudo sobre os doentes e cumprir as ordens. O meu chefe de sala confiava em mim, e como as minhas insuficiências se reflectiam sobre ele, sentia uma dupla responsabilidade.
Na enfermaria um dos doentes tinha bronquiectasias, com grande volume de expectoração.
-“Então que se passa aqui? E que medicação? e … está com fisioterapia? E mais isto e aquilo… e … era bom medir diariamente o volume de expectoração para avaliar a resposta!” e lá se continuou por ali fora.
No fim, fui falar com o homem. –“Você é capaz?. Que sim, que escarrava sempre na caneca que lhe iríamos disponibilizar e, como também estava a medir a diurese, ficou com 2 canecas semelhantes na mesinha de cabeceira.
No dia seguinte a caneca graduada da expectoração estava vazia e a da urina tinha um volumoso sobrenadante de expectoração amarela.
-“Então como é?”.
Tinha-se esquecido. Nos outros dias a cena repetiu-se com o homem sempre a desfazer-se em desculpas e a prometer correcção.
Na quarta-feira seguinte quando o professor e comitiva desceram do céu e passaram na frente da cama, perguntou:
-“Então? O doente tem menos expectoração?
Expliquei a situação clínica e a falta de colaboração na recolha da expectoração e, passávamos ao seguinte, quando olho para trás e vejo o doente, embezerrado, com as duas canecas entre as pernas, a passar cuidadosamente com a mão, a expectoração da caneca da urina para a caneca vazia.
Simulei afazer inadiável, pedi autorização para me ausentar e arrastei um biombo que ali estava para a frente da sua cama enquanto me dirigia a chamar a enfermeira. - Só eu é que vi!...
Breve história da expectoração:
No final do século XIX pululavam as pessoas que escarravam. A expectoração atapetava o solo, as paredes, os lenços e as roupas interiores.
Para dar resposta a este problema de higiene surgiram no mundo ocidental os Escarradores, coisa que já era usada no sudoeste asiático centenas de anos antes.
Em 1840 apareceram pela 1ªvez nos USA e em Inglaterra e tornaram-se populares nos finais do século XIX onde marcavam presença nos Saloons, Hotéis, Lojas, Bancos, e outros locais onde as pessoas (principalmente os homens) se juntavam. Eram na maior parte feitos de latão, mas havia-os de vidro e porcelana e alguns constituiam peças de decoração.
Eram usados principalmente pelos que mascavam tabaco, mas também serviam para apoio aos doentes com tuberculose, pelo que os públicos deveriam conter um anti-séptico (ácido fénico). Como este tinha um cheiro desagradável e era caro, muitos enchiam-nos com serrim, cinzas ou areia.
No final do século XIX a tuberculose era causa de 15% das mortes. Em 1882 Robert Kock descobriu o agente da tuberculose e constatou que os escarros secos eram mais perigosos que os húmidos. Os tuberculosos foram então estimulados a usar escarradores de bolso e as normas de higiene e de etiqueta mudaram.
Nos anos 20 o escarrador caiu em desuso. Para isso também contribuiu o aparecimento da pastilha elástica (1870) e difusão dos cigarros (~1850) em substituição do tabaco para mascar.
Mas na China o seu uso generalizado manteve-se até 1980.
Nota: na era pré-antibiótica (Penicilina - Fleming - 1928) muitas pneumonias cursavam com destruição parenquimatosa, pelo que os doentes que recuperavam ficavam com bronquiectasias e expectoração crónica para o resto das suas vidas.
Mas na China o seu uso generalizado manteve-se até 1980.
Nota: na era pré-antibiótica (Penicilina - Fleming - 1928) muitas pneumonias cursavam com destruição parenquimatosa, pelo que os doentes que recuperavam ficavam com bronquiectasias e expectoração crónica para o resto das suas vidas.
domingo, 24 de fevereiro de 2008
Não há palavras
Os Sofistas (Grécia, século V - A.C.) ensinavam a usar a palavra para persuadir os outros na utilidade de uma acção.
Agora discute-se na rua e dá-se voz à ignorância.
Doem-me as entrevistas sem vocabulário ou ideias e o “Não há palavras!”, porque falta vocabulário para exprimir um sentimento mais intenso.
O Dicionário OGDEN's Basic English contém as 850 palavras necessárias para falar o inglês básico e o Oxford English Dictionary contém 616.500.
O português médio têm vocabulário escasso e na sua casa tem poucos livros de referência como Dicionários, Livros de História e outros, que permitam numa consulta rápida para resolver as dúvidas do dia a dia. O grosso do seu conhecimento é obtido por audição e, se não conhece uma certa palavra, tende a substituí-la por outra que conhece e que mais se lhe assemelha.
Os médicos, mas não só, têm vasta experiência deste fenómeno pois a sua linguagem técnica é muito usada pela população. Taquicardia pode ser ouvida como ataque cardíaco, clister opaco como clister ao papo, mal triada como mal criada, fumador inveterado por fumador invertebrado etc.…, para além dos múltiplos erros na escrita e na fonética (almorródias, basílica, o pence, ...).
Mas o maior problema é desconhecer o significado das palavras que usa.
Na casa da minha avó, havia uma empregada, que à força de ouvir termos que desconhecia, lhes foi aprendendo o som, e num dia em que o gato se atirou aos rissóis de bacalhau que tinha acabado de fritar, entre vários impropérios disse, peremptória:
-“Sape gato, infalivelmente, nunca vi gato mais exterior!”
sábado, 23 de fevereiro de 2008
As correntes do Fontes
Numa vila do Marco de Canavezes, uma esplanada era ponto de encontro onde o Sr. Fontes, dormitava a digestão das lautas refeições. Era um homem de 65 anos, obeso, e vestia habitualmente um fato completo de onde sobressaia no redondo do abdómen as grossas correntes do seu relógio de bolso.
Aquela exibição soava a provocação.
Um dia, um amigo, para o chamar à razão, disse-lhe :
-“Oh Fontes! Tu adormeces profundamente aí sentado com esse ouro todo exposto e se passa um ladrão, leva-to!”
-“Não te preocupes! Que eu tenho despertar fácil e sou ainda homem para o agarrar e dar-lhe o respectivo correctivo!” retrucou.
Esta farronca constituiu um desafio e, na primeira oportunidade, trocaram-lhe as correntes por umas falsas.
Depois, foram ter com ele:
-“Oh Fontes! Tu não tens cuidado com esse ouro e, se não te cuidas, vais ter uma surpresa desagradável!”.
Ouviram a resposta habitual e, simulando curiosidade face a tão grande valor, pediram para as observar.
Um dia, um amigo, para o chamar à razão, disse-lhe :
-“Oh Fontes! Tu adormeces profundamente aí sentado com esse ouro todo exposto e se passa um ladrão, leva-to!”
-“Não te preocupes! Que eu tenho despertar fácil e sou ainda homem para o agarrar e dar-lhe o respectivo correctivo!” retrucou.
Esta farronca constituiu um desafio e, na primeira oportunidade, trocaram-lhe as correntes por umas falsas.
Depois, foram ter com ele:
-“Oh Fontes! Tu não tens cuidado com esse ouro e, se não te cuidas, vais ter uma surpresa desagradável!”.
Ouviram a resposta habitual e, simulando curiosidade face a tão grande valor, pediram para as observar.
-"São falsas!" disseram, para seu espanto.
-“O quê?! Recebi-as como herança de um tio do Brasil, pessoa muito rica!” afirmava defendendo-lhes a autenticidade e, indignado perante a insistência do outro, propôs uma aposta. Apertaram a mão e foram ao ourives.
-“O quê?! Recebi-as como herança de um tio do Brasil, pessoa muito rica!” afirmava defendendo-lhes a autenticidade e, indignado perante a insistência do outro, propôs uma aposta. Apertaram a mão e foram ao ourives.
-"Então?"
-"São falsas!" e foi com ar pálido e resignado que deitou a mão à carteira.
Nos dias seguintes o assunto foi alvo de apreciações: “tu sabias que era falso!”, “”bem me parecia audácia demais!” ao que o Fontes, que se mantinha a usá-las, respondia a boa fé na veracidade das correntes, mas que estivera enganado aquele tempo todo.
Nos dias seguintes o assunto foi alvo de apreciações: “tu sabias que era falso!”, “”bem me parecia audácia demais!” ao que o Fontes, que se mantinha a usá-las, respondia a boa fé na veracidade das correntes, mas que estivera enganado aquele tempo todo.
Ao fim de duas semanas repuseram-lhas, de modo idêntico, e de novo o abordaram sobre a sua natureza.
-“Posso ver as correntes?”
-“Não vale a pena que são falsas!” e contou mais uma vez a história do seu erro, contrariando “a pés juntos”, o que o outro afirmava agora "ouro de lei".
Voltaram ao ourives com nova aposta, que de novo pagou, e foi-lhe então contada toda a tramoia que lhe fora urdida.
Desde então quando, de chacota, lhe perguntavam:
-“Oh Fontes! Então as correntes são de ouro ou não?”
O Fontes, filosoficamente, respondia:
-“Tem dias!”
-“Posso ver as correntes?”
-“Não vale a pena que são falsas!” e contou mais uma vez a história do seu erro, contrariando “a pés juntos”, o que o outro afirmava agora "ouro de lei".
Voltaram ao ourives com nova aposta, que de novo pagou, e foi-lhe então contada toda a tramoia que lhe fora urdida.
Desde então quando, de chacota, lhe perguntavam:
-“Oh Fontes! Então as correntes são de ouro ou não?”
O Fontes, filosoficamente, respondia:
-“Tem dias!”
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
O Medicalez
As profissões técnicas que envolvem vários profissionais exigem uma comunicação eficiente.
De um artigo do NEJM retiro as frases:
- Um médico à saída da Universidade adquiriu cerca de 55.000 novas palavras.
De um artigo do NEJM retiro as frases:
- Um médico à saída da Universidade adquiriu cerca de 55.000 novas palavras.
- A Medicina tem regras de gramática e um estilo próprios.
- Sete minutos é o tempo para a apresentação completa de um doente
- A sequência da apresentação deve respeitar as expectativas dos ouvintes – “Nunca peças a sobremesa antes de uma salada”
- Omite as palavras desnecessárias e…
- e … “Just give me pertinents!”
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Peso Específico
1973
Eu tinha que ganhar dinheiro. Para quê? Ainda agora não sei!
Iniciava o 4º ano de Medicina, quando um amigo me propôs dar aulas de Ciências Naturais e de Geografia a um curso nocturno do 2º ciclo numa Escola Técnica.
Pedi os livros de apoio às aulas, folheei-os e disse para mim:
-“É canja! Eu sei isto tudo. Uma hora antes leio o assunto, vou no carro do meu pai, dou as aulas em 2 dias na semana e venho-me embora em menos de um fósforo!”
Falei com o Director e saí de lá com um horário de 3 dias em vez dos 2 previstos. Mas tudo bem! Estávamos no princípio do ano lectivo e a pressão que sentia depois das férias grandes era mínima.
Fiz as aulas de apresentação, dei as primeiras aulas sem qualquer dificuldade e com o gozo de ver aqueles jovens adultos a seguir as minhas explanações depois do seu dia de trabalho. Falava dos intestinos com o mesmo à-vontade com que enumerava a geopolítica da Índia.
Para o fim do 1º período as deslocações tornaram-se penosos e surgiram os testes de avaliação. Tinha-os desvalorizado e estavam fora do meu esquema, mas fi-los com responsabilidade e respeito para com a Escola e por mim. Vigiei-os e corrigi-os! Um a um. 64 de Ciências e 64 de Geografia! 128 no total!!!! e com perguntas de desenvolvimento!!!!! Julguei que morria!
A maior parte não percebia a pergunta nem era capaz de organizar um texto com sequência. Um desastre! Eu que até aí lhes via atenção no olhar, passei a ver-lhes ausência quando acenavam sim aos meus “Estão a compreender?” e lentamente fui desanimando.
Um dia, num renascido ímpeto, decidi investir o máximo das minhas capacidades lectivas na aula de Ciência Naturais, já que na de Geografia vacilava na Meteorologia.
O tema era o Peso Específico. Expliquei a coisa ao pormenor e no fim perguntei se tinham dúvidas. “Que não!”.
O tema era o Peso Específico. Expliquei a coisa ao pormenor e no fim perguntei se tinham dúvidas. “Que não!”.
Chamei então ao quadro um rapaz, de cerca de 18 anos, que estava na primeira fila e que tinha acompanhado toda a exposição com movimentos afirmativos.
-“Percebeste?”
-“Sim!”
-“Então, resolve este problema: O peso específico do ferro é 7,86gr/cm3. Quanto pesam 10 cm3 de ferro?”
Por momentos ficou parado a olhar para mim. Depois, face à minha expectativa, pôs a mão no queixo, olhou para o tecto com os olhos semicerrados, balbuciou como quem soma e, ao fim de dezenas intermináveis de segundos respondeu:
- “Bastante!”
-“Percebeste?”
-“Sim!”
-“Então, resolve este problema: O peso específico do ferro é 7,86gr/cm3. Quanto pesam 10 cm3 de ferro?”
Por momentos ficou parado a olhar para mim. Depois, face à minha expectativa, pôs a mão no queixo, olhou para o tecto com os olhos semicerrados, balbuciou como quem soma e, ao fim de dezenas intermináveis de segundos respondeu:
- “Bastante!”
Uma semana depois resignei!
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Cassandra
Cassandra é uma personagem da mitologia grega, filha do rei Príamo e da rainha Hécuba de Tróia.
Cassandra e o seu irmão gémeo, Heleno, ainda crianças, foram brincar para o Templo de Apolo. Os gémeos brincaram até ficar demasiado tarde para voltarem para casa, e assim, foi-lhes arranjada uma cama no interior do templo. Na manhã seguinte, a ama encontrou as crianças ainda a dormir, enquanto duas serpentes passavam a língua pelas suas orelhas. A ama ficou aterrorizada mas as crianças estavam ilesas. Como resultado do incidente os ouvidos dos gémeos tornaram-se tão sensíveis que lhes permitiam escutar as vozes dos deuses.
Cassandra tornou-se uma jovem de magnífica beleza, devota servidora de Apolo. Foi de tal maneira dedicada que o próprio deus se apaixonou por ela e ensinou-lhe os segredos da profecia. Cassandra tornou-se uma profetisa, mas quando se negou a dormir com Apolo, ele, por vingança, lançou-lhe a maldição de que ninguém jamais viesse a acreditar nas suas profecias ou previsões.
Cassandra passa então a ser frequentemente considerada como louca ao tentar comunicar à população troiana as suas inúmeras previsões de catástrofe e desgraça.
A gravidade da incredibilidade das previsões e profecias de Cassandra levaram à queda e consequente destruição de Tróia, quando esta viu frustradas as suas sucessivas tentativas de implorar a Príamo que este destruísse o cavalo de madeira (Cavalo de Tróia) divisado por Ulisses para a conquista de Tróia pelo seu interior.
In Wikipédia
Ouço os profetas actuais e pergunto: quem terá contactado com as serpentes?
In Wikipédia
Ouço os profetas actuais e pergunto: quem terá contactado com as serpentes?
sábado, 16 de fevereiro de 2008
O "Permanente"
Em 1980 - tinha vindo do Serviço Médico à Periferia, que era uma espécie de bodo às populações periféricas do país, com médicos recém-formados que, por um ano, se deslocavam para os locais onde os Serviços Médico-Sociais das Caixas de Previdência e as Casas do Povo (nos primórdios do SNS), tinham gravosa falta de médicos – Alto Minho, Alto Douro e Trás-os-Montes, … mas disso falarei mais tarde.
Nessa altura o meu trabalho semanal no Hospital de S. João ocupava-me as manhãs e uma só tarde/noite de 12h Urgência. As restantes tardes ficavam livres e era prática da maioria dos médicos ter um período de 2h na “Caixa” onde deveriam ver 12 doentes (6 à hora).
Nessa altura o meu trabalho semanal no Hospital de S. João ocupava-me as manhãs e uma só tarde/noite de 12h Urgência. As restantes tardes ficavam livres e era prática da maioria dos médicos ter um período de 2h na “Caixa” onde deveriam ver 12 doentes (6 à hora).
As outras possibilidades eram os Domicílios, 6 por dia numa pequena zona da cidade e o Serviço Permanente.
Neste faziam-se domicílios nocturnos, 3 noites por mês, das 20:00h às 08:00h, e um dia de fim-de-semana de 4 em 4 semanas, das 08:00h às 08:00h. Nas noites deviam ser atendidos até 10 doentes e no fim-de-semana até 20. Cobria todo o Porto, Gaia central e Matosinhos.
Esta última modalidade tinha para mim a vantagem de deixar os dias livres e de ter um pagamento em que só por se estar à chamada se recebia metade do vencimento que se pagava pelo período de 2h/dia nas Consultas sentado à secretária (3.300$00), sendo o restante só atribuído de acordo com o nº de doentes observados. Assim 30 + 20 = 50 X 33$00 = 1.650$00.
Este esquema seduziu-me e quando apareceu a primeira vaga agarrei-a. Devíamos ser para aí 12 nestas funções. O mais aborrecido era o fim-de-semana, por se ter de andar todo o dia de um lado para o outro, cumprindo a obrigação de dar resposta às solicitações em 3 horas. À noite era mais fácil, porque nunca havia 10 chamadas – habitualmente eram 4 ou 5.
Às 21 horas o telefonista que recebia as chamadas na Sede, telefonava-me:
- “Doutor tem 4! Um no Bairro de Aldoar, Bloco L, Entrada 256, casa 21, outro na Rua da Vitória, nº 315, outro na Rua da Banharia, nº 31 e outro na Rua da Vilarinha, nº 6. É melhor começar pela Banharia, que aquilo ali não é seguro e o familiar da doente fica na Rua Mouzinho da Silveira à sua espera e leva-o lá. Se começar por lá eu aviso-o para ficar até o Dr. passar!”.
– “OK!, começo por aí! Diga-lhe que vou num R5 azul e que paro perto! Ele deve identificar-me.!” - “E a Rua da Vilarinha, onde é?”
- “É a meio da Avenida da Boavista. O melhor é parar logo no início da Rua Antunes Guimarães e ir a pé que é uma das primeiras casas “
- "E o Bairro em Aldoar?”
– “Fica atrás do Magalhães Lemos.! Veja no Mapa. Vá por Antunes Guimarães e a meio vire à esquerda. Atenção que os Blocos têm as letras identificadoras lá em cima nas paredes laterais!”.
- ”Obrigado! Quando estiver adiantado, volto a telefonar!” Adeus!
Aí vou eu! Certifico-me que tenho o material necessário dentro da mala e saio em direcção ao rio! Ainda há muita gente na rua! Paro perto do local combinado e sou rapidamente identificado por um homem que está na esquina. Tacitamente nos entendemos. Sigo-o medindo os poucos autóctones que ainda circulam, na tentativa de identificar disfunção! Nada! Tudo gente normal! Chegamos à porta e subimos. É coisa banal. Uma febre de ontem! Garganta bem! Pulmões bem! Abdómen bem! Vai por gripe! Receita e, embora que há mais vida! Despeço-me, mas o homenzinho faz questão de me levar em segurança até ao carro! Obrigado!
Aí vou eu para a Rua da Victória que é já ali em cima, mas antes confirmo no Mapa da Cidade o melhor caminho, porque tem sentido único e tenho que entrar pela Cordoaria.
É uma rua estreita, de grande declive, com calçada portuguesa de pedras lisas e escorregadias que não dão confiança para conduzir. Vou aos soluços, a olhar os poucos números de porta visíveis e a adivinhar onde estacionar. Mesmo colocando a placa de “Médico em Serviço Urgente” vai ser difícil parar o carro, mas como há pouco trânsito por aqui a estas horas, hei-de arranjar qualquer lado. 193, 207, 213 … é aqui o 215. Estaciono metros à frente, encostado à porta de uma das casas. Dá para passar um carro, mas se alguém quiser sair da casa vai ter que andar de lado. Vão ser só uns minutos!.
Bato e espero. Bato outra vez! Sinto passos apressados a descer as escadas e, momentos depois abre-se a porta! Vem um homem de cabelo oxidado, que me cumprimenta e pergunta com voz efeminada:
-“É o médico?”
–“Sim!”.
Começamos a subir enquanto conta a história da criança, da febre, da mãe e do não repare doutor! No cimo das escadas está uma motocicleta encostada. Espanto-me, mas não pergunto como foi possível subir com ela aquelas escadas íngremes e estreitas onde meço um a um os degraus. Vamos ao quarto! Há uma mistura de cheiros a urina, leite e a casa fechada, que aumenta à medida que me aproximo da cama onde uma mulher com estigmas de alcoolismo tem ao colo uma criança magra, de uns dois anos, a arfar. A pouca luz não esconde o completo desalinho, com gavetas entreabertas, roupa em montes pelo chão e alguma pendurada.
Pego na criança a medo a medir-lhe a reacção. Arde em febre e imite um gemido pálido enquanto a observo! Não vale a pena perder mais tempo! Pego no Bloco de Receitas, escrevo uma carta ao Serviço de Urgência do Hospital de Sto António, e digo com ar decisivo:
-“Não receito nada! Têm de a levar sem demora ao Hospital de Sto António!”
Certifico-me que perceberam e apresso-me a sair, mas o homem interpela-me com aquela voz melíflua:
- Dr.! Já agora, o Dr. não me dá uma receita para umas hemorróides que eu tenho e que me andam a afligir!”
Olho para ele a medi-lo! Este gajo tem a filha a morrer de febre, provavelmente com uma pneumonia, queira Deus que não tenha uma meningite e, em vez de dar à perna para a pôr no Hospital, quer que o médico aqui apanhado à má fila lhe receite para as hemorróides! Tá quieto ó mau! Nem pensar!
-“Oh meu amigo, trate agora da sua filha e amanhã vá ao Posto Médico para que lhe vejam as hemorróides porque é preciso ver isso antes de receitar. Está bem!”
Despeço-me e, ala para a Rua da Vilarinha.
Algum trânsito a dificultar-me andar depressa, Rotunda da Boavista e toca a andar. Estou no sítio, há aqui um lugar, paro e vou a pé. Mais uns passos e dou rapidamente com a casa térrea. Toco. Espero! Toco outra vez.
–“Quem é?”,
“É o médico!”.
“Um momento!”
Abre a porta uma mulher nos seus 60 anos, bem gastos, desfazendo-se em desculpas.
– Oh Dr.! Não repare que ele é como os recos! Não repare! Eu bem lhe pedi para ele vestir um pijama, mas ele quer ficar assim como os recos, sem roupa!”
Leva-me através de cadeiras, mesinhas e vasos até ao quarto onde numa cama estreita, encostada à parede, me aguarda sentado e todo nu, um homem gordo e careca com uma grande barba branca.
–“Sr. Monteiro?!” Pergunto a tactear.
-“Oh! Doutor! Ainda bem que vem! Não consigo mijar! É uma dor do carago! Quer ver?” e a mulher a apressar-se a meter-se entre nós,
-“Oh! Homem não é preciso mostrar, o doutor já percebeu!”, enquanto o homem pegava num cano de uns 20 cm que estava ao lado da cama, e enfiava pelas pregas que se acumulavam por entre as pernas à procura de um pénis invisível. A mulher já lhe suplicava: “Oh homem pára!”, mas ele, surdo, queria mostrar a dor. Por fim, conseguiu localizá-lo lá bem no fundo, dando início a uma micção ardente pelo tubo em direcção a um pote de plástico, enquanto gania IIIIIHHH. IIIHHHH!!!!
E eu, com ar benevolente, a tentar acalmar a perplexidade da mulher com aquela exibição, dizia: - “Pronto, pronto! Já vi!, Deixe agora isso, Sr. Monteiro”, mas o homem, sem me ligar, cumpriu a totalidade daquele ritual, despejando de seguida, sob o meu olhar incrédulo, o conteúdo do penico num funil que estava no início de uma mangueira transparente, que corria fixada à parede e bordejando a cama até aos seus pés, onde a perfurava, penso que em direcção ao quintal da casa (não confirmei).
Com o ar mais natural possível, diagnostiquei infecção urinária e mediquei de acordo. Quando me apressava-me para sair, a senhora diligente correu para mim com o jarro da água para me ajudar a lavar as mãos na bacia do lavatório esmaltado. Para minha desgraça o jarro não tinha água e para solucionar o lapso, a senhora, que já não sabia o que fazer, disse enquanto fuzilava o companheiro com o olhar:
-“Espere um bocadinho, que eu vou buscar álcool para lavar as mãos!”, e de imediato foi buscar uma garrafa transparente com um líquido transparente que me derramou delicadamente mas mãos. Era aguardente. Esfreguei as mãos e limpei-as a uma toalha limpa que me ofereceu.
–“Boa Noite!. Tenho de me ir que ainda tenho muito que fazer. As melhoras!”
- “Muito obrigado! E desculpe!”, dizia a mulher aflita com toda aquela disfunção.
Agora é o Bairro do Aldoar! Mas antes há que gastar uns toalhetes que a divina providência me colocou no tablier do carro.
É 01:00h e ainda não liguei para o telefonista a perguntar se tem mais chamadas para mim! Detesto ir a Bairros! Há sempre cães vadios a quem as pessoas dão de comer e que ficam em matilha pela rua a rosnar a quem passa perto das casas que consideram seu território!
Perco-me 2 vezes na entrada! Está um nevoeiro cerrado! Mas parece-me que já cá estou. Há candeeiros com luzes apagadas e outros com luzes partidas, talvez por pedradas e vê-se mal o topo dos Blocos de 3 andares, onde estão os números que os identificam. Não anda ninguém na rua! Paro e saio para decifrar a letra deste. É o B! O L deve estar lá para a outra ponta. Continuo, talvez encontre alguém! Passo 5 Blocos e paro. Saio e não vejo letra nenhuma no lado do Bloco. Dou a volta – é o G! Entro outra vez no carro e ando mais dois Blocos! Ninguém! Do carro não consigo ver as letras. Estaciono e vou a pé. O que vale é que não está frio, não chove, nem vejo cães, mas estou a desesperar. Estico a cabeça para identificar este aqui e é … o L! É aqui! Tem 2 entradas. A primeira tem os números caídos, deixa ver aquela, 256. Uff!! Subo 2 lanços de escadas ás escuras por causa das luzes partidas. Com a lanterna de ver gargantas foco o nº da porta - Nº21. Toco à campainha! Estão acordados e vêm abrir a porta! É um casal de velhotes. A casa está desarrumada. Ela está doente e tem dificuldade em andar. Há 3 dias que chamou o médico dos domicílios e ele ainda não apareceu. Foi por isso que chamou o Permanente. A doença é a do costume, mas não tem medicamentos e está pior! Tento ver se há qualquer coisa de novo, verifico a medicação, faço o trabalho do médico domiciliário às 01:30h da noite e antes de sair pergunto se posso usar o telefone. Que sim! Ligo para o Telefonista:
-“Então há mais que fazer?”
-“Sim! Dr.! Tem de ir à 2ª Rua Particular do Castelo do Queijo nº 2. É mesmo no fundo do lado direito, antes daquele Café que lá há! Está a ver?. Mas tenha cuidado que a rua mal se nota!”
Despeço-me e meto-me á estrada.
Dou logo com a casa, até parece que já lá tinha ido. Cães a ladrar e uma voz a acalmá-los.
- “É o Sr. Dr.?”
- “Sim! Os cães estão presos?”
- “Pode entrar, que os cães não fazem mal! Por aqui por este carreirinho, cuidado não caia. Aqui tem um degrau! É a minha mulher que está na cama há dois dias com um febrão dos demónios. Dói-lhe a garganta e não consegue comer!”
Vá que é fácil! Abra a boca, deite-se, respire fundo! Vai tomar isto e aquilo! Adeus e até á próxima! E vão 5. Queira Deus que não haja mais! O melhor é voltar a telefonar antes de chegar a casa. Não! A esta hora só por azar é que voltavam a chamar.
- “É o Sr. Dr.?”
- “Sim! Os cães estão presos?”
- “Pode entrar, que os cães não fazem mal! Por aqui por este carreirinho, cuidado não caia. Aqui tem um degrau! É a minha mulher que está na cama há dois dias com um febrão dos demónios. Dói-lhe a garganta e não consegue comer!”
Vá que é fácil! Abra a boca, deite-se, respire fundo! Vai tomar isto e aquilo! Adeus e até á próxima! E vão 5. Queira Deus que não haja mais! O melhor é voltar a telefonar antes de chegar a casa. Não! A esta hora só por azar é que voltavam a chamar.
Entro em casa sem fazer barulho. Vou a telefone e pergunto:
-“Há mais?”
-“Não!
-“Estou em casa e vou dormir!”
-“Ok! Até à semana!”
-“Até à semana!”
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
The five stages of a project
1. Enthusiasm for the goals
2. Disillusionment with the progress
3. Search for the guilty
4. Persecution of the innocent
5. Praise for the nonparticipants
Os cinco estadios de um Projecto
1: Entusiasmo pelos objectivos
2: Desilusão com a progressão
3: Procura de um culpado
4: Perseguição de um inocente
5: Exaltação de um não envolvido
Esta é uma anedota americana que me parece aplicar-se a Portugal
1: O 25 de Abril
2: O pós-25 de Abril
3: Os políticos
4: Quem vai ser o desgraçado? ????
5: Quem vai ser o Salvador??????
É que eu creio que seria impossível em Portugal de 2008 uma frase semelhante à que disse o Presidente John F. Kennedy, em Janeiro de 1961:
"Ask not what your country can do for you, but what you can do for your country."
2. Disillusionment with the progress
3. Search for the guilty
4. Persecution of the innocent
5. Praise for the nonparticipants
Os cinco estadios de um Projecto
1: Entusiasmo pelos objectivos
2: Desilusão com a progressão
3: Procura de um culpado
4: Perseguição de um inocente
5: Exaltação de um não envolvido
Esta é uma anedota americana que me parece aplicar-se a Portugal
1: O 25 de Abril
2: O pós-25 de Abril
3: Os políticos
4: Quem vai ser o desgraçado? ????
5: Quem vai ser o Salvador??????
É que eu creio que seria impossível em Portugal de 2008 uma frase semelhante à que disse o Presidente John F. Kennedy, em Janeiro de 1961:
"Ask not what your country can do for you, but what you can do for your country."
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Para a frente é sempre na direcção para onde estiveres virado!
Os incultos tendem a desvalorizar o saber. Falam das soluções como se não implicassem esforço diferenciado e facilmente afirmam incompetência nas lideranças.
Habitualmente não querem discutir “os como e os porquês”. Querem só que se lhes diga o que se vai fazer para o adaptar aos seus interesses e, se têm oportunidade, optam por soluções improvisadas e fora de contexto, porque: “Têm que andar para a frente!”
-“Nunca te esqueças, Jacques! Para a frente é sempre na direcção para onde estiveres virado!”
in “Jacques e o seu amo”, Milan Kundera.
Habitualmente não querem discutir “os como e os porquês”. Querem só que se lhes diga o que se vai fazer para o adaptar aos seus interesses e, se têm oportunidade, optam por soluções improvisadas e fora de contexto, porque: “Têm que andar para a frente!”
-“Nunca te esqueças, Jacques! Para a frente é sempre na direcção para onde estiveres virado!”
in “Jacques e o seu amo”, Milan Kundera.
sábado, 9 de fevereiro de 2008
Serendipity
"Serendipity" é o dom para fazer descobertas úteis por sagacidade na interpretação dos acidentes ocasionais.
Muitos acreditam que é esta capacidade a base de muitas das invenções como por exemplo: Penicilina, Pacemaker, Cornflakes, Fotografia, Microondas, Teorema de Arquimedes, Teoria da Gravidade de Isaac Newton, Vacinação, o primeiro anticoncepcional oral, o medicamento Cisplatíneo no tratamento do Cancro, Viagra, Quinino e muitos mais.
Mas se alguém a quer experimentar, tem de estar à procura e estar preparado para ver essa oportunidade
“Serendipity" é andar à procura de qualquer coisa e encontrar algo mais, por ter a sagacidade para ver que o que encontrou serve melhor as suas necessidades que aquilo que inicialmente procurava.
“Serendipity é procurar uma agulha num palheiro e encontrar a filha do fazendeiro” - Julius Comroe Jr.
Muitos acreditam que é esta capacidade a base de muitas das invenções como por exemplo: Penicilina, Pacemaker, Cornflakes, Fotografia, Microondas, Teorema de Arquimedes, Teoria da Gravidade de Isaac Newton, Vacinação, o primeiro anticoncepcional oral, o medicamento Cisplatíneo no tratamento do Cancro, Viagra, Quinino e muitos mais.
Mas se alguém a quer experimentar, tem de estar à procura e estar preparado para ver essa oportunidade
“Serendipity" é andar à procura de qualquer coisa e encontrar algo mais, por ter a sagacidade para ver que o que encontrou serve melhor as suas necessidades que aquilo que inicialmente procurava.
“Serendipity é procurar uma agulha num palheiro e encontrar a filha do fazendeiro” - Julius Comroe Jr.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Vasco Moscoso de Aragão
OS VELHOS MARINHEIROS ou O CAPITÃO DE LONGO CURSO / 1961 Jorge Amado (1912 — 2001)
Sinopse -Vindo ao mundo na cidade da Bahia em 1868 e órfão aos cinco anos, Vasco Moscoso de Aragão foi criado pelo avô materno, o rico comerciante de origem lusa José Moscoso, que o retira da escola com a idade de apenas dez anos e o mete na casa comercial. Todavia, o pupilo não nascera para o comércio, revelando-se infenso a trabalho de qualquer natureza, e, ao morrer o avô, herdou-lhe, como beneficiário único, o vasto patrimônio, inclusive a maior parte do acervo da firma comercial gerida por Rafael Menendez, sócio menor. Passara dos trinta anos quando, rico e solteiro, participa da turma de boémios de alta influência - Georges Dias Nadreau, capitão dos portos, Pedro de Alencar, coronel do Quartel-General do Exército, o tenente Lídio Marinho, ajudante-de-ordens do Governador do Estado, e o parente deste, Dr. Jerónimo de Paiva, candidato a deputado. Uma tristeza, contudo, o atormentava - não possuía título nenhum. Isso, porém, logo sabedores, aqueles gabaritados amigos solucionam: é agraciado com comenda pelo Rei Carlos I de Portugal e diplomado capitão de longo curso pela Capitania dos Portos, portanto, comandante. Com o tempo, a turma dispersa-se e ele, despendendo dinheiro sem cuidar da fonte, resulta alijado da firma e reduzido a precários rendimentos, até que, já encanecido mas sempre fabulando empolgantes aventuras, instala-se em espaçosa residência ornada de apetrechos náuticos no pacato subúrbio de Periperi, reduto de aposentados mas onde o quezilento Chico Pacheco, ex-fiscal do consumo, implica com a notoriedade alcançada pelas mirabolantes histórias do novo morador e aprestava-se para lhe contestar a veracidade das actividades navais quando ocorre a sua convocação, como único capitão de longo curso disponível na Capital baiana, para substituir o falecido comandante de um Ita (barco usado na navegação de cabotagem do Brasil) no prosseguimento da viagem até o extremo Norte. Era um comando puramente nominal e ele se desobriga, com brio e feliz, do cometimento que lhe coroava os sessenta e um anos. Ao aportar em Belém, o Imediato, por troça, indaga-lhe quantas as amarras a atracar - ele responde, todas. E assim foi feito: o navio é jungido ao cais com quanto liame a equipagem dispunha - para surpresa, gáudio e chacotas gerais na zona portuária. De crista caída, ele trata de escafeder-se, mas a noite traz a maior tempestade que jamais fustigara Belém, em cujo cais somente resistiu, incólume, o enleado Ita. Alvo das mais lisonjeiras homenagens por ter sabido precaver sua embarcação, retorna ele a Periperi onde envelhece em boa paz até falecer, em 1950, aos oitenta e dois anos. Fonte: Fundação Casa de Jorge Amado
Este livro deu-me um símbolo que me doi ver disperso por este Portugal
Sinopse -Vindo ao mundo na cidade da Bahia em 1868 e órfão aos cinco anos, Vasco Moscoso de Aragão foi criado pelo avô materno, o rico comerciante de origem lusa José Moscoso, que o retira da escola com a idade de apenas dez anos e o mete na casa comercial. Todavia, o pupilo não nascera para o comércio, revelando-se infenso a trabalho de qualquer natureza, e, ao morrer o avô, herdou-lhe, como beneficiário único, o vasto patrimônio, inclusive a maior parte do acervo da firma comercial gerida por Rafael Menendez, sócio menor. Passara dos trinta anos quando, rico e solteiro, participa da turma de boémios de alta influência - Georges Dias Nadreau, capitão dos portos, Pedro de Alencar, coronel do Quartel-General do Exército, o tenente Lídio Marinho, ajudante-de-ordens do Governador do Estado, e o parente deste, Dr. Jerónimo de Paiva, candidato a deputado. Uma tristeza, contudo, o atormentava - não possuía título nenhum. Isso, porém, logo sabedores, aqueles gabaritados amigos solucionam: é agraciado com comenda pelo Rei Carlos I de Portugal e diplomado capitão de longo curso pela Capitania dos Portos, portanto, comandante. Com o tempo, a turma dispersa-se e ele, despendendo dinheiro sem cuidar da fonte, resulta alijado da firma e reduzido a precários rendimentos, até que, já encanecido mas sempre fabulando empolgantes aventuras, instala-se em espaçosa residência ornada de apetrechos náuticos no pacato subúrbio de Periperi, reduto de aposentados mas onde o quezilento Chico Pacheco, ex-fiscal do consumo, implica com a notoriedade alcançada pelas mirabolantes histórias do novo morador e aprestava-se para lhe contestar a veracidade das actividades navais quando ocorre a sua convocação, como único capitão de longo curso disponível na Capital baiana, para substituir o falecido comandante de um Ita (barco usado na navegação de cabotagem do Brasil) no prosseguimento da viagem até o extremo Norte. Era um comando puramente nominal e ele se desobriga, com brio e feliz, do cometimento que lhe coroava os sessenta e um anos. Ao aportar em Belém, o Imediato, por troça, indaga-lhe quantas as amarras a atracar - ele responde, todas. E assim foi feito: o navio é jungido ao cais com quanto liame a equipagem dispunha - para surpresa, gáudio e chacotas gerais na zona portuária. De crista caída, ele trata de escafeder-se, mas a noite traz a maior tempestade que jamais fustigara Belém, em cujo cais somente resistiu, incólume, o enleado Ita. Alvo das mais lisonjeiras homenagens por ter sabido precaver sua embarcação, retorna ele a Periperi onde envelhece em boa paz até falecer, em 1950, aos oitenta e dois anos. Fonte: Fundação Casa de Jorge Amado
Este livro deu-me um símbolo que me doi ver disperso por este Portugal
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Só se quer ser senhor do futuro para poder mudar o passado
... Mirek reescreve a História exactamente como o Partido Comunista, como todos os partidos políticos, como todos os povos, como o homem. Proclamam que se quer construir um futuro melhor, mas não é verdade. O futuro é só um vazio indiferente que não interessa ninguém, mas o passado está cheio de vida e o seu rosto irrita, revolta, fere, a ponto de o querermos destruir e voltar a pintar. Só se quer ser senhor do futuro para poder mudar o passado. Luta-se para se ter acesso aos Laboratórios em que é possível retocar as fotografias e reescrever as biografias e a História.
in “O livro do riso e do esquecimento” de Milan Kundera.
Quando li este livro, há ~15 anos, sublinhei esta frase onde leio a amargura de quem está ferido por anos de estagnação.
Milan Kundera (1929 - ) Brno, Checoslováquia. Em 1968 pôs em causa a invasão soviética - Primavera de Praga. Em 1975 exila-se em França e em 1979 escreve este livro
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Abre-te Sésamo
Não sei o que és.
Um semáforo?
Uma peneira?
Um terror?
Uma asneira?
Um corpo de carne?
Uma pedra falante?
Uma cortina?
Um biombo?
Um altifalante?
Um sorriso?
Um amigo?
Um encontro?
Um engano?
Uma pessoa vestida
por baixo de um pano?
Uma flor ou um cacto?
Um milhafre ou uma rez?
Um peixe ou a Lua
Ou cada um à vez?
Abre-te Sésamo
Se os teus olhos forem bons, será bom aquilo que tu vês.
Talvez quem mo tenha dito do melhor modo, tenha sido Rodrigues Lobo (1579-1621) neste soneto.
Fermoso Tejo meu, quão diferente
Te vejo e vi, me vês agora e viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.
A ti foi-te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-me a vista em que consiste
O meu viver contente ou descontente!
Já que somos no mal participantes,
Sejamo-lo no bem. Oh, quem me dera
Que fôramos em tudo semelhantes!
Mas lá virá a fresca Primavera:
Tu tornarás a ser quem eras dantes,
Eu não sei se serei quem dantes era.
Francisco Rodrigues Lobo (cristão-novo), discípulo de Camões. Morreu afogado numa viagem de barco entre Santarém e Lisboa. Tem uma Praça com estátua em Leiria e dá nome ao Liceu da cidade.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
Criar dificuldades para vender facilidades
Criar dificuldades para vender facilidades, é a força dos "pequenos".
Este estar embora frequente tem dimensão pouco notória, por envolver pequenas quantias e ocupar tempo limitado.
Mas "os pequenos" nem sempre assim se mantêm e quando passam a "grandes", levam consigo essa pequenês.
Então os problemas deixam de ter a dimensão anterior e passam a ter nomes como corrupção, nepotismo, tráfico de influência, extorsão, etc… e os desatentos só dão por isso quando a evidência é total.
Este estar embora frequente tem dimensão pouco notória, por envolver pequenas quantias e ocupar tempo limitado.
Mas "os pequenos" nem sempre assim se mantêm e quando passam a "grandes", levam consigo essa pequenês.
Então os problemas deixam de ter a dimensão anterior e passam a ter nomes como corrupção, nepotismo, tráfico de influência, extorsão, etc… e os desatentos só dão por isso quando a evidência é total.
Mas nessa altura eles estão tão ancorados que as provas se tornam difíceis.
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Could we start again please?
Maria Madalena
I've been living to see you.
Dying to see you, but it shouldn't be like this.
This was unexpected,
What do I do now?
Could we start again please?
I've been very hopeful, so far.
Now for the first time,
I think we're going wrong.
Hurry up and tell me,
This is just a dream.
Oh could we start again please?
Pedro
I think you've made your point now.
You've even gone a bit too far to get the message home.
Before it gets too frightening,
We ought to call a halt,
So could we start again please
Da Ópera "Jesus Christ Superstar" de Andrew Lloyd Weber / Tim Rice - 1970, que dramatiza a última semana da vida de Jesus.
Nesta música Maria Madalena e os apóstolos lembram quando tudo começou e desejam apenas que pudessem começar tudo de novo sem cometer os erros da primeira vez.
Eu entendi a derrocada de um projecto fora de controle por populismo e fraca liderança.
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Quem põe o guizo ao gato?
Os ratos queriam defender-se do gato. Reuniram-se debaixo da mesa da cozinha e conferenciaram. Os velhos e sabidos ratos não tinham solução; mas um jovem ratinho exclamou, com grande descaramento: “Isso é extremamente fácil! Nós devemos pendurar um guizo ao gato. Desse modo, ele soará sempre que o gato se aproxime e nós poderemos esconder-nos. Os ratos regozijaram-se com este bom conselho e puseram-se a dançar com grande alegria.
No canto, junto ao armário da cozinha, estava a coleira de um cão. Nela havia alguns pequenos guizos. Rapidamente, os ratos roeram a coleira e destacaram um guizo que entregaram ao ratinho que tinha dado o bom conselho. Ele devia, agora, pendurar este guizo ao gato. Mas para tal, não demonstrou o ratinho a mínima vontade. Ele tinha muito amor à vida. Também os outros ratos não tiveram coragem. Eles só queriam estar longe a observar como os seus irmãos e irmãs eram comidos pelo gato.
Há gente sempre pronta a concordar rapidamente com os “bons conselhos”. Mas poucos passam dos conselhos aos actos. A tais sábios conselheiros, diz-se, frequentemente, na Alemanha:
“Meu caro Amigo! O que tu dizes é muito lindo e bom! Mas quem é que pendura o guizo ao gato?”
No canto, junto ao armário da cozinha, estava a coleira de um cão. Nela havia alguns pequenos guizos. Rapidamente, os ratos roeram a coleira e destacaram um guizo que entregaram ao ratinho que tinha dado o bom conselho. Ele devia, agora, pendurar este guizo ao gato. Mas para tal, não demonstrou o ratinho a mínima vontade. Ele tinha muito amor à vida. Também os outros ratos não tiveram coragem. Eles só queriam estar longe a observar como os seus irmãos e irmãs eram comidos pelo gato.
Há gente sempre pronta a concordar rapidamente com os “bons conselhos”. Mas poucos passam dos conselhos aos actos. A tais sábios conselheiros, diz-se, frequentemente, na Alemanha:
“Meu caro Amigo! O que tu dizes é muito lindo e bom! Mas quem é que pendura o guizo ao gato?”
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Adiar
Um dia, um bom rural de Bragança, tinha uma questão onde o Bispo da região era chamado a intervir.
A decisão tardava, pelo que o homem ia muito respeitosamente todas as semanas perguntar por ela. A demora intolerável diluíu o temor pela figura majestática do Bispo e o paisano pediu-lhe uma audiência.
No dia aprazado, depois de ter cumprido as muitas formalidades, foi recebido e, no calor da muita necessidade, interpelou-o: " Com esta é a 5ªvez que aqui venho, e o Sr. Bispo nunca decide nada, passa a vida a adiar, a adiar....!"
Ao que o clérigo terá respondido, com ar seráfico: Meu filho! Adiar também é decidir e eu ... decidi adiar!
Não sei o que se passava, mas tudo tem um tempo!
A decisão tardava, pelo que o homem ia muito respeitosamente todas as semanas perguntar por ela. A demora intolerável diluíu o temor pela figura majestática do Bispo e o paisano pediu-lhe uma audiência.
No dia aprazado, depois de ter cumprido as muitas formalidades, foi recebido e, no calor da muita necessidade, interpelou-o: " Com esta é a 5ªvez que aqui venho, e o Sr. Bispo nunca decide nada, passa a vida a adiar, a adiar....!"
Ao que o clérigo terá respondido, com ar seráfico: Meu filho! Adiar também é decidir e eu ... decidi adiar!
Não sei o que se passava, mas tudo tem um tempo!