segunda-feira, 1 de março de 2010

Ainda



















Quando o conheci era já um homem limitado pela incapacidade visual que o atirava mais para os títulos que para os conteúdos, mas mesmo assim foi deputado da Nação, daqueles que entra mudo e sai calado, em três anos de mandato. Falava-se dele mais pelas histórias de quando esbracejara para ocupar o lugar a que se entendia merecedor, do que pela sua actividade científica.
A história que me lembrou agora, tem a ver com a sua parca actividade clínica nos idos anos 70, quando os Electrocardiogramas eram o maná dos cardiologistas e Trás-os-Montes a coutada de alguns deles.
Em parceria com outro, tinha montado o circuito. Uma vez por semana, passava a recolher os traçados que alguém havia feito, e distribuir os já relatados pelas diferentes "estações", de Penafiel a Bragança.
Nessa altura um ECG era coisa de cardiologista, e a sua leitura no sossego do lar, um complemento ao vencimento.
O que me fazia espécie eram os seus relatórios quando tudo estava bem. É que ele não escrevia: Electrocardiograma Normal. Ele escrevia: Electrocardiograma ainda normal, deixando os incautos na expectativa do “até quando”.

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