segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Dança


“Há uma profunda sensação de bem-estar, uma estranha sensação de alargamento pessoal, uma espécie de inchar, de se tornar maior do que o mundo, graças à participação num ritual colectivo. As palavras são inadequadas para descrever as emoções suscitadas pelo movimento prolongado e em sintonia”.
A maioria de nós, hoje em dia, pensa que dançar é um ritual de acasalamento realizado por pares, ou algo que pagamos para ver profissionais realizarem no palco, mas a maior parte da dança ao longo da história tem sido um assunto de grupo. Desde o treino militar até às danças de êxtase religioso, às danças comunitárias das aldeias em ocasiões festivas e às danças tribais de povos indígenas por todo o mundo, há grupos de pessoas que se reúnem para movimentar os corpos em uníssono, por vezes durante tanto tempo que caem de exaustão ou entram num estado semelhante ao transe. O efeito em todos os casos é criar uma sensação de unidade entre os membros do grupo que dançam juntos. Quando dançam sentem que são um e podem manifestar o seu apreço comum.

Maurice de Saxe, marechal de França que viveu no século XVIII, compreendeu a natureza instintiva da dança sem precisar de a estudar cientificamente: “Façam-nos marchar em cadência. Todo o segredo, é o passo militar dos Romanos.
O poder visceral da dança tornou possível formar exércitos com pessoas que não tinham qualquer razão objectiva para combater. Pelo simples facto de marcharem ao ritmo e devido a outras actividades comuns, ficaram emocionalmente ligadas umas às outras. (…) O seu “eu” transforma-se em “nós”, o “meu” converte-se em “nosso” e o destino individual perde a sua importância central (…) Penso que isto é nada mais nada menos do que a garantia da imortalidade que torna o auto-sacrifício relativamente fácil nesses momentos (…) Posso cair mas não morro , pois isso que é real em mim continua a viver nos camaradas pelos quais dei a vida.”

Nas culturas tradicionais é raro a música assumir a forma de jovens a pavonearem-se à frente das mulheres.
Aos níveis afectivos e motivacionais, a música é um tipo de estimulante emotivo e, na medida em que faz parte da experiência de um grupo durante eventos rituais, essa estimulação promove a sincronização da emoção, da motivação e da acção desse memo grupo.

In “A Evolução para Todos” de David Sloan Wilson

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