quarta-feira, 25 de maio de 2011

Emigrante












- E tem filhos dona Maria da Hora?
- Tenho dois que estão em França. No 77, em Brie-Comte-Robert. Casaram lá. O mais velho com uma francesa e o outro com uma espanhola. Só um dos meus netos é que fala português, e mal. Mas percebe tudo! Voltei com o meu marido há 4 anos, depois de nos reformarmos, mas já estou arrependida! Vivíamos numa casa alugada e aqui tínhamos uma moradia. Os irmãos dele, que tinham regressado, estavam sempre a puxá-lo para cá, e viemos. Eles são onze. Os mais novos ainda lá estão. Se estivessem todos vivos, com os abortos e os que morreram, eram vinte e três. Trabalharam na construção civil. Eu trabalhei numa fábrica de sofás, noutra a fazer caixas para televisões e por fim numa de material médico. Todas a dez minutos, a pé, de minha casa!
O que é que eu ficava lá a fazer? A sogra do meu mais novo, vive com eles e os meus netos não percebem o nosso viver!
- Vocês estão todos em fim de vida. O seu marido também está doente e um dos seus cunhados está internado no piso de cima. Os mais novos estão todos em França e pelos jeitos, já não voltam. Daqui a uns anos está cada um no seu Lar!
- Nem me diga isso! Eu fui para França aos vinte e sete anos, trabalhei lá trinta e sete, e agora ainda gostava de gozar um pouco a vida!
- Eu também não disse que vai morrer breve. O que disse é que, na sua idade, é bom ter um familiar novo por perto. Sabe, as coisas acontecem e não são só as doenças que são dificuldades!

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